Toco, Travo e Canelada


LENIVALDO ARAGÃO


Gata Mansa


O jornalista Robério Vieira foi um cearense de Mombaça, que viveu algum tempo – pouco – no Recife. Depois se mandou para o Rio, onde se deu bem. Passou pelo Jornal dos Sports, Diários Associados e várias rádios. Chegou a ser correspondente carioca da nossa Rádio Clube.
Galegão forte. Rosto avermelhado, boêmio, despachado. Tinha um jeito bonachão e manhoso. Por isso terminou recebendo o apelido de Gata Mansa. Não era uma sumidade como jornalista, mas tinha amigos e conhecidos por todo lado. Era festejado, onde chegasse.
 Com a maior boa vontade, quebrava qualquer galho que algum colega lhe apresentasse. E como havia. Na minha fase no Diário de Pernambuco, quando alguém ia fazer uma cobertura no Rio, juntava-se a Robério, que, trabalhando na Agência Meridional, do império jornalístico criado por Assis Chateaubriand, dava apoio integral ao visitante. Na Redação e na bebericagem.
 A maneira comunicativa e sua penetração no mundo da imprensa esportiva, tornou-o assessor de imprensa da CBF, de 1982 a 1990. No cargo esteve presente às copas do mundo de 1974 (Alemanha), 1978 (Argentina), 1982 (Espanha), 1986 (México), 1990 (Itália) e 1998 (França).

 Gata Mansa cercado de jornalistas, passando informações da Seleção (Terceiro Tempo/Uol)


Gata gostava imensamente do Recife, onde morou em pensão, na Rua da Concórdia. Quando tinha uma chance sempre vinha à capital pernambucana. Era recebido de braços abertos pelo saudoso presidente da FPF Carlos Alberto Oliveira.
A maneira expansiva, levando-o a estar sempre brincando com uns e com outros, não perdendo a chance para bater um papo, fazia com que muitas histórias circulassem a seu respeito.
Conta-se que numa das inúmeras viagens da Seleção de que participou, o avião conduzindo a Canarinha acabara de deixar Zurique, na Suíça, rumo a Copenhague, na Dinamarca.
Voo sereno, Gata conversava animadamente com o dirigente Medrado Dias, enquanto sorvia deliciosas doses de uísque. De repente, olhando pela janela, vendo as montanhas lá embaixo, afirmou:
– Puxa, como são grandes esses Andes. São uma cordilheira e tanto...
– Muito grandes, realmente – concordou Medrado, ironicamente.
– Começam lá na Colômbia e chegam até aqui. Na realidade, eram os Alpes suíços.
Noutra ocasião, a Seleção voltava para casa após mais uma peregrinação por gramados europeus. Dentro da aeronave, muita animação. Ambiente descontraído, piadas, brincadeiras. Como sempre, o assessor de imprensa tomando todas.
Naquele voo as conversas variavam. Jornalistas faziam reportagens especiais com os craques, e estes atendiam a turma da imprensa com muita presteza.
Não havia necessidade de recorrer ao assessor para isso.  O relacionamento entre eles e o povo da mídia era corriqueiro, natural e cordial.
Viagem tranquilíssima, céu de brigadeiro. Eram os bons tempos da Varig, um símbolo do Brasil por esse mundo afora. Nas suas aeronaves comia-se e bebia fartamente, na base do 0800.
Cansaço chegando, depois da longa travessia do Atlântico, o comandante avisa:
– Atenção, senhores passageiros. Já estamos sobrevoando território brasileiro. Passamos neste momento sobre a cidade do Recife. Voamos numa altitude de 11 mil metros.
 Gata, já com a cara cheia, arrancou aplausos de um canto a outro do avião, ao fazer este comentário:
 – Eu sabia que o Brasil era muito grande, mas não sabia que era tão alto.


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