: Quinteto cedido pelo Náutico em 1967 para ajudar o Bahia a se sagrar campeão baiano: Gilson Costa, Toinho, João Adolfo, China e Breno. |
O goleiro do Náutico que foi boi de piranha
(Texto atualizado às 14h58 de 08-09-2024)
Depois de fazer
sucesso na Taça Brasil, em 1966 e 1967, o Náutico foi convidado a participar do
antigo Torneio Rio-São Paulo, chamado de Roberto Gomes Pedrosa e apelidado de
Robertão, isso em 1968. No ano anterior tinham sido 15 clubes em ação, de cinco
Estados, os originários Rio de Janeiro e São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas
Gerais e Paraná. Agora entravam Pernambuco (Náutico) e Bahia. Era o protótipo
do Campeonato Brasileiro, que só passou a ter essa denominação em 1971.
A
estreia do Náutico foi em 28 de agosto de 1968, numa quarta-feira, à tarde,
contra o Palmeiras, no Parque Antártica. Calouro, o então campeão pernambucano
era pouco conhecido. Parte da mídia o tratava como Náutico Capibaribe.
Receoso
de levar uma goleada, embora o adversário já fosse conhecido e o Timbu já o tivesse
botado na roda, o técnico Duque achava que o goleiro que entrasse poderia ser
queimado, em caso de goleada. Lula Monstrinho tinha sido vendido ao Corinthians.
Havia se despedido em 31 de março, numa vitória por 5 x 0 sobre o Ferroviário
pelo Campeonato Pernambucano. A partir dali, Valter, Aloísio Linhares e João
Adolfo vinham se revezando. Duque concluiu que, se era para correr o risco
de sacrificar alguém, que a “vítima”
fosse o mais novo, que teria toda uma vida
pela frente para se recuperar, mesmo que ficasse algum tempo escanteado.
João
Adolfo era bem mais jovem que os dois, mas já perdia em idade para os dois mas
já tinha alguma coisa no balaio. Tinha subido do juvenil e vinha entrando num
jogo ou noutro, principalmente nos amistosos para pegar experiência. Tinha
participado do estadual de 1967, o ano do Penta, mas como segundo reserva.
Em
1967, o goleiro prata da casa tinha sido campeão duplamente, pelo Náutico e
pelo Bahia. Os estaduais eram realizados em datas diferentes, dependendo das
conveniências de cada federação. Naquele ano, após o título pelo Alvirrubro,
João foi ajudar o Bahia, a levantar a taça na Boa Terra, juntamente com mais
quatro jogadores, como ele, emprestados pelo então tetracampeão da Terra dos
Altos Coqueiros ao tricolor baiano: Breno (lateral-direito), Toinho
(lateral-esquerdo), Gilson Costa (quarto-zagueiro) e China (centroavante).
Voltemos
ao encontro Palmeiras x Náutico. Naquele dia, o Timbu entrou em campo com esta
formação: João Adolfo, Gena, Ivan Limeira, Nilton dos Santos e Toinho; Jardel,
Rato e Nilsinho; Ramos, Nino e Lala. A tal chuva de gols esperada não
aconteceu. João Adolfo pegou tudo. Ou quase tudo. Só sofreu um gol, que levou o
Porco a vencer o jogo por 1 x 0. Gol marcado pelo argentino Artime, em
impedimento. O árbitro, o pernambucano Sebastião Rufino, não marcou porque o
bandeirinha, local, não assinalou.
O Jornal da
Tarde, um efervescente vespertino d’O Estado de S. Paulo, o Estadão, ocupou
meia página na abertura de seu caderno de Esportes, com uma foto mostrando o
palmeirense bastante adiantado, portanto, em posição ilegal, no momento em que
a bola lhe foi lançada.
As defesas de
João Adolfo foram mencionadas pela revista Veja, que estava começando, e fez
uma reportagem focalizando as caras novas que o Robertão começava a mostrar.
E
agora, como tirá-lo do time sem nenhuma
justificava?, certamente refletiu Duque. Só depois dos jogos contra
Corinthians (0 x 1), em casa, e quatro fora, seguidamente, – Internacional (1 x
1), Grêmio (0 x 0), Cruzeiro (0 x 3) e Atlético Mineiro (1 x 2) – é que o jovem goleiro saiu do time, dando o
lugar a Valter. O Ceguinho, como era maldosamente apelidado, de cara, levou
quatro do Botafogo, em General Severiano (2 x 4). Moral da história: nem João
Adolfo foi queimado, e torcida e imprensa passaram a valorizá-lo, nem os outros
perderam o prestígio.
Recifense,
irmão do defensor Clóvis (Santa Cruz, Palmeiras e Náutico), nascido e criado na
Rua 24 de Junho, perpendicular à Estrada de Belém, situada no trecho
Encruzilhada - Campo Grande, João Adolfo, depois das idas e vindas a que o
futebol o levou, ainda mora na mesma casa, gozando da amizade e da admiração
dos vizinhos.
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