O ex-juiz foi salvo pela seresta




Francisco Domingos (C) ao lado de Erick Bandeira num sorteio de árbitros (Foto: Divulgação)

Francisco Domingos é uma figura querida no futebol pernambucano. Foi árbitro muito tempo e já esteve à frente da Comissão Estadual de Arbitragem, a Ceaf-PE, à qual permanece ligado. Sempre faz parte da equipe que antes dos campeonato estaduais, desbrava o Estado, vistoriando cada um dos campos, onde os jogos serão realizados. Onde chega é festejado.

De espírito brincalhão e bastante receptivo, nas confraternizações de fim de ano da FPF, na época do saudoso Carlos Aberto Oliveira, Chico não perdia a chance de ir para o palco, onde um conjunto musical animava a festa. Já de camburão cheio, tome velha guarda, ou brega, como queiram. Era muito aplaudido. O presidente da federação, sentimental, festeiro e boêmio, incentivava o árbitro cantor, No enterro de Carlos Alberto, no Cemitério de Santo Amaro, Chico Domingos, momentos antes de o corpo descer à sepultura, emocionou todo o mundo, ao cantar “Amigos para Sempre”, uma das canções preferidas pelo ex-dirigente.

Há alguns anos, como um dos observadores de arbitragem que a CBF mantém Brasil afora, Francisco Domingos foi ao Rio participar de um treinamento. Começaria numa segunda, mas ele viajou logo na sexta para curtir o fim de semana na Cidade Maravilhosa, incluindo a presença numa boa gafieira.

No domingo, Flamengo e Botafogo decidiam o Campeonato Carioca. Chico, sem se articular, resolveu ir ao jogo. Dirigiu-se ao Maracanã e ficou penando. Sua carteira de observador da CBF, solicitando em quatro idiomas a colaboração das autoridades para “a entrada do portador do documento no estádio”, de nada valia.

Em dado momento avistou Renildo Calheiros, ex-prefeito de Olinda. Fez-lhe a s maiores honras, achando que, como o homem era deputado federal, quebraria seu galho. Qual nada! Ficou a ver navios.

Resolveu comprar ingresso, mas as bilheterias do Maraca já estavam zeradas. Os cambistas pediam 150 mangos por uma entrada, mais do que o dobro do preço oficial. Achou uma exorbitância. Ficou pra lá e pra cá, com cara de choro, quando um dos chefes do policiamento quis saber o que se passava. Explicou a situação e mostrou as credenciais. Pediu a colaboração do oficial que chefiava a patrulha, mostrando-lhe todas as carteiras de que dispunha.
– Se o senhor com essa parafernália toda não consegue entrar, eu não posso fazer nada – respondeu o policial, para o desencanto do ex-árbitro.

            Pouco tempo depois, uma funcionária do serviço de arrecadação, notou sua aflição. Quis saber a razão de tanto aperreio. Chico contou seu drama. Quando soube que se tratava de um pernambucano, a moça deu-lhe um sinal de esperança:
– Já melhorou porque eu também sou de lá,
 Chico vibrou, mais ainda quando a garota lhe disse:  
 – Todo ano passo as férias em Pernambuco e tenho a impressão de que lhe conheço, mas não é de futebol.
 Afirmou que uma das coisas de que mais gostava era a tradicional serenata dos fins de semana nas ladeiras de Olinda. O coração de Chico Domingos disparou:
 – Eu canto na serenata. Então, é de lá que você me conhece.
Estava dada a senha para Chico entrar numa fila de idosos e assistir ao jogo com todo o conforto, numa cadeira especial, ao custo 0800. 


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