MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 

Manoel Amaro de Lima no velho estádio dos Aflitos (Arquivo)


O dia em que o juiz do gol mil de Pelé foi “zagueiro” no Arruda

 



Lances engraçados e inesperados envolvendo juízes de futebol é o que mais dá por esse mundo do futebol. Manoel Amaro de Lima,  alagoano radicado no Recife desde os anos 60, falecido em 9/5/2009 aos 62 anos de idade, ficou célebre por ter apitado o jogo do milésimo gol de Pelé – Vasco 1 x 2 Santos, no Maracanã, na noite de 19/12/1969. Um dos participantes daquele célebre encontro, o pernambucano Adilson, o famoso Caveira, irmão de Almir Pernambuquinho, ainda está aí para jurar de pés juntos, que o pênalti que originou o “gol mil” não existiu. Na ocasião, o árbitro Manoel Amaro foi cercado por um grupo de inconformados jogadores vascaínos, que protestavam contra a marcação. Na época nem se sonhava com o VAR, que está aí para tirar as dúvidas ou aumentá-las.

– Pelé com a habilidade que tinha, com a inteligência que sempre teve como jogador de futebol, bateu na minha perna e caiu, o árbitro marcou o pênalti. Mas não foi pênalti, eu afirmo que não foi. O árbitro marcou e, infelizmente para o Clube de Regatas Vasco da Gama, foi consumado o gol – disse numa entrevista o ex-zagueiro do Clube da Colina Fernando Silva.

– Marquei aquele pênalti com convicção. Estava muito próximo do lance. Seria melhor se o milésimo gol tivesse ocorrido com a bola rolando, mas foi emocionante fazer parte daquele momento. Estamos aqui para cumprir uma missão. E eu cumpri a minha – retrucou o alagoano.

Protesto vascaíno na hora do pênalti  (Reprodução


    Nascido na cidade de Murici, em Alagoas, Manoel Amaro começou a apitar profissionalmente, com 17 anos, tendo estreado num encontro do CRB com o Penedense. Logo foi contratado pela Federação Pernambucana de Futebol. Além da arbitragem, resolveu estudar. Formou-se em educação física, ramo condizente com sua profissão. Durante muito tempo esteve à frente das atividades esportivas da  Universidade Rural de Pernambuco à matéria. Foi um dos melhores árbitros que já passaram pelo futebol pernambucano

     Na intimidade era chamado de Canguru até mesmo pelo presidente da FPF, Rubem Moreira, por causa dos pulos que dava dentro de campo, no afã de acompanhar a jogada de perto. Estava sempre junto da bola. Tão junto, que certa vez, sem querer, evitou um gol do Náutico no Santa Cruz, no Arruda, quando o Mundão ainda não estava completo. A bola levava o endereço do canto direito tricolor, mas bateu no peito do árbitro e não entrou, para desespero dos alvirrubros. Nesse jogo, portanto, o Santa contou com um zagueiro a mais.

– A bola tinha passado pelo goleiro, mas bateu no juiz – recorda  Fernando Santana, ex-centroavante tricolor, que participou daquele Clássico das Emoções.

Dali para frente, Mané Amaro, como era popularmente chamado, teve que aguentar as gracinhas da torcida alvirrubra sempre que entrava em campo para apitar um jogo do Náutico.

Fotos: Reprodução

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