A vingança do atacante driblador foi um gol contra
História contada pelo saudoso
Paulo Montezuma, ex-peladeiro, ex-remador e ex-basquetista. Paulo Oião, como
era conhecido aquele desportista muito bem relacionado, já fez a última viagem,
tendo deixado relatados alguns “causos” vividos ou presenciados por ele.
Menino ainda, jogava no
segundo quadro (a denominação era esta mesma) do Yucatan, um time muito
respeitado no bairro recifense de Santo Amaro. Por ser ruim de fazer dó, Oião era
sempre escalado na ponta esquerda, para onde iam e continuam indo as pernas de
pau em qualquer jogo de rua, se ainda existir. Para pegar na bola só em cobrança
de lateral ou botando a pelota no grande círculo na saída de jogo. Ruindade à
parte no manejo com a “criança”, como secretário do Yucatan e amigo do dono do
time, conhecido por Siduca, arrumava sempre um lugarzinho na equipe secundária.
O Yucatan levava muito a sério as peladas de que participava.
Siduca, o poderoso chefão, era
filho de uma viúva que tinha uma loja de fazenda defronte o Cemitério dos
Ingleses. A maioria dos jogadores fazia parte da turma da Rua do Lima e o
restante era recrutado lá mesmo, em Santo Amaro.
Siduca pagava para os mais
pobres jogarem. O pagamento era chamado de “dinheiro do banho”, o suficiente
para pagarem um banho após o jogo e matarem a sede e a fome com uma gelada –
era como se chamava suco ou refresco – acompanhada de pão doce. Ainda sobrava
uma coisinha, o suficiente para o ingresso da segunda classe do Cine Santo
Amaro, que eles frequentavam.
O Yucatan jogava de camisa amarela,
antes mesmo de a Seleção Brasileira ter adotado a cor tão característica do
nosso Brasil, que estão absurdamente mudar para vermelho.
Entre os jogadores titulares
destacava-se Boleiro, que vez por outra participava de lances inacreditáveis.
Todavia, o apelido nada tinha a ver com sua habilidade. Boleiro era um
tradicional vendedor de bolinhos. Balançando uma sineta, passava os dias
anunciando e vendendo seu produto pelas ruas, somente parando na hora de entrar
em campo. Era o rei do drible. Driblava para frente e para trás até perder a
bola ou quando era derrubado. Com seu estilo empolgava a torcida e era
comparado, com exagero e tudo, a Julinho, notável ponta-direita da Seleção – Garrincha ainda estava
no início da estrada.
Um dia reclamaram do fato de
Boleiro ficar com a bola pra cá e pra lá sem passar a ninguém. O sangue subiu
pela cabeça do malabarista do Yucatan. Quando ele teve oportunidade, saiu carregando
a redonda, mas em direção à sua defesa, deixando todo o mundo perplexo. Terminou
fazendo um gol contra.
Foi dessa maneira que se
vingou da reclamação dos companheiros, que nunca mais deram pitaco sobre sua
forma de se mexer dentro de campo.
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