| Santa Cruz do Capibaribe em 1953 (Reprodução) |
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| Santa Cruz do Capibaribe na atualidade (Reprodução) |
Esta segunda-feira, 29-12-2025, é dia de festa
em Santa Cruz do Capibaribe, minha terra natal, localizada no Agreste
Setentrional de Pernambuco, a 192 quilômetros da capital Recife. Já foi chamada de Capital da Sulanca, hoje é a
Terra das Confecções. Se existe atualmente o Polo de Confecções, centrado em
Santa Cruz, Toritama e Caruaru, com irradiação por inúmeras cidades do
Nordeste, foi lá, na Terra das Confecções e das Gameleiras, que tudo começou.
Ainda me lembro quando um dos
filhos do comerciante Manuel Caboclo saía batendo nas portas das costureiras
clientes daquele empreendedor para dar um aviso mais ou menos assim: “Pai manda
avisar que vai abrir o fardo quarta-feira às duas horas da tarde”.
Tratava-se de um ou mais
enormes sacos com pedaços de tecidos, ou aparas, chamados de retalhos,
adquiridos em fábricas de tecidos em São Paulo. Eu mesmo e meu irmão Lenildo,
um ano mais novo do que eu, chegamos a vestir camisa confeccionada com retalhos
em plena festa de São Miguel, que ocorre em setembro.
Depois, seu Manuel foi ganhar
a vida, se não estou enganado, no Rio de Janeiro, e o proprietário do caminhão que transportava seu material, Fernando
Silvestre, conhecido por Noronha (o apelido, segundo me contaram, foi dado por
meu avô materno, Zé Moraes, que brincava com ele, tratando-o por Fernando de
Noronha) assumiu o posto. Foi procurado pelas costureiras, que de um momento
para outro ficaram sem ter como adquirir sua mercadoria. Confessaram seu
desalento a Noronha. Este, que já conhecia o mapa da mina, pegou o mote. Com o
tempo foram surgindo outros desbravadores.
Um fato interessante aconteceu
anos atrás. No Mercado de Boa Viagem, todos os sábados se reunia uma turma de
Santa Cruz, capitaneada por João Lopes (João de Saturnino, conhecido na turma,
como João Bonito). Eu estava sempre presente, junto com Nivaldo Clementino
(Mimoso), Rildo, ex-marinheiro; Geraldo Figueiroa, Itamar Aragão, Ernando
Silvestre, filho de Noronha e ex-prefeito de Santa Cruz, além de outros.
Juntou-se à turma um baixinho sertanejo, que tinha vivido muitos anos em São
Paulo, trabalhando inicialmente como camelô e posteriormente numa grande loja
onde Noronha se abastecia. Ernando, que tinha acompanhado o pai em algumas
viagens, ficou achando que conhecia o cara. A certa altura, arriscou: “Você é
Miguel?” Diante da resposta positiva, o nosso conterrâneo se identificou. Foi
aquela festa! “O pai dele se quisesse
podia levar a mercadoria fiado”, afirmava Miguel, que já estava aposentado.
Este longo prólogo me faz dar
uma longa volta ao passado para lembrar o dia 29-12-1953, quando a minha terra
deixou de ser uma vila pertencente ao município de Taquaritinga do Norte,
tornando-se independente. Ao mesmo tempo, a vizinha Toritama se desligava da
Terra do Café e passava a caminhar com os próprios pés. Nenhuma mágoa dos
taquaritinguenses em relação às duas novas cidades. Através dos tempos, a
amizade continua a mesma. Uns e outros tratam-se como irmãos, de maneira
cordial e educada.
Naquele dia 29 de dezembro, eu
seminarista em Pesqueira, de férias na minha “pátria”, saí para a Rua do Pátio, onde morava, junto
com o povo, que também se espalhava pelas ruas Grande, Siqueira Campos, Nova,
Cabo Otávio Aragão e 13 de Maio, tão logo espocaram os primeiros fogos
anunciando a emancipação esperada com tanta expectativa e várias vezes tentada,
sem êxito. Os santa-cruzenses festejaram durante vários dias. Hoje, a artéria
mais movimentada da cidade, comercialmente falando, chama-se 29 de Dezembro, em
homenagem à data, que faz lembrar o hino oficial do município, cuja segunda
estrofe diz: “Santa Cruz, agora és livre,
Vais cuidar do teu porvir.
Por lei já tens, tens o direito } bis
De crescer e progredir.”
O preceito ditado pela canção
que tanto orgulha nossa população tem sido cumprido à risca. Na época da
emancipação, a população não deveria passar de cinco mil pessoas (não há dado
oficial) e hoje é de 104.854 habitantes.
É certo que mais cedo ou mais
tarde o fato aconteceria, mas é bom lembrar que o grande baluarte da
emancipação política santa-cruzense foi Raimundo Francelino Aragão, que viria a
ser o primeiro prefeito eleito do novo município.

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