Sport x Bahia na I Taça Brasil (Última reportagem)



(Acaba de ser publicado em Salvador, o livro “Heróis de 59” sobre a conquista do título de campeão da I Taça Brasil pelo Esporte Clube Bahia. Para chegar ao topo do futebol nacional, o Esquadrão de Aço teve que superar o CSA, o Ceará, o Sport, o Vasco da Gama e o poderoso Santos da Era Pelé.
A epopeia do tricolor baiano é contada com riqueza de detalhes pelo jornalista, advogado e delegado de polícia da Boa Terra Antônio Matos. Este blog publica em três capítulos o que está escrito a respeito dos jogos envolvendo o Sport e o Bahia naquela competição. Vale salientar que somente participavam os campeões estaduais. Gente de Pernambuco, que de uma forma ou de outra colaborou com o autor, é por ele citada na fila de agradecimentos: Álvaro Claudino, Amaury Veloso, Dirceu Paiva, Ed Cavalcante, Joezil Barros, Lenivaldo Aragão, Paulo Moraes e William Ribeiro.


A volta por cima

Sport Recife 0 x 2 Bahia

Alimentado, sobretudo, pela mídia pernambucana, que exaltava o seu envolvente futebol, o Sport era só entusiasmo. Movidas pela paixão, diante da acirrada rivalidade regional, ficaram célebres estas manchetes esportivas da edição do ‘Jornal do Commercio’ do dia seguinte à partida: ‘Lavagem em regra no campeão baiano’ e ‘Universidade pernambucana goleou a escolinha baiana’.

De volta à concentração na noite de sábado, 31 de outubro, o elenco, premiado com um bicho extra pela vitória esmagadora da véspera, ainda festejava a goleada, lendo os jornais locais e comentando o excelente desempenho da equipe.



O lateral esquerdo Ney Andrade, por exemplo, que classificara a derrota de 3 x 2, na Fonte Nova, com “injusta para o Sport”, afirmou que o segundo jogo contra o Bahia fora “um treinamento para a partida decisiva”.

Artilheiro daquela tarde, Osvaldo ressaltou a fragilidade da defesa baiana, enquanto o ponta canhoto Elcy, que cederia o lugar a Djalma na decisão, indagado sobre o comportamento do Sport em sua última apresentação, foi incisivo: “o baile dispensa comentários”.

Quase todos tinham certeza de que o resultado da última quarta-feira praticamente definira o Sport como campeão do Norte-Nordeste, classificando-o, consequentemente, para a fase semifinal da Taça Brasil.

Esta opinião era também compartilhada pelo técnico Capuano, que disse ter visto, representada no placar de 6 x 0, a superioridade do futebol pernambucano sobre o baiano.
Com tudo soprando a favor, o Sport começou melhor, com Traçaia e Bé avançando com perigo, sempre com o apoio do meio de campo Zé Maria. Sufocava os baianos, a ponto de acertar, nos primeiros momentos do jogo, uma bola na trave de Nadinho. Dava a entender que repetiria o futebol da partida anterior e que, a qualquer momento, abriria o marcador.
Já o desacreditado Bahia, com os mesmos atletas utilizados no desastre do dia 30 de outubro, aos poucos, ia se impondo, com destaque para Vicente, na defesa, Ari, no meio de campo, e Marito, Leo e Biriba, no ataque.

Quem o presenciara na sexta-feira, na Ilha do Retiro, sem forças, aceitando passivamente o domínio adversário, iria se admirar com a disposição e o futebol do time, quatro dias depois (pouco mais de 100 horas), naquela noite de terça-feira, 3 de novembro, em Recife.
Perfeito na marcação, neutralizava o meia Bentancor, maestro da equipe do Sport, impedindo praticamente que o goleador Osvaldo pegasse na bola. Também demonstrava determinação e talento, qualidades inexistentes no segundo jogo, quando a defesa errou muito, o meio de campo não se achou e o ataque, excluindo Marito, esteve irreconhecível.
Numa falha do goleiro Dick, que subiu menos do que Biriba, o Bahia fez 1 x 0, aos 21 minutos do primeiro tempo. Com 1,59 metro, o esperto atacante, de cabeça, deixou a equipe baiana à frente do placar, para espanto da torcida pernambucana, em grande número no estádio.

Esperava-se um Sport mais aguerrido na segunda etapa, o que não aconteceu. Já o Bahia mostrava uma irrepreensível disciplina tática, aliada à garra e à valentia, própria de um time experiente que já começava a sonhar com voos mais altos.

Nitidamente superior, procurava ganhar tempo, rodando a bola e catimbando, interrompendo o jogo com faltas na intermediária e fazendo cera.  

A reação do Sport não veio: passes sem direção,  defesa rebatendo mal e falhando nas coberturas, meio de campo fraco e ataque dispersivo. O time insistia nas bolas alçadas para a área do Bahia, sempre neutralizadas pelos altos zagueiros adversários.

Biriba era o nome da partida, sem tomar conhecimento do marcador Bria. Numa das suas brilhantes jogadas, aos sete minutos da fase final, deu um passe perfeito para Leo marcar 2 x 0 e garantir a vitória e a conquista da Taça Norte-Nordeste, entregue, no final do clássico regional, pelo superintendente da CBD, Mozart Di Giorgio.

A emoção dos atletas foi tamanha que o zagueiro Leone, capitão do Bahia, desfaleceu logo após o apito final do juiz Willer Costa.

Atendido pelo dr. Hilton Gosling, médico da Seleção Brasileira [em Recife, fazendo exames médicos dos jogadores pernambucanos que representariam o Brasil no Campeonato Sul-americano Extra do Equador] e pelo massagista Sansão, só recobrou os sentidos 20 minutos depois.

FICHA
Dia: 3 de novembro de 1959, terça-feira
Local: Recife
Estádio: Adelmar da Costa Carvalho [Ilha do Retiro]
Renda: Cr$ 224.350,00
Público: não divulgado
Juiz: Willer Costa, da Federação Bahiana de Desportos Terrestres
Auxiliares: José Cavalcante de Brito, da Federação Bahiana de Desportos Terrestres, e Alfredo Bernardes Torres, da Federação Pernambucana de Futebol.
Goleadores: Biriba, aos 21 minutos do primeiro tempo, e Leo, aos 7 minutos do segundo tempo, para o Bahia.
Bahia: Nadinho, Leone, Henrique, Vicente e Beto; Flávio e Ari; Marito, Alencar, Leo e Biriba.
Sport Recife: Dick, Bria, Cido, Dedé e Ney Andrade; Zé Maria e Bentancor; Traçaia, Bé, Osvaldo e Djalma.





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