Toco, Travo e Canela


Rubem Moreira de araque tira Arrupiado do sufoco


LENIVALDO ARAGÃO


Como se sabe, o América já foi clube grande em Pernambuco. Fazia contratações com o mesmo desembaraço de Náutico, Santa Cruz e Sport. Se não tinha uma torcida poderosa, era muito simpático, tornando-se o segundo time do pernambucano.

Vários jogadores que se projetaram nacionalmente, antes disso vestiram a camisa alviverde, como Leça, um dos maiores goleiros a defender o Bahia em todos os tempos.

São vários exemplos, como o norte-rio-grandense de Mossoró Dequinha, que brilhou no Flamengo e na Seleção Brasileira; Tomires, centromédio alagoano, tricampeão carioca pelo Flamengo ao lado de Dequinha, em 1953/54/55; Mourão, lateral esquerdo, conterrâneo de Tomires, que também integrou a equipe do Campeão do Centenário antes de ganhar o mundo – Santos, Sport, Grêmio e Newell’s Old Boys, da Argentina.

Portanto, muita gente que surgiu por esse Nordeste afora passou pelo América. Arrupiado foi um deles. Tratava-se de um centromédio de grande destaque no futebol da Paraíba, onde defendia o Treze de Campina Grande.

Na equipe do Galo da Borborema jogou ao lado de algumas figuras ainda hoje lembradas por lá, como o goleiro Harry Carey, pernambucano de Águas Belas, os zagueiros Félix e Urai, o meia-atacante Zezinho Ibiapino, que veio para o Náutico e outros mais.

Contratado pelo clube esmeraldino do Recife, confirmou todo o cartaz que existia a seu respeito, mostrando técnica e valentia. 
Arrupiado no Treze, Ele é o penúltimo na fila em pé (Reprodução internet)



Aqui, uma formação da equipe alviverde no tempo de Arrupiado, em 04/07/54, numa vitória sobre o Náutico por 4 x 3: Vicente; Procópio e Dadá; Claudionor, Arrupiado e Astrogildo; Jarbas, Moacir, Vivinho, Bujan e Dario.

Às vezes, em lugar de Claudionor jogava Perinho, um caruaruense que trocou a bola pelo diploma de médico veterinário e que se divertia muito com as presepadas que o extrovertido Arrupiado gostava de fazer, levando seus companheiros às gargalhadas.

O centromédio do América tinha uma mania, que era segurar a bola do jogo, quando o juiz dava o apito final. Macaco velho, matreiro, ele sempre encontrava um jeito de ficar ali por perto, cercando a pelota ao sentir que estava chegando a hora.

Era o árbitro apitar para Arrupiado mais do que ligeiro agarrar a ‘criança’, levando-a nos braços, como se fosse um valioso troféu. Não faltava quem comentasse aquele gesto de Arrupiado. Uns achavam que o defensor do Periquito era um colecionador e estava levando mais uma bola para fortalecer seu cabedal.

Outros pensavam que a bola do jogo seria doada pelo jogador para ser leiloada ou sorteada por alguma instituição beneficente à qual o centromédio era ligado. Nesse caso, sua atitude era tida como mais louvável ainda.

Nem uma coisa nem outra. O que Arrupiado fazia era vender as bolas, torrando o dinheiro arrecadado em animadas rodadas de chope, com a participação dos companheiros.

Juntamente com alguns jogadores do América que tinham vindo de fora, Arrupiado morava numa pensão no centro da cidade. Só que o paraibano nem sempre pagava as mensalidades em dia.

Certa vez estava com vários meses de atraso e passou a viver sob a marcação cerrada da dona da pensão, que não lhe dava tréguas. Arrupiado tentava fugir dela, mas como?

Foi aí que o centromédio botou a cabeça para funcionar e a malandragem veio à tona. Como imitava muito bem a voz grossa, quase tonitruante de Rubem Moreira, dirigente do América e futuro presidente da Federação, um dia Arrupiado fez uma ligação, da rua, para a dona do estabelecimento onde residia, dirigindo-lhe a palavra, como se fosse o respeitado Rubão que estivesse falando. Disse-lhe para ficar tranquila, pois logo o débito do jogador seria pago.

Santo remédio. Antes braba com Arrupíado, a proprietária da casa de cômodos passou a se desmanchar em gentilezas, ficando a trata-lo como um príncipe. Pelo menos, enquanto a farsa se sustentou.     



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