Fogueira, bola e microfone
PAULO MORAES
A minha
saudade começa um pouco distante com o esporte. Cai, cai balão, cai, cai balão.
Já se foram o São João e o São Pedro. Não há como esquecer as festas juninas da
minha infância e adolescência na minha cidade ainda pequena e na mediana
Caruaru.
Nas
fazendas de um tio que meu pai Abner administrava e depois nas pacatas ruas da
hoje Terra da Sulanca e da Capital do Agreste. Pois bem, fogueira acesa, milho
assado e outros derivados de um produto tão amado colhido nos roçados próximos à
moradia.
Me refiro
ao campo, como a fazenda Malhada do Meio, hoje um bairro de Santa Cruz do
Capibaribe, e ao sítio Taquara, junto do Alto do Moura, em Caruaru. As
brincadeiras iluminadas por lindas fogueiras, eram na frente das calçadas.
Foram noites maravilhosas e que permanecem acesas no meu coração da
saudade.
Troco
agora de saudade para passear pelos tempos quando abracei o futebol. Bola de
meia, como a de tantas crianças da época.
Faz
tempo, mas parece que foi ontem.
Meus
primeiros chutes foram em Santa Cruz nos anos 50. Eu estava com oito, nove ou
dez anos de idade.
Eram
bolas bem feitas numa meia de saudosas memórias. Fiz gols, levei gols. Venci
jogos, perdi outros. Foi um prazer. Prazer também ao encarar a primeira bola de
couro, na Rua do Pátio, na época a segunda principal da cidade.
Eram
números um, dois, três, a meninada correndo com alegria atrás dela em busca de
gols. Lembro bem de Pedro Filho e de Itamar nas peladas inesquecíveis.
Conheci
também na Vila do Pará, um distrito que amávamos, a bola de borracha que
deixava o peito vermelho e doído. Eram gostosos esses encontros, seja que bola
fosse, de meia, de couro ou de borracha.
No dia 2
de janeiro de 1957, montado na carroceria de um caminhão, mudei-me pra Caruaru.
No sítio Barra de Taquara, às margens dos rios Taquara e Ipojuca, durante uns
cinco meses, fiquei longe da bola. Mas logo voltei ao contato com ela já em
Caruaru, meu novo torrão.
Agora, a
bola era sempre de couro Joguei num time de rua paralela, a conhecida e ainda
famosa, a são Paulo. Era a Portuguesa, formada por um grupo de crianças pobres,
porém, felizes. As camisas eram mais pobres ainda, rasgadas.
A
Portuguesa, de Inácio e de Cabaço, realizou muitos jogos em Caruaru. Vencemos a
maioria, mas numa tarde de um domingo levamos uma surra do Santa Cruz, da minha
Santa Cruz do Capibaribe, lá no hoje querido Estádio Otávio Limeira Alves. Perdemos
por sete a um. Foi uma antecipação de Brasil um, Alemanha sete na Copa de 1914.
Viajamos
e voltamos de Toyota que era o transporte da região. Como disse o cantor e
compositor Ataulfo Alves em uma letra famosa, eu era feliz e não sabia.
Depois da
Portuguesa, um grupo de garotos defendeu o Bangu, da Rua Visconde de Inhaúma. Logo,
logo me despedi do modesto Bangu, com um empate em um a um, contra um time
fortíssimo do bairro do Rosário Novo. O gol da nossa equipe, fui eu quem
marcou, num chute de longa distância. Foi num domingo pela manhã.
Na
segunda-feira, 2 de março de 1964, toquei Caruaru pelo Recife, embora viva hoje
em Olinda. Daí em diante, a história foi outra, agora envolvido pelo microfone
, pelas máquinas de escrever, de novo com microfone acrescido da telinha. Depois,
conto como foi a minha nova trajetória.
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