A mancada do goleiro Válter no Equador

Em dezembro de 1959, quando a Seleção Pernambucana encontrava-se no Equador representando o Brasil num Campeonato Sul-Americano realizado em caráter extraordinário para marcar a inauguração do estádio oficial de Guayaquil, a permanência da chamada Seleção Cacareco em terras equatorianas atravessou de um ano para outro. Ou seja, Natal e Reveillon, a turma curtiu longe de casa.

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Mesmo não sendo a verdadeira Seleção Brasileira, a Cacareco era muito badalada. Para todos os efeitos, tratava-se do Brasil, que um ano antes espantara o mundo, sagrando-se campeão do mundo em gramados suecos. Os jogadores eram bastante solicitados e muita gente debutava em entrevista na televisão, coisa da modernidade, que ainda estava sendo instalada em Pernambuco. 

O Sul-Americano, com outro formato, era o que é hoje a Copa América.  Deu Uruguai na cabeça, ficando a Argentina como vice e o Brasil em terceiro lugar. Ganhamos do Paraguai e do Equador e perdemos para a Argentina e o Uruguai.

Nas festas de fim de ano, famílias de Guayaquil convidaram alguns jogadores para suas casas, procurando fazer com que afugentassem um pouco a saudade dos entes queridos, dos quais estavam tão distantes. O goleiro reserva, Valter, foi um deles. Ele tinha feito amizade com o pessoal de um próspero empresário, em cuja residência passou a noite de Natal, tão festejada pela cristandade.

Depois de muita conversa e alguns aperitivos foi servido o jantar. Em dado momento, o alegre convidado causou uma hecatombe na mesa ao pedir uma concha para servir-se da fumegante sopa que acabara de chegar.

Silêncio geral. As mulheres baixaram a cabeça envergonhadas e os homens ficaram de cara vermelha. Valter, cheio de dedos, sentiu que havia dado um fora, porém, só veio a entender a dimensão da senhora mancada, quando o dono da casa chamou-o a um canto e explicou o significado da palavra concha.

O goleirão ficou mais do que encabulado, procurou chão para pisar e não encontrou. Bom, concha em alguns países da América do Sul é gíria. Significa justamente isso o que vocês maldosamente devem estar achando.

Na realidade, ele deveria ter pedido um cucharón...