Toco, Travo e Canelada


Uma guerra inesperada no roteiro do Rei

Era para ser apenas uma viagem rapidinha ao Caribe, como muitas que o time do Santos fazia mundo afora. O destino, a paradisíaca Trinidad e Tobago, o mar verde de ondas calmas e coqueirais de coquinhos amarelos.

Uma pausa à rotina de jogos do Campeonato Brasileiro, apesar do bate e volta no meio da semana. De novo a delegação perdeu o encanto ao deixar o aeroporto. O exército estava nas ruas em combate numa guerra civil que só então souberam já havia derrubado centenas de pessoas.

– Não acredito que nos trouxeram para um lugar desses – exclamou o zagueiro Vicente. 

Pelé e a vibração pelo gol (robertoassaf.com.br)


A tensão diante de tantos milicianos armados perdurou até a hora do jogo. Enquanto o time se ‘fardava’, alguém jogou uma bomba de gás lacrimogêneo no vestiário. Bateu o pavor e alguns militares cercaram a delegação para protegê-la de novos atentados. Pelé, Vicente, Pepe, Edu, Oberdan foram a campo com uma toalha molhada ao rosto.

Pelé marcou o único gol da vitória sobre a seleção do país – o que reforça a tese de Oberdan sobre o interesse dele em liquidar o jogo e voltar a salvo para casa o mais rápido possível. Mas desta vez não foi tão fácil. Feito o gol aos 43 minutos do primeiro tempo, a torcida invadiu o gramado.

Colocaram Pelé sobre os ombros, e o jogo se encerrou. Bastava-lhes ver um gol de Pelé. O resto seria festa. E o sequestraram para fora do estádio em um cortejo alegre em direção ao centro da cidade comemorando a glória de presenciar um gol do brasileiro mágico – tudo acompanhado de perto pelo exército. 

O 'paraíso' ficou para depois (internet)


Carregado sem ação nos ombros do povão, Pelé gesticulava e agradecia, mas seu rosto era de puro medo. Só foi resgatado minutos depois. A delegação antecipou o voo de volta. Adeus descanso. Aquele dia de folga no mar do Caribe ficou para uma outra excursão. Possivelmente depois que a guerra acabasse.


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