DIRCEU PAIVA / SANTA CRUZ

 

Dirceu (E) na Sala de Memória que leva seu nome, com Ezequias Pierre, um de seus colaboradores (Foto: Arquivo do Blog)


DEDICAÇÃO À SALA DE MEMÓRIA



(O texto a seguir consta do volume 2 da trilogia “Santa Cruz de Corpo e Alma-1914-2014 / 100 Anos”, publicada em 2015, sob a coordenação de João Caixeiro de Vasconcelos. O personagem deste capítulo acaba de nos deixar aos 93 anos de idade)

 

 

Quem não já passou pela sede do Santa Cruz e não parou para admirar a bela Sala de Memória Dirceu Paiva, inaugurada pelo clube em 1993? Não foi à toa que Dirceu de Araújo Paiva, pernambucano nascido em São Lourenço da Mata, foi homenageado por João Caixero de Vasconcelos, emprestando seu nome àquele templo que guarda toda a história do Mais Querido, desde sua fundação. “Ela não é simplesmente uma sala de memória, mas uma sala de história”, afirma Dirceu. Entre peças curiosas guardadas com muito zelo, está uma bola de futebol inglesa, de 1918, e os troféus conquistados pelos remadores do Santa, campeões pernambucanos na categoria oito-com, em 1922 e 1923.

Com muito esmero e paciência, Dirceu organizou e catalogou todos os passos dados pelo clube, até o momento, no futebol brasileiro. Tricolor de corpo e alma, como faz questão de frisar, ele acompanha a trajetória do clube desde a infância, mas, como funcionário da Rede Ferroviária Federal, passou algum tempo dedicando-se ao Ferroviário, clube da empresa. Em 74, porém, sua paixão pelo Tricolor falou mais alto e ele acabou atendendo o convite de Petrus Menezes (diretor social do clube) para colaborar na diretoria do Santa Cruz.

Nesse período, ele só se afastou do Arruda por questões profissionais, de 86 a 91, quando residiu no Rio de Janeiro, onde trabalhou numa das diretorias da Rede Ferroviária. Mesmo assim, não costumava perder os jogos do Santa Cruz. Ligava para sua esposa, dona Beteta, e pedia para que ela colocasse o rádio próximo ao telefone, a fim de que ele, lá no Rio, ouvisse as partidas do Mais Querido. “Vez por outra, eu ainda dava uma escapada e vinha ao Recife assistir aos jogos do Santa”, comenta.

Quando voltou para o Recife, Dirceu foi eleito vogal da Comissão Patrimonial, atendendo convite de João Caixero (diretor financeiro). Ao seu lado participou da reorganização daquele setor e do projeto da Sala de Memória. Outros desafios surgiram pela frente, como o trabalho de preparar o Estádio José do Rego Maciel para os jogos da Seleção Brasileira contra a Bolívia, em 93, Argentina, em 94, e Polônia, em 95.

Humilde, Dirceu reconhece que a criação da Sala de Memória não foi apenas obra sua. “Participaram todos os presidentes e diretores do clube, que guardaram com bastante zelo os troféus conquistados pela equipe desde a sua fundação”, enfatiza. Ele lembra que durante um longo período de sua existência, o Santa Cruz não teve sede própria e mudava constantemente de endereço, pois, devido aos problemas financeiros enfrentados pela diretoria para saldar os débitos com aluguel, a agremiação vez por outra era convidada a mudar de instalações. “Nesse período, foi importantíssimo que as pessoas que comandavam o clube tivessem se preocupado em guardar o acervo, como Aristófanes de Andrade, pois tudo o que se elogiar desse homem ainda é pouco pelo que ele fez pelo Santa Cruz”.

Como apaixonado pelo Tricolor, Dirceu diz que sua maior alegria foi a conquista do supercampeonato de 1957, mas o momento de maior emoção foi marcado pelo gol de Célio na decisão contra o Náutico, em 93. “O Santa Cruz jogava com um homem a menos e o adversário só precisava do empate para conquistar o título. A sete minutos do final, empatamos, com o gol de Fernando e, no minuto final, Célio fez o gol da vitória. Ou seja, tínhamos tudo para perder, mas ganhamos”.

Dos jogadores que passaram pelo clube, ele lembra com saudade o goleiro Birigui, na sua opinião, responsável direto por dois títulos do Santa Cruz, em 86 e 87, quando com defesas espetaculares, parou o time do Sport nas duas decisões do campeonato estadual.

Atualmente, Dirceu tem ido ao Santa Cruz pela manhã, pois dedica uma parte do dia ao seu filho Edmilson, vítima de uma agressão por parte de torcedores do Sport nas cadeiras cativas do Arruda, num clássico realizado entre as duas equipes em junho de 1996. Depois de agredido, ele levou uma queda e bateu com a cabeça num degrau de cimento, sofrendo fratura e traumatismo craniano. “Isso tem me privado de participar mais ativamente da vida do clube”.

 

 

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