Boi brabo
Houve uma época em que o
time do América era dirigido por Schiller Diniz, um mineiro que tinha sido jogador
do Náutico e do Sport. Mesmo depois de ter descalçado as chuteiras permaneceu
aqui, até morrer, sempre ligado ao futebol.
Tratava-se de uma pessoa educadíssima,
organizada e correta. Levava as coisas muito a sério.
O Alviverde contratou um
atacante famoso no futebol das usinas, conhecido por Boi. Fazia horrores pelos
canaviais. No Campeonato das Usinas, que movimentava a Zona da Mata de
Pernambuco, de Norte a Sul, e revelou vários craques, como o artilheiro Ramon, onde
chegasse Boi se constituía em atração. Todos queriam vê-lo. Foi com esse cartaz
que pintou no clube da Estrada Arraial, no bairro de Casa Amarela.
Poucos dias depois da
chegada de Boi ao América, numa rápida reunião com os jogadores, antes de um treino, Schiller
Diniz avisa que o novato, dali para frente, passaria a ser tratado pelo seu
nome de batismo, Valmir. Nada de Boi.
– Esse negócio de apelido
denigre a imagem do jogador – disse o treinador.
Após o
atacante Valmir, ex-Boi, participar de alguns treinos e mostrar-se devidamente
preparado e entrosado com o time, veio seu jogo de estreia. Schiller cuidou de
passar-lhe o bizu tático:
– Valmir, quando a gente
atacar pelo lado oposto àquele em que você se encontrar, não tenha dúvida, entre
pela diagonal.
A resposta do jogador soou
como um desacato ao técnico:
– Não dá pra entrar assim
não – disse Valmir, o ex-Boi, seca e decididamente.
–Por que não dá? – indagou o
treinador, entre perplexo e nervoso.
– Porque quem corre em
diagonal é trem e eu não sou trem pra correr desse jeito– afirmou o jogador.
O gentleman Schiller Diniz
deve ter chegado à conclusão de que estava lidando com um verdadeiro ‘boi brabo’,
que fazia jus ao apelido.
Certamente, o desapontado treinador buscou uma fórmula menos ‘complicada’
para Valdir, o ex-Boi cumprir sua missão no time..
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