A EPIDEMIA DAS BETs

 

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CLAUDEMIR GOMES



O faturamento estratosférico das bets mereceu destaque nos últimos

dias, em alguns jornais brasileiros. Mas a maioria, por razões comerciais óbvias, mergulha no silêncio dos inocentes. A ordem é surfar na onda do negócio mais lucrativo do País na atualidade: apostas on-line.

Segundo dados publicados pela Folha de São Paulo, no mês de agosto foram gastos 21 bilhões em bets, via Pix. O fato se torna mais assustador quando observamos que, desse montante, R$ 3 bilhões partiram de beneficiários do Bolsa Família. As bets provocam um barulho ensurdecedor, mas uma casta poderosa consegue dormir o sono dos “justos”, na certeza de que, no dia seguinte mergulhará em novos bilhões que caíram em suas contas. São os “Tios Patinhas” da nova era.

Saudade do silêncio das botijas! Na minha infância, vez por outra ouvia dos mais velhos estórias sobre botijas. E algumas pessoas rezavam, pedindo para sonhar com uma botija. Era a única forma de enricar sem fazer força. Nunca tive o conhecimento de algum cidadão que houvesse desenterrado um “tesouro” que fora enterrado por algum rico da época.

Depois surgiu o Jogo do Bicho. E cinco entre dez brasileiros faziam uma “fezinha” diária. Os bicheiros dominaram as grandes cidades explorando essa mania nacional, tão popular quanto o futebol. Recordo que, quando cheguei para trabalhar no Diario de Pernambuco, na década de 70 do século passado, dois cidadãos – Heitor e Madruga – transitavam livremente pela Redação, passando bicho. Adonias, Lúcio Costa, Zé Maria, Francisco Silva...um monte de jornalistas fazia uma “fezinha” diária. Amaury Veloso arriscava em tantos números que seu jogo ocupava mais de uma folha do talão. Vez por outra um sortudo arrebentava a boca do balão.

De repente, surge a Loteria Esportiva. Um jogo inteligente que utilizava o futebol, o esporte mais popular do País, como força motriz. Nas noites dos domingos, a audiência do programa de Flávio Cavalcanti pipocava. Todos queriam conferir os resultados da Loteria Esportiva. O Governo Federal resolveu ampliar o seu “cassino” e criou um montão de jogos. Todos com a chancela da Caixa.

O brasileiro, que dorme e acorda sonhando com a sorte grande, passou a dar expediente nas casas lotéricas. Filas quilométricas, jogos milionários e sonhos mil para se tornar um novo rico na passagem do ano. Chegamos na era digital. Esse negócio de ir a uma banca, a uma casa lotérica fazer uma fezinha é coisa do passado. Considerando que, a maioria dos brasileiros tem um smartphone, um desses gênios da nova era criou o jogo on-line. Assim nasceram as bets. Tal como aconteceu com a Loteria Esportiva, o futebol foi usado como a maior ferramenta de difusão das casas de apostas que estão dentro da nossa casa. E agora temos o Brasileirão Betanos; a Libertadores é bancada por uma bet; os heróis do Penta – Rivaldo e Ronaldo – instigam o torcedor brasileiro a fazer uma fezinha na bet, e por aí vai, como diz o mestre Lenivaldo Aragão.

Domingo passado, no jogo entre Grêmio e Flamengo, observei que, no painel que fica por trás dos jogadores que são entrevistados, a maioria dos patrocinadores é bet. No jogo Paysandu x Sport o domínio das bets era flagrante. O mundo bet é uma doideira!

Internet e redes sociais são territórios onde regras não são respeitadas. Eis a razão pela qual é mais fácil encontrar uma botija do que conter essa epidemia financeira provocada pelas bets. Bom! Acho melhor ligar para o amigo Zuca Show para saber qual foi o bicho do primeiro prêmio.        

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