NÁUTICO SOBE
Por CLAUDEMIR GOMES
A
definição do Grupo C – Ponte Preta, Náutico, Guarani e Brusque – para a disputa
do quadrangular decisivo que asseguraria o acesso de dois clubes no Brasileiro
da Série C, deixou a maioria dos torcedores dos times envolvidos, com a quase
certeza de que Náutico e Ponte Preta alcançariam seus objetivos, razão pela
qual, ontem, após os dois times consolidarem as conquistas, frases do tipo –
Estava escrito nas estrelas; eu já sabia; estava claro desde o início – foram
repetidas em profusão. A distância que separa a teoria da prática guarda uma
história dramática, com um viés de incerteza gigantesco. O drama dividido em
seis atos, vivenciado pelos clubes, levou todos, com exceção da equipe
alvinegra de Campinas/SP, que descreveu uma trajetória linear, a piques de
agonia e êxtase. O epílogo da peça, marcado pela explosão dos torcedores
alvirrubros no gramado dos Aflitos, se esbaldando num carnaval de esperança,
fez com que todos se detivessem apenas no fim. Torcedor é isso: pura emoção. E
é justamente ele, que chora, blasfema, endeusa, pula obstáculos e se arrasta
pelo chão pagando promessas, que tira o futebol do lugar comum. Antes do jogo,
o amigo Marco Paiva, me envia uma mensagem perguntando o que o achava do
confronto do Náutico com o Brusque, pois seu neto de quatro anos queria ir para
os Aflitos. Mais tarde, já em comemoração, me envia outra mensagem: “Você é
mestre!”. Embora o Náutico tivesse chegado ao último ato na quarta posição, o
ponto de interrogação sobre a conquista do acesso era em relação a teoria da
conspiração que se ventilou com um possível arrumadinho no jogo entre Ponte
Preta e Guarani. Momentos antes de a bola rolar, o mestre José Joaquim Pinto de
Azevedo me informa de que a Ponte mandaria a campo o time titular. Estava
afastado o fantasma do “mondé”. O Náutico foi bem no primeiro ato quando venceu
o Brusque em Santa Catarina. Em seguida, duas quedas inesperadas em casa,
contra Guarani e Ponte Preta, resultados que dificultou sobremaneira sua
jornada. A redenção veio com dois empates nas partidas disputadas em
Campinas/SP. Por fim, alimentado pela matemática, tinha a vantagem de definir
seu futuro jogando em casa, sob o clamor da torcida. O favoritismo dos
alvirrubros era real, mas o script da peça definia um roteiro dramático antes
da explosão de alegria. Simplificando: tinha que ser agonia e êxtase.
Exatamente assim. Alegria que explodiu na abertura do placar, que logo foi
empanada com um gol contra que dava vantagem ao adversário. A cinco minutos do
final, o pênalti que levou todos a colocarem o coração nas mãos lembrando da
fatídica “Batalha dos Aflitos” ocorrida há vinte anos. Silêncio sepulcral nos
Aflitos. Dos céus se ouviu o refrão de uma das canções mais bonitas entoadas
pelos católicos: “E ainda se vier noites traiçoeiras E a cruz pesada for, Cristo
estará contigo O mundo pode até te fazer você chorar Mas Deus te quer
sorrindo...”. Gol do Náutico! Explosão alvirrubra. Viva Hélio dos Anjos! O
messias que conduziu o clube de volta a Série B. “Vencer é o céu!”.
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