No tempo em que os “conterras” davam as cartas no Vasco


Desde o fabuloso Ademir, artilheiro da Copa do Mundo de 1950, com nove gols, saído do Sport, o Vasco da Gama tem contado, através dos anos, com pernambucanos bons de bola, quase todos iniciados na Ilha do Retiro.

Os passos de Ademir foram seguidos por Vavá, também bafejado pelos ares rubro-negros antes de partir para o Sul Maravilha. Em São Januário, Vavá teve Ademir como seu cicerone. E mais tarde, o próprio Vavá fazia as honras da casa a Almir, o Pernambuquinho. Todos procediam do Sport.

O rubro-negro pernambucano, surgia aos olhos da torcida vascaína, dominada pela colônia lusitana do Rio de Janeiro, em termos de intercâmbio e amizade, como “uma casa portuguesa, com certeza”, como diz o famoso fado da universal Amália Rodrigues. Se atualmente já não é, naquele tempo, quando não havia a competitividade ditada pelo Brasileirão, que não existia, era.
  
UM TRIO NA OLIMPÍADA

Talvez menos técnico, todavia, igualmente valente, Vavá teve mais sorte do que o Queixada, como Ademir era conhecido, por motivos óbvios. Vavá foi bicampeão do mundo em 1958/62 e Ademir teve que se contentar – ou se maldizer – com o vice-campeonato em 1950, na tragédia diante do Uruguai.  

Em 1952, dois anos depois daquele desastre, o Brasil participava pela primeira vez do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos, em Helsinque, na Finlândia. Sob o comando do carioca Newton Cardoso, filho do folclórico Gentil Cardoso, nascido em Pernambuco, havia na equipe titular dois jogadores pernambucanos, ambos vascaínos. Eram Vavá, naquele tempo jogando como meia armador, e Adésio, centromédio. Entre os reservas estava outro representante da Terra do Frevo, o centroavante Ilo. Também do Vasco. Os três, coincidentemente, procediam do Sport quando chegaram ao Rio, em épocas diferentes.

O caminho aberto por Ademir fez com que ainda hoje a torcida vascaína dê muito crédito a jogador egresso da Terra dos Altos Coqueiros. Depois dos quatro já citados, veio o reinado de de Almir, o Pernambuquinho, com sua fama de brigão. A procedência era a mesma de seus antecessores, o Sport.

‘CONTERRAS’

E muita gente de Pernambuco, agora não necessariamente atletas leoninos, seguiram a trilha. Só para lembrar alguns, declinemos os nomes de Nado (Náutico), Mário Pelé (Santa Cruz), lá chamado de Mário Tilico, Valfrido (Sport), Adilson (Sport), irmão de Almir, Major (Sport), Salomão, paraibano egresso do Santos, mas revelado nacionalmente pelo Náutico, e Juninho Pernambucano (Sport).

A foto que acompanha esta matéria é da equipe do Vasco que disputou o Torneio-Início do Campeonato Carioca de 1971, na qual aparecem Major, Nado e Adilson, três ‘conterras’, como os pernambucanos se tratavam. O time é este: em pé, E/D: Sérgio, Major, Valdir, Jorge Luiz, Pedro Paulo e Oldair; agachados: Nado, Paulo Mata, Adilson, Almir e Bené.



O ex-lateral direito Major foi revelado pelo Sport, e depois de ter defendido o Vasco, atuou  no futebol alagoano e não se sabe seu paradeiro, estimando-se que tenha voltado para o Rio. Nado e Adilson regressaram à sua terra. Nado já deixou o nosso mundo, e Adilson continua residindo no Recife. Trabalhou na Secretaria de Saúde e hoje está aposentado. Era um dos ex-jogadores presentes ao velório do ex-lateral Gena, terça-feira, 13 de novembro.

ESCRITOR E CARTOLA

O goleiro catarinense Valdir é outro que vemos na foto. Chegou a defender o Sport, em 1969, mas por pouco tempo. Quase todo ano dá uma chegada por estes lados para rever velhos companheiros do Sport e do Vasco ou gente que nunca jogou bola, mas que faz parte do seu círculo de amigos. Virou escritor, com vários livros publicados, tendo sua vivência e muitas histórias do mundo do futebol como tema.

Também é cartola, pois hoje preside o Clube Esportivo Paysandu de sua cidade, Brusque. O Paysandu, ao qual Valdir é ligado por tradicional familiar e no qual jogou, daqui a um mês festejará seu centenário, uma vez que foi fundado em 30/12/1918.

Em Brusque nasceu também o radialista Ivo Sutter, cujo nome, o destemperado Rubem Moreira, presidente da FPF durante 27 anos ininterruptos, nunca pronunciava corretamente, pois tratava-o como Ivo Super. Pois, este super-homem de rádio há muitos anos plantou os pés em Caruaru e de lá não saiu mais.

Na foto ainda aparece o atacante Paulo Mata, que é baiano, e que vestiu a camisa do Náutico, nos anos 70, porém, sem sucesso.

Só para esclarecimento do leitor, o Almir que vemos ao lado de Adilson, nada tem a ver com o irmão deste, Almir Pernambuquinho. É outra pessoa.



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