Toco, Travo e Canela


Uma greve feita nas coxas


O termo eu sei que é chulo, mas peço desculpas aos meus prezados leitores, pois não há outra classificação que possa ser dado ao caso que vou lhes contar.

Houve coisas do arco-da-velha com a Seleção Cacareco na sua viagem ao Equador em 1959, quando Pernambuco representou o Brasil num Campeonato Sul-Americano, competição que hoje é chamada de Copa América por abrigar, além de seleções da América do Sul, equipe das Américas Central e do Norte.

O técnico Gentil Cardoso, que sempre foi cheio de mumunhas, fomentou uma espécie de rebelião entre os jogadores. Encarregado de pagar o bicho aos atletas, o superintendente da Federação Pernambucana de Futebol, Jaime de Brito Bastos, o aplicado e extrovertido administrador da delegação, conhecido por Jaime da Galinha, ficou espantado ao ver que os jogadores não estavam nem aí com seu chamamento para que cada um tratasse logo de receber os cem dólares a que tinham direito como prêmio pela vitória na estreia no Campeonato Sul-Americano Extra sobre o Paraguai.
– Ninguém que receber dinheiro não, é? Pelo que eu estou vendo, está todo mundo rico – brincou o funcionário da FPF.

O técnico da Cacareco comemorando uma vitória com o lateral Dodô


Havia uma greve branca, descobriu Da Galinha. Levou o assunto ao conhecimento do chefe da delegação e presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Rubem Moreira. Este, explosivo como era, só faltou subir pelas paredes. Mais irritado ainda ficou ao saber que o cabeça do movimento tinha sido Gentil Cardoso, justamente o comandante, a quem caberia dar o bom exemplo. O treinador botou no quengo dos jogadores que eles deveriam receber muito mais, pois estavam na Seleção Brasileira e não num time qualquer.

Rubão tomou, à sua maneira, as providências que o caso exigia. Chegou a pedir à CBD (Confederação Brasileira de Desportos) que mandasse outro técnico, uma vez que Gentil estava para receber o bilhete azul da delegação.

Do Rio, João Havelange informou que o treinador da seleção juvenil, Antoninho (seria campeão pelo Náutico em 1965, no tri da campanha que culminaria com o hexacampeonato alvirrubro), estava à disposição.

Jaime de Brito Bastos


E a vida seguiu, com a Cacareco dando continuação à sua rotina diária. Dois ou três dias depois, Jaime saiu novamente pelos apartamentos do hotel onde estava alojada a delegação, folha de pagamento numa mão e os dólares na outra, chamando o pessoal para “comparecer ao caixa”. A atitude paredista continuava. Ninguém atendia o chamamento. Foi aí que Jaime indagou:  
– O chefe de vocês já recebeu, e vocês vão continuar fazendo greve, é?

O pessoal chegou à conclusão de que estava era fazendo papel de besta, uma vez que o idealizador do gesto de rebeldia já tinha pipocado, tendo sido o primeiro a furar a greve.
não tinha mais consistência. Ou seja, o idealizador da o movimento paredista, o técnico Gentil Cardoso, tinha sido o primeiro a furar a greve.


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