![]() |
Aldemar encantou o povão tricolor (Foto: Arquivo Coral) |
Aldemar, o Príncipe, classe dentro e fora do gramado
LENIVALDO ARAGÃO
Neste 3 de fevereiro de 2025 em que o
Santa Cruz festeja o 111º aniversário de sua fundação, homenageamos as Repúblicas
Independentes do Arruda, lembrando um dos maiores ídolos de toda a história do Mais
Querido. Leia:
Em
1954 chegaram ao Recife para reforçar o Santa Cruz, disputando a posição de
centromédio, equivalente ao quarto-zagueiro de algum tempo atrás, o catarinense
Calico, contratado ao Botafogo, e o carioca Aldemar, egresso do aspirante do
Vasco.
O cartaz era Calico, pois Aldemar vinha
como um mero desconhecido. Na realidade, estava encostado no Vasco, depois de ter
se curado de uma tuberculose. Era, portanto, um contrapeso.
Poucos seriam capazes de prever que em
pouco tempo aquele moço alto e magro, que por isso terminou recebendo o apelido
de Garrafa, se transformaria no expoente da linha média do tricolor
pernambucano, para, em 1957, tornar-se o grande ídolo da massa coral.
Inicialmente jogou de volante ao lado de Calico, como nesta formação com que o
Santa Cruz perdeu para o Náutico por 2 x 0, gols de Ivson, em 14/11/1954:
Milton; Arlindo e Lucas; Aldemar, Calico e Fagundes; Geraldo, Jaime, Paraíba,
Mituca e Hélio.
O PRÍNCIPE DO ARRUDA
Logo, Calico foi engolido, passando
Aldemar a ocupar a posição do ex-vascaíno, como ele. Por sua vez, o ‘garoto’
Zequinha, saído do juvenil, assumia o posto de médio-volante.
Pelo espírito de liderança, Aldemar recebeu
o posto de capitão do time. Esbanjava categoria. Na época ficaram famosos os
duelos que travava com Naninho, um gaúcho goleador, do Sport. Geralmente, a
vantagem era do craque do Santa, apelidado de O Príncipe, por causa da finura
com que tratava a bola.
Fora de campo, conseguia o aparentemente
impossível naquela época: ser aceito nas melhores rodas sociais do Recife. Boa
pinta, era sempre visto trajando paletó e gravata, figurando na lista dos dez
mais elegantes elaborada pelos cronistas sociais no fim do ano.
A RESPOSTA DO FOLIÃO
No carnaval de 1958, Aldemar esbaldou-se,
brincando a valer na sede do Clube Náutico Capibaribe, sem ligar para o fato de
pouco tempo depois ter de enfrentar o Timbu no primeiro supercampeonato pernambucano
da história, o de 1957, que havia passado de um ano para outro. O craque divertiu-se
nos quatro bailes realizados pelo Alvirrubro, numa época em que a parte social
do Santa não era atraente. Ao seu lado, o ponta-direita Lanzoninho.
Isso não impediu que os dois dessem uma
forte contribuição para a vitória do Tricolor sobre o Alvirrubro, quando os
dois times se encontraram em jogo único, pelo supercampeonato, em 09/03/1958,
nos Aflitos. O Santa derrotou o Náutico, no campo do adversário, por 3 a 1, com
Lanzoninho marcando os três gols da Cobra Coral (Edmur fez o do Timbu) e
Aldemar botando no bolso o cearense Mozart, meia-direita goleador, que logo teve
seu passe adquirido pelo Fluminense.
O capitão Aldemar foi um dos jogadores
mais importantes na conquista do primeiro supercampeonato do Santinha.
Na decisão com o Sport, na Ilha do Retiro,
quando a equipe do Arruda, dirigida pelo argentino Alfredo Gonzalez, só
precisava empatar e venceu por 3 x 2, o centromédio, de pênalti, marcou um dos
gols do time do povo – os outros foram do centroavante Rudimar e do meia
armador Mituca.
O time supercampeão foi Aníbal; Diogo e
Sidney; Zequinha, Aldemar e Edinho; Lanzoninho, Faustino, Rudimar, Mituca e
Jorginho.
![]() |
Santa, supercampeão de 1957. Em pé, Sidney, Diogo, Aníbal, Aldemar, Edinho e Zequinha; |
DE VOLTA AO SUDESTE
A fama do Príncipe espalhou-se, e o Santa Cruz não suportou o assédio do Palmeiras, que o levou para o Parque Antártica. Em São Paulo também desfrutou de muito prestígio, jogando ao lado de Zequinha, que fora seu companheiro no Santa. Durante algum tempo foi considerado, ao lado de Vicente, do Benfica e da Seleção Portuguesa, um dos maiores marcadores de Pelé, o maior jogador do mundo, na técnica e em pancada. Com sua classe chegou à Seleção Brasileira, tendo defendido ainda o América mineiro e o Guarani, onde encerrou a carreira em 1966.
Além de campeão do Torneio
Pernambuco-Bahia, em 1956, e do supercampeonato de 1957, ambos pelo Santa Cruz,
Aldemar foi campeão paulista em 1959 (supercampeão) e 1963, e da Taça Brasil de
1960, pelo Palmeiras, e campeão da Taça do Atlântico e da Copa Rocca, pela
Seleção Brasileira, em 1960.
SEM MANTO E SEM POMPA
Um ‘príncipe’, já despojado de toda a
pompa foi descoberto certa vez no Recife, sem eira e nem beira, num salão de
sinuca existente na Praça Maciel Pinheiro ao lado do antigo Hotel São Domingos,
onde se hospedavam delegações de futebol e artistas do rádio e da tevê.
Escondia-se da imprensa e dos velhos companheiros.
Dono de uma casa de cômodos ali
pertinho, na Rua do Aragão, o ex-lateral-esquerdo Mourão (América, Sport,
Santos, Grêmio e Newells Old Boys, da Argentina), deu-lhe guarida. Foi feita
uma coleta para que pudesse regressar dignamente ao convívio de seus pais, no
Rio, pois sua mulher o havia abandonado.
Para surpresa geral, dias depois ele
aparecia novamente ‘asilando’ no mesmo salão de sinuca, sem um tostão no bolso.
Dessa vez, os amigos em vez de lhe darem o dinheiro, compraram uma passagem e
colocaram-no dentro do ônibus.
Algum tempo depois chegava ao Recife a notícia,
que não era verdadeira, de que ele morrera atropelado no Rio de Janeiro.
Todavia, segundo o site Milton Neves, Aldemar faleceu na casa de seus pais em
Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, em 20 de agosto de 1977. Dona Alice, sua
mãe, foi acordá-lo pela manhã e ele já estava morto. O ex-ídolo tricolor deixou
três filhos (Carlos Antonio, Sergio e Ricardo).
Comentários
Postar um comentário