Barbosa
Treme Treme salvou Caruaru
LENIVALDO ARAGÃO
Campeonato Pernambucano de
Seleções. A disputa era acirrada. Caruaru tinha um compromisso importante em
Garanhuns contra a equipe local. Ao mesmo tempo em que se preparava para a
viagem, o presidente da Liga Desportiva Caruaruense, o conceituado gerente de
banco Gercino Tabosa, praticamente não dormia, preocupado que estava com o
destino dos caruaruenses naquele encontro com o maior rival da Capital do
Agreste. Decidiu-se tomar uma medida preventiva.
Barbosa Treme Treme era
uma figura muito querida em Caruaru. Um autêntico desportista. Fundador do alvirrubro
Comércio Futebol Clube, em 12/6/1940, Antônio Oliveira Gomes causava um certo
temor nos meios futebolísticos por causa das trapaças que, diziam, estava
acostumado a fazer para ganhar jogo. O Central ainda não disputava o Estadual,
e o Campeonato Caruaruense, com o próprio Central, Vera Cruz, Comércio, São
Paulo e Rosarense era animadíssimo. Dono de bar e salão de sinuca, na esquina
da Rua da Matriz com a Vigário Freire, bem no centro da cidade, Barbosa vivia
por dentro de tudo o que acontecia na Capital do Agreste, pois seu
estabelecimento constituía-se numa espécie de caixa de ressonância da ainda
pacata Caruaru. Lá, falava-se de política, da vida dos outros e comentavam-se
os últimos acontecimentos futebolísticos. Tanto que havia uma coluna num dos
semanários locais, dedicada a comentar os fatos em evidência na chamada Terra
dos Avelozes, intitulada ‘Esquina do Barbosa’. O interessante personagem
caruaruense, que tinha as mãos trêmulas, daí o apelido, era o homem indicado
para remediar a angustiante situação, concluiu o presidente da LDC. Resolveu
procurá-lo. Acompanhavam-no os influentes jornalistas Celso Rodrigues e
Valdemar Porto. Gercino foi direto ao assunto:
– Barbosa, nossa Caruaru
não pode perder essa parada. Sabemos que o goleiro de Garanhuns gosta muito de
você, pois já jogou no Comércio. Tarefa fácil, não acha?
Para um bom entendedor
duas palavras bastam. Barbosa pegou no ar.
– Mas eles estão
concentrados no Sanatório Tavares Correia, numa vigilância danada. Ninguém sai,
e todos os passos deles são vigiados.
Ao dar a resposta, o
astuto Barbosa Treme Treme já pensava na contraofensiva.
– Gercino, você tem muitos amigos em Maceió.
Mande passar um telegrama de lá pra cá, dizendo que a mãe do goleiro quebrou as
pernas num acidente. Assim, eu “furo” a concentração.
(A família do goleiro de
Garanhuns morava na capital alagoana).
Tudo saiu dentro dos
conformes. Barbosa, na véspera do jogo, foi levar o telegrama de mentira,
invadiu o fechadíssimo reduto do adversário de Caruaru, por uma causa humana e
tirou o goleiro de tempo. O rapazes se mandou se mandou para Alagoas a fim de
dar assistência à sua genitora. Mesmo que tenha descoberto a farsa, não pôde
voltar a tempo. No domingo, Caruaru, mesmo jogando no campo adversário, metia 3x0
no desfalcado selecionado de Garanhuns.
– Quem tem Barbosa Treme Treme
tem meio time – vibrava depois do jogo Valdemar Porto, que muitos anos depois
seria sogro de Perez, goleiro paraguaio que defendeu o Sport nos anos setenta.
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