Seleção Brasileira

 

O novo técnico do Brasil no local da estreia (Foto: Rafael Ribeiro-CBF)


 

É HOJE



 

CLAUDEMIR GOMES



 

É hoje. O título do samba enredo da União da Ilha em 1984 – Escola de Samba da Ilha do Governador, Rio de Janeiro – traduz, com fidelidade, o momento do futebol brasileiro com a chegada do técnico Carlo Ancelotti, que atravessou o Atlântico, ancorou seu barco na Baía de Guanabara, e em meio a uma alegria contagiante renovou sonhos e esperanças de novas conquistas no País do Futebol. Desde que aportou na sua nova casa as palavras de Ancelotti reverberam mais do que as do presidente Lula. Afinal, ele foi recebido, é visto e tratado como o novo Messias que veio salvar o futebol brasileiro pondo fim a um jejum de 24 anos. Isso mesmo: no próximo ano, quando será disputada uma nova edição da Copa do Mundo de Seleções, terão passados 24 anos da conquista do Penta. O espaço de tempo que separou o tri do tetra foi o mesmo: 24 anos. O torcedor supersticioso já colocou isso na conta de Ancelotti. A ansiedade por ver o trem brasileiro novamente nos trilhos é tamanha que, os bochichos nas portas das Bets, onde as apostas correm soltas, são todos sobre uma goleada do Brasil sobre o Equador, hoje a noite, em Guaiaquil, na estreia do novo treinador da seleção pentacampeã do mundo. E todos, mesmo antes de a bola rolar, estão cantarolando o velho samba da União da Ilha: “É hoje o dia da alegria E a tristeza Nem pode pensar em chegar...”. Em 1975 cheguei ao Diário de Pernambuco para integrar a equipe de esportes comandada pelo mestre Adonias de Moura. São cinco décadas acompanhando os passos da Seleção Brasileira. Confesso que, nesse tempo – 50 anos – nunca vi tanta louvação a um técnico. Nem mesmo ao mestre Telê Santana, e os vitoriosos Carlos Alberto Parreira e Luiz Felipe Scolari. Talvez por serem frutos da terra, gente da gente. Carlo Ancelotti é um fato novo, numa nova conjuntura, num novo tempo. O que não muda é o besteirol nas coletivas de imprensa. Naturalmente que são feitas perguntas inteligentes; colocações pertinentes, mas o batalhão dos idiotas está cada dia maior. Ainda não vimos o trabalho do Ancelotti, e os jogos de hoje, e da próxima semana não serão suficientes para se chegar a nenhuma conclusão. No momento, o que mais observo de positivo é o fato de a Seleção Brasileira voltar a ter um técnico que os jogadores olhem de baixo da cima. Ultimamente, nosso sentimento era o de que os jogadores olhavam o comandante de cima pra baixo, como se fossem superiores. Isso tem muito a ver com os bastidores, interferência de empresários, etc. Mas isso é uma outra questão. Carlos Ancelotti chegou com a leveza do ser que já é íntimo do sucesso. Carrega consigo a malandragem que assimilou dos brasileiros desde a época em que era jogador. Enfim, a Seleção Brasileira passou a ter no seu técnico o grande cartão de apresentação. Nada disso, no entanto, é garantia de sucesso, mas são sinais de que a margem de erro pode ser minimizada. Ancelotti disse, em recente coletiva, que gosta de cantar. Como bem ressaltou em sua crônica o mestre, Lenivaldo Aragão, “as primeiras aulas de português foram boas”. Agora, é deixar o homem trabalhar e esperar para vê-lo cantar: “Diga espelho meu Se há na avenida Alguém mais feliz que eu...”

 

 

 

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