Toco, Travo e Canela


LENIVALDO ARAGÃO


Cafezinho e a tática de Mário Juliato


O lateral-direito Cafezinho, egresso de Alagoas, encaixou-se de vez no folclore do futebol, até mesmo por causa de uma briga que pegou contra Romário, quando defendia o Madureira. Mas esta é outra história.
Sabe-se que certa vez ele estava fazendo um teste no Corinthians, ainda quando procurava se firmar no futebol. Numa disputa pela lateral, foi com tanta vontade na bola, que deu um carrinho num dirigente. O cartola foi à lona e teve que ser atendido pelo departamento médico. Com essa, Cafezinho ganhou imediatamente o olho da rua.
Cafezinho defendeu o Náutico e passou um tempo emprestado ao Santa Cruz. Vibrou intensamente ao mudar de cores, sob a alegação de que estava ganhando um salário de fome, nos Aflitos e iria melhorar de vida. Pouco tempo depois queixou-se de que o dinheiro que embolsava no Arruda não dava mais para nada. Melhor seria se tivesse continuado no Náutico.
Cafezinho no Náutico (O Cirioso de Futebol)


Quando dirigiu a equipe alvirrubra pela segunda vez, em 1994, o recém-falecido Mário Juliato criou uma espécie de código junto aos jogadores. Havia a tática 1, a tática 2 e a tática 3. O time começava a jogar na tática 1, por exemplo, e mais tarde, se houvesse necessidade de alterar a postura em campo, Juliato mandava um recado, determinando a mudança para a 2. O pessoal já sabia de cor e salteado, depois de muito treino, é claro, a nova maneira de o time se colocar em campo. E obedecia cegamente.  Se a mudança não desse certo, era sair para a tática 3. Tudo bem ensaiado. Logicamente, Cafezinho se enquadrava no contexto.
Certa vez, o Santa Cruz se encontrava em Fortaleza para enfrentar o Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro. Juliato, que dirigia o Ceará, resolveu fazer uma visita à delegação tricolor, uma vez que, comunicativo e brincalhão, como era, tinha amigos em tudo o que era canto.
No saguão do hotel, Juliato batia um animado papo com Charles Muniz, que dirigia a equipe coral e com quem havia trabalhado no Náutico. Nisso apareceu Cafezinho. Cumprimentou seu ex-treinador e entrou na roda. Em dado momento, o jogador quis saber se Juliato continuava aplicando os mesmos sistemas táticos 1, 2 e 3, que ele manjava bastante.
– Aqui no Ceará eu mudei. Agora não tem mais 1, 2, 3, passei a usar A, B e C – respondeu o treinador, em tom de gozação.
Um tanto espantado, com cara de surpresa, Cafezinho encarou Juliato e comentou:
– Agora fiquei todo atrapalhado. Com essa mudança eu não sei mais como o time do senhor joga.
Mário Juliato e Charles Muniz não conseguiram conter e dispararam sonoras gargalhadas.

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