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Hélio dos Anjos: hora fatal (Reprodução Globo Esporte) |
CLIMA DE DECISÃO
CLAUDEMIR GOMES
Nada mais fascinante no
futebol do que o clima de decisão. A batalha – Sim x Não – se agiganta no
imaginário do torcedor, e todos os profissionais que estão vivenciando o
momento mágico caminham sobre a linha da incerteza numa travessia cuja duração
é de noventa minutos. Um ponto de interrogação funciona como o marco da
chegada. Por mais óbvio que pareça, ninguém sabe o que vai acontecer. Até os
jogadores mais experientes simplificam o momento, cujos sentimentos e ações nem
Freud conseguiria explicar, com o clichê: “um friozinho na barriga”. - O que
você acha? A indagação me foi feita pelo alvirrubro Roberto Moraes, torcedor
raiz do Náutico que durante toda a semana foi torturado pela aflição de ver seu
clube do coração envolvido numa decisão, onde a concretização do sonho do
acesso depende de uma combinação de resultados. Ponte Preta (10 pontos);
Guarani (7); Brusque (6) e Náutico (5). Essa a pontuação que os times que
formam o Grupo C chegam na última rodada do quadrangular que classificará os
dois primeiros colocados para a Série B do Brasileiro em 2026. Os números
dimensionam o desafio de cada um. A Ponte Preta é o único clube que atingiu uma
pontuação que lhe assegura uma vaga de acesso, independente de qualquer
resultado que venha ser registrado no clássico que disputará com o arquirrival
Guarani. A histórica rivalidade entre os dois clubes de Campinas/SP pode ser
atenuada pelo interesse da Federação Paulista, uma das mais fortes do futebol
brasileiro, em promover o acesso de dois filiados. A tensão aumenta na
proporção das incertezas quando a decisão extrapola os limites das quatro
linhas, e alcança os corredores e gabinetes do poder. O que não é visto pelo
torcedor, como o jogo jogado no campo, é conduzido por manobras que não são
captadas, tampouco reveladas pelo VAR. Neste cenário obscuro tudo acontece,
inclusive nada. Ao Náutico não resta outra coisa senão fazer sua parte, ou
seja, vencer o Brusque, seu adversário da vez. Uma vitória alvirrubra não só
coloca o time de Hélio dos Anjos numa disputa direta com o Guarani, como frustra
o sonho da equipe de Santa Catarina. Os dois jogos – Guarani x Ponte Preta e
Náutico x Brusque – estão programados para o mesmo horário: 17 horas. O pacote
de emoções está sendo “vendido” como três em um: são três clubes brigando por
uma vaga. Todos acalentam o sonho do sucesso, mas se veem atormentados pelo
fantasma do insucesso. Coisa de decisão! Discordo da tese de que o ufanismo é
um mal necessário ao futebol, mas respeito quem age no sentido de agradar a
torcida. Entendo que, quem parte para a luta com autoconhecimento dos seus
limites e potenciais, o mesmo acontecendo em relação ao adversário, tem maiores
chances de sucesso. Bom! Até as 17h cada qual vai conviver com o seu qual.
Domar medos e explorar os limites da adrenalina é a liturgia das decisões. Quem
não cumpre paga a penitência que cabe aos fracassados.
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