Toco, Travo e Canela - LENIVALDO ARAGÃO


Boi brabo




Houve uma época em que o time do América era dirigido por Schiller Diniz, um mineiro que tinha sido jogador do Náutico e do Sport. Mesmo depois de ter descalçado as chuteiras permaneceu aqui, até morrer, sempre ligado ao futebol.

Tratava-se de uma pessoa educadíssima, organizada e correta. Levava as coisas muito a sério.

O Alviverde contratou um atacante famoso no futebol das usinas, conhecido por Boi. Fazia horrores pelos canaviais. No Campeonato das Usinas, que movimentava a Zona da Mata de Pernambuco, de Norte a Sul, e revelou vários craques, como o artilheiro Ramon, onde chegasse Boi se constituía em atração. Todos queriam vê-lo. Foi com esse cartaz que pintou no clube da Estrada Arraial, no bairro de Casa Amarela.

Poucos dias depois da chegada de Boi ao América, numa rápida reunião com os jogadores, antes de um treino, Schiller Diniz avisa que o novato, dali para frente, passaria a ser tratado pelo seu nome de batismo, Valmir. Nada de Boi.
– Esse negócio de apelido denigre a imagem do jogador – disse o treinador.

Após o atacante Valmir, ex-Boi, participar de alguns treinos e mostrar-se devidamente preparado e entrosado com o time, veio seu jogo de estreia. Schiller cuidou de passar-lhe o bizu tático:
– Valmir, quando a gente atacar pelo lado oposto àquele em que você se encontrar, não tenha dúvida, entre pela diagonal.
A resposta do jogador soou como um desacato ao técnico:
– Não dá pra entrar assim não – disse Valmir, o ex-Boi, seca e decididamente.   
–Por que não dá? – indagou o treinador, entre perplexo e nervoso.
– Porque quem corre em diagonal é trem e eu não sou trem pra correr desse jeito– afirmou o jogador.
O gentleman Schiller Diniz deve ter chegado à conclusão de que estava lidando com um verdadeiro ‘boi brabo’, que fazia jus ao apelido. 
Certamente, o desapontado treinador buscou uma fórmula menos ‘complicada’ para Valdir, o ex-Boi cumprir sua missão no time..

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