Zé Bonitinho



O alagoano Peu, que defendeu o Santa Cruz, está encaixado no folclore do futebol brasileiro.

Quando da chegada à Gávea para defender o Flamengo, procedente de Maceió, onde pertencia ao CSA, que o revelou, foi logo servindo de divertimento para a turma.

Peu (medium.com)


Os jogadores estavam reunidos no gramado, na tradicional resenha que antecede o início do treino. De repente, tiveram sua atenção despertada pela aproximação daquela figura um tanto quanto exótica, de sapatos brancos, calça rosa, cinto vermelho, camisa amarela e uma mala de couro.

Jogador não perde uma oportunidade como essa, e logo começou uma gozação geral, com cada um soltando uma piada, sem que o recém-chegado percebesse, pois ainda vinha caminhando.

Estava acompanhado de um funcionário do clube, que tomou posição para apresentá-lo como o mais novo profissional do Flamengo. Todavia, o ponta Luís Fumanchu, aquele que foi do Sport e do Santa, adiantou-se e tomou a palavra:
– Bom, minha gente, acaba de chegar mais um companheiro nosso.
E apontando para Peu, completou:   
– Quero lhes apresentar Zé Bonitinho.

A referência a um cômico da televisão, que fazia as vezes de um malandro carioca, vestindo-se da forma mais esquisita possível, provocou uma sonora gargalhada da galera. Pronto, Peu acabara de ser batizado no seu novo clube.

Zé Bonitinho (Reprodução)


Metido numa porção de cobra criada, o novato passou a ser alvo de inúmeras brincadeiras.
Certa vez, numa viagem ao Japão, Zico e Júnior, que ocupavam poltronas junto de Peu, combinaram mais uma sacanagem. Júnior ficaria de braços cruzados no seu assento, mas numa posição que lhe possibilitasse mexer no interruptor colocado no braço da cadeira, acendendo e apagando a luzinha para leitura de bordo, sem que seu gesto fosse percebido.

Por sua vez, Zico piscaria o olho, simultaneamente, como se essa piscadela provocasse a movimentação da lâmpada.

A operação foi realizada mais de uma vez, com êxito total, pois a gesticulação de Júnior e o pestanejar de Zico eram ações bem coordenadas. E Peu ali juntinho, acompanhando tudo.
Peu mostrou-se meio desconfiado com o que tinha presenciado, porém os argumentos técnicos de Zico terminaram deixando-o encantado com a ‘mágica’. Apesar de tudo continuava descabreado. Poderia ser mais uma greia das muitas de que era vítima. No entanto, como havia acompanhado ao vivo, não havia motivo para não acreditar.

Algum tempo depois, Zico e Júnior mudaram de lugar e entraram numa disputa de dominó com o centroavante Nunes – também ex-Santa Cruz – mas só para disfarçar. Ficaram de antenas ligadas. Não demorou muito para Peu resolver tirar a prova dos nove, ficando a fechar e abrir o olho em direção à luminária, insistentemente. Nada feito. Encabulado, encostou a cabeça, fingindo que pegara no sono e não estava notando a zona que Zito e Júnior faziam, agora com o reforço do Cabelo de Fogo.
  
  

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