MUNDO DA BOLA: Lenivaldo Aragão

 

O BILHETE QUE FEZ MILAGRE NOS AFLITOS

Charles Muniz

 

Bizu

Nivaldo

Estádio dos Aflitos, domingo à tarde. Época dos bons tempos do Náutico. O Timbu participava da elite do futebol nacional e era muito respeitado. Precisando da vitória, que significava sua permanência no Campeonato Brasileiro, o Alvirrubro iria enfrentar o Cruzeiro.

Era o ano de 1991, época em que o ex-craque Falcão dirigia a Seleção. Ele andava paquerando os jogadores considerados convocáveis Brasil afora. Havia programado uma visita ao Recife para ver o Náutico jogar. Também estava de olho em algum craque cruzeirense.

 Naquele dia (24-3-1991), não só os atletas, mas os torcedores do Náutico e os jornalistas estavam assanhados diante da possibilidade de o técnico da Canarinha a qualquer momento dar as caras no estádio alvirrubro. Por causa de algum imprevisto, o treinador da Seleção não apareceu, mas a expectativa de sua presença ficou no ar e foi bem aproveitada pelo técnico Charles Muniz, da equipe pernambucana, que enfrentava o famoso Evaristo de Macedo, um treinador idolatrado em Pernambuco, e que se achava à frente da Raposa. O Náutico saiu de campo para o vestiário após o primeiro tempo sob vaia, não obstante a partida estar empatada, sem abertura da contagem.

Mesmo sabendo da farrapada de Falcão, Charles havia preparado um plano com o supervisor de seu time, João Evangelista, o popular Joca. O objetivo era fazer os jogadores sentirem que Falcão estava mesmo vendo o jogo.

Quando Charles estava conversando com o elenco, dando as instruções para o segundo tempo, Joca chegou apressadamente ao vestiário, pediu licença e entregou ao técnico um papel amassado, com uma informação fabricada.

O matreiro Charles, em voz alta, fez que lia a tal mensagem, mas não se esqueceu de dar um carão – de araque – em Joca, por ter o supervisor atrapalhado sua preleção. Depois comentou, simulando contrariedade: “Era melhor Falcão não ter vindo. Logo hoje, que esse time tá tão ruim...”

Em questão de segundos, Charles passou a ver os jogadores bem mais animados, aquecendo-se com muito empenho para voltar a campo.

Os caras comeram a grama para mostrar serviço ao treinador da Canarinha, e o Náutico terminou ganhando a partida por 2x0, com o meia Augusto engolindo a bola e realizando as jogadas para Bizu e Nivaldo balançarem a rede dos mineiros.

Num dos gols, Augusto partiu com a bola dominada, de seu campo, e saiu tirando de tempo quem surgia em seu caminho. Foi no gol de Nivaldo.

Fim de jogo, Náutico 2 x 0 Cruzeiro. Muita alegria nas arquibancadas dos Aflitos. O Timbu já não corria o risco de ser eliminado, depois da primeira fase do campeonato, motivo das vaias do intervalo.

O bilhete de mentira foi a fórmula mágica para o Náutico vencer o jogo. Isso é o que se chama doping psicológico.

O público foi de 5.107 pagantes, a arbitragem coube a João Patrício de Araújo (GO) e os times foram estes:

NÁUTICO: Celso Cajuru; Levi, Barros, Lúcio Surubim e Célio Gaúcho; Ademir Muller, Leo e Augusto (Ângelo); Nivaldo, Bizu e Possi. Técnico: Charles Muniz.

CRUZEIRO: Luiz Carlos; Paulão, Balu, Dinho e Ademir; Andrade, Boiadeiro e Luís Fernando Flores; Heider (Rogério Lago); Charles Santos e Marcinho (Luís Gustavo).

 

 

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