O Maracanazo fez 70 anos


Lucídio José de Oliveira, médico e escritor



Faz algum tempo, um grupo de jornalistas, muito deles meus amigos, entre os quais Antônio Portela, um dos líderes, reuniram-se num restaurante em Boa Viagem para ouvirem, juntos, uma fita com todo o jogo Uruguai 2 x Brasil 1, narrado na época por Antônio Cordeiro e Jorge Cuiy para a Rádio Nacional. Isso foi logo depois que Paulo Perdigão publicou no seu “Anatomia de uma Derrota”.

Uma e outra coisa, a atitude inusitada dos amigos jornalistas e o antológico livro de Perdigão – uma breve secção psicanalítica coletiva para se livrar e ajudar todos nós a se ver também livre do trauma do Maracanazo, episódio esportivo que muitos, metaforicamente, veem como a “luta tenaz e inglória do homem contra a morte” – sempre me pareceram coisas solenemente patéticas. A reunião no restaurante e o antológico livro de Perdigão. 

Na vida ganham-se algumas batalhas para perder justamente a última e definitiva, como pensa o jornalista citado. É o que aconteceu, como se fora uma tragédia grega, na Copa de 50. O Maracanazo é irremediável. Não volta atrás. Mudou a vida e o olhar de muita gente com relação ao futebol. Mas não acontece de novo, não há uma segunda chance. Nem em 2014, o 7x1, no Mineirão, teve força demolidora igual. Nem o 7x1, nem Sarriá em 82. Derrota pra mim em futebol, depois do Uruguai 2x1, e eu tinha apenas 18 anos, passou a ser a coisa mais natural do mundo. Foi lição. E nada mais pesou tanto em futebol.

Comentários