Inglês reinava no campo, ao surgir o futebol em Pernambuco


“... a bola bateu no poste do goal e voltou. O referee apitou, mas vendo que não tinha saído, mandou continuar. Um minuto após Costa Campos pôde, com um bom passe de Pitota, varar o goal do Flamengo. Houve protestos por parte do goal-keeper do Flamengo, alegando ter o referee apitado e não poder continuar o jogo. O referee chamou os dois linesmen e consultou-os, embora um dissesse ser o goal legal, o do Flamengo respondeu ser da sua equipe e não achar legal. O referee, embora certo do goal, deu como não goal. Não demorou mais de três minutos, Tasso, com um shoot vazou pela segunda vez o goal do Flamengo, 2 x 0.”


O Santa Cruz, com destaque para o afrodescendente Lacaraia


Foi assim que o Jornal Pequeno descreveu um momento importante do jogo que abriu o Campeonato Pernambucano de 2016, no dia 30 de abril, no campo do British Club, localizado no trecho compreendido entre a Ponte d'Uchoa e o Museu do Estado, na Av. Rui Barbosa, no Recife.

Como se observa, o inglês ainda dominava a nomenclatura no futebol, no Brasil, uma vez que tinha sido trazido como uma tremenda novidade por rapazes nascidos em famílias bem aquinhoadas que iam estudar na Inglaterra. Assim, o jornal ao citar o referee  referia-se ao árbitro; goal-keeper: era goleiro, e linesmen: juízes de linha ou bandeirinhas.

No ano anterior, o Santa havia participado da partida que abriu o primeiro de todos os Campeonatos Pernambucanos. Naquela ocasião, em jogo disputado na Campina do Derby, em 1º de agosto de 1915, o Tricolor derrotou o Coligação Recifense por 1 x 0. Portanto, a equipe do Arruda, na época, localizada na Boa Vista, foi a primeira a vencer centenária trajetória do certame e a marcar o primeiro gol da história da competição, com Mário Rodrigues. 

O gol, considerado um frangaço, foi assim descrito pelo Diario de Pernambuco em sua edição de 3 de outubro de 1915: “Já pouco falta para terminar o jogo, quando o sr.  Mário Rodrigues chuta a bola do meio do campo e consegue marcar um goal para o Santa Cruz." Mais adiante, o mais antigo jornal em circulação na América Latina conclui: " Não fora a falta de um goal-keeper ao Colligação e as belas defezas (sic) de Ilo, certo terminaria por um empate.”

Assim sendo, o Santa abriu as duas primeiras edições do Campeonato Pernambucano, vencendo. Em ambos foi o vice-campeão.

No primeiro campeonato, o de 1915, os participantes foram 
1º) Flamengo (campeão), 12 pontos - a vitória valia dois pontos

2ª) Santa Cruz (vice-campeão), 10
3º) Torre, 8
4º) América, 3
5º) Centro Sportivo Peres, 3
6º) Coligação, 0

No ano seguinte, a novidade foi a presença do Sport, que quatro novos clubes, o Sport, que se sagraria campeão, Náutico, Paulista e Casa Forte. Os demais participantes foram América, Centro Esportivo do Peres, Flamengo, Santa Cruz e Torre, totalizando nove equipes. A classificação final foi esta:

1º) Sport (campeão), 14
2º) Santa Cruz (vice-campeão), 12
3º) América, 11
4º) Náutico, 10
5º) Flamengo, 10
6º) Torre, 6
7º) Paulista, 4
8º) Peres, 1
9º) Casa Forte, 0 .

O Santa Cruz em 1915 - Ilo; Braz e Silva; Manoel Pedro, Carvalho e Anagan; Jorge, Mário Rodrigues, Pitota, Alberto e Dória.

No seu segundo ano no campeonato, o Santa Cruz tinha esta formação: Ilo; Mangabeira e Reis; Valença, Teófilo, conhecido popularmente por Lacraia e Manoel Pedro; Silva, Pitota, Zé Tasso, Alberto e Dória. 


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