Ô,ô,ô, saudade...

Antonio Maria era um pernambucano ausente e saudoso (Fundação Joaquim Nabuco)



Folião à minha maneira, fazendo o passo rasgado – hoje nem tanto – sem precisar ninguém me ensinar, estou entrando no clima de mais uma folia. Dentro do possível, focalizarei alguns frevos ou algumas histórias que tenham alguma ligação com o futebol. Como o que vou recordar, oficialmente chamado Frevo nº 1.

Do seu 'exílio' no Rio de Janeiro, o célebre compositor e jornalista recifense ANTONIO MARIA Araújo de Morais, externava assim sua nostalgia ao relembrar os amigos, a boemia, o Carnaval e a atividade de radialista na Terra dos Altos Coqueiros:
Ô, ô, ô, saudade
Saudade tão grande
Saudade que eu sinto
Do Clube das Pás, do Vassouras
Passistas traçando tesouras
Nas ruas repletas de lá
Batidas de bombos
São maracatus retardados
Chegando à cidade, cansados,
Com seus estandartes no ar.
Que adianta se o Recife está longe
E a saudade é tão grande
Que eu até me embaraço
Parece que eu vejo
Valfrido Cebola no passo
Haroldo Fatia, Colaço
Recife está perto de mim.

GRANDES FIGURAS

Primeiro, falarei rapidamente do célebre compositor, que começou na área, como locutor da Rádio Clube de Pernambuco. Na época fazia de tudo, inclusive atuando como cronista esportivo. Os personagens por ele citados na letra eram seus amigos.

Haroldo Fatia era ex-jogador do Sport, time pelo qual Antonio Maria torcia. Militava na crônica esportiva com o nome verdadeiro: Haroldo Praça. O apelido de Haroldo Fatia decorria da sua imensa magreza no tempo de jogador, sendo comparado a uma fatia de pão. Haroldo Fatia entrou para a história do futebol pernambucano por ter assinalado o gol da vitória por 6 x 5 do Sport sobre o Santa Cruz, na chuvosa manhã do domingo 4 de julho de 1937, quando da inauguração do Estádio da Ilha do Retiro. O jogo estava empatado em 5 x 5, e ele, com uma cabeçada, apesar de não ser alto, determinou o placar final.

Haroldo Fatia


Valfrido Cebola, além de carnavalesco era ligado ao Santa Cruz, como diretor e treinador dos juvenis. Figura popularíssima e um dos parceiros de Antonio Maria na peregrinação pelos bares da cidade.

Colaço, bebum muito conhecido, torcedor do Sport, irreverente, podia ser visto ainda nos anos 60 na calçada do tradicional Bar Savoy, geralmente com uma camisa rubro-negra, pedindo a um e a outro para pagar-lhe uma bebida. Mexia com todos os conhecidos e era suportado, mesmo pelos adversários. Tipo engraçado, era outro companheiro de boemia de Antonio Maria.

Quanto a Antonio Maria, de aguçada inteligência, nascido numa família originária da indústria açucareira, deixou o Recife muito cedo, no início dos anos 40, em busca de um lugar ao sol no Rio de Janeiro, então a capital da República, de imensa efervescência cultural, ambiente apropriado para Antonio Maria. Antes de consagrar-se, efetivamente, na Cidade Maravilhosa, ele deu uma saída para atuar em Fortaleza e Salvador.

Nascido na capital pernambucana em 17/3/1921, Antonio Maria morreu no Rio de Janeiro, de repente, em plena divagação noturna, em 15/10/1964, com 43 anos. Deixou uma série de composições na área romântica, gravada por uma variedade de intérpretes, e mais dois frevos demonstrando a dor de cotovelo em relação à cidade natal.

Antonio Maria teve um filho também jornalista, atuando na área esportiva. Trata-se de Antonio Maria Filho, cuja carteira de identidade dá a cidade de Palmares, como local de seu nascimento. Durante muitos anos fez parte da equipe esportiva de vários jornais do Rio, principalmente do Jornal do Brasil.

Quando vinha ao Recife, Antonio Maria tinha por 'obrigação' tomar umas e outras com um seu parente, o desportista José Moriais, ou Morais do Queijo, que nos anos 60 viria a ser um dos cinco componentes do Bloco dos Josés, do Náutico, coordenado pelo executivo do Banco Nacional do Norte, o Banorte, José Porfírio de Andrade Morais..

Comentários

  1. 👏👏👏👏Ótimo, conheci alguns dos personagens citados, menos o principal, Antônio Maria. Este, só o conhecia das páginas dos jornais.
    José Torres

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