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| Paulo Monteiro, conselheiro do Náutico (Reprodução YouTube) |
PERDIDOS NO TEMPO
Por CLAUDEMIR GOMES
O artigo – Planejar mal hoje é comprometer o futuro do
clube – do alvirrubro, Paulo Monteiro (foto), publicado na edição de
sexta-feira (26/12/2025) da FOLHA DE PERNAMBUCO, me levou a traçar um paralelo
do futebol pernambucano entre o que vivenciamos na era do amadorismo, quando
fomos gigantes, e o que estamos vivendo na era do profissionalismo, quando nos
tornamos nanicos.
Tomei por base a década de 70, período em que o futebol
brasileiro surfava na onda do tricampeonato mundial. Grandes estádios foram
construídos em todas as regiões do País e Pernambuco tinha no comando do seu
futebol, o icônico Rubem Moreira, maior presidente da história da Federação
Pernambucana de Futebol, e um dos mais respeitados, prestigiados cartolas do
futebol verde e amarelo. Apesar da nomenclatura – profissional – a estrutura do
futebol era genuinamente amadora, mas funcionava a contento.
Á época, respaldado no prestígio do presidente da FPF, Rubem Moreira, o Sport importou, do Rio de Janeiro, o primeiro executivo para o futebol pernambucano: Edgar Campos. A figura do supervisor era um fato novo na estrutura dos nossos clubes. Os grandes clubes – Sport, Náutico e Santa Cruz – como reflexo natural da conjuntura política, o País vivia o período do Governo Militar, tinha em suas comissões técnicas, militares respondendo pela preparação física dos elencos de profissionais. Militares qualificados como os coronéis Adelson Vanderlei, Marcos Soares, Genivaldo Cerqueira, Inaldo Alves, Geceraldo Serqueira, dentre outros. Anos depois, todos os militares migraram do trabalho de campo para o trabalho burocrático, onde seguiram dando uma contribuição efetiva para o engrandecimento ue - um colecionador de títulos; o mestre Gradim, Orlando Fantoni, Ênio Andrade, Paulo Emílio, Evaristo de Macedo, que recebia do Santa Cruz o maior salário pago a um treinador no futebol brasileiro... Numdo futebol pernambucano.
Nos anos 70 desfilaram pelo futebol pernambucano
treinadores renomados como Davi Ferreira – Duq futebol com estrutura amadora, os clubes bancavam o
material que os jogadores usavam nos treinos, e nos jogos. Não havia fabricante
de material esportivo vestindo as equipes. As comissões técnicas eram enxutas: técnico;
assistente técnico e dois fisicultores. Os assistentes e os fisicultores eram
da casa, ou seja, funcionários do clube. Ainda não havia sido incorporada às
comissões a figura do treinador de goleiros. Investir na prata da casa e em
jogadores da região era uma prática nos grandes clubes pernambucanos. Num tempo
em que os torcedores iam a campo e ficavam juntos e misturados, independente do
time para que estivessem torcendo, tivemos um desfile de craques vestindo as
camisas do Náutico, Sport e Santa Cruz de fazer inveja: Marinho Chagas, Jorge
Mendonça, Detinho, Lula, Levir, Gena, Paraguaio, Juca Show, Vasconcelos,
Baiano, Beliato, Carlos Alberto Barbosa, Pedrinho, Givanildo, Zito, Luciano,
Joãozinho, Nunes, Mauro Madureira, Assis Paraíba, Dario, Amilton Rocha, Ramon,
Gilberto (goleiro), Mazinho, Vadinho, Miltão, Fumanchu, Pio...
Os anos passaram, nossos profissionais não se qualificaram,
não houve um planejamento para que os clubes se tornassem contemporâneos da
nova ordem, e hoje testemunhamos uma legião estrangeira ocupando todos os
cargos existentes no futebol. Os clubes importam profissionais de todas as
áreas, de todos os lugares. O futebol pernambucano não tem mais uma marca
registrada. Estamos no tempo do profissionalismo, mas nossos profissionais são
analógicos, não se enquadram nas estruturas tecnológicas que são montadas nos
clubes.
Nos dias de hoje, uma comissão técnica é formada por mais
de vinte profissionais que analisam até o pensamento dos jogadores para
definirem o potencial de concentração do atleta. Sinais dos tempos. Os grandes
clubes dos anos 70 não passam de clubes grandes nos dias atuais. Ou seja,
possuem patrimônios gigantescos, mas as máquinas deixaram de ser azeitadas há
muito tempo, estão ultrapassadas e emperradas. Nossos clubes se perderam no
tempo. Hoje correm para pegar o bonde da história que passou em velocidade.
Nossos profissionais não são aproveitados nem para comandar o trabalho de base.
Neste cenário fica difícil falar em planejamento, mestre Paulo Monteiro.

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