SELEÇÃO CACARECO (19)



EQUIPE EMBALADA PARA O CAMPEONATO BRASILEIRO

De volta do Equador, a Cacareco sequer foi desmontada e passou a se preparar para o Campeonato Brasileiro, que envolvia seleções estaduais e se realizava a cada dois anos. O de 1959 tinha se estendido até 1960. E Pernambuco iria entrar de cara.

Voltando mais no tempo, o torcedor ainda se orgulhava da grande façanha pernambucana no certame de 1956, terminado em 1957. A equipe alviazulina, comandada pelo técnico Palmeira (José Mariano Carneiro Pessoa), gente de casa,  conseguira a proeza de participar do turno final pela primeira vez. Era o filé do campeonato. Rio e São Paulo tinham cadeira cativa. Privilegiados, não disputavam a fase classificatória e chegavam lá sem precisar sofre, como os demais participantes. Minas Gerais e Rio Grande do Sul sempre se faziam presentes, por méritos próprios, é bom que se diga. Disputavam a vaga, como simples mortais.

Relembrando façanha histórica
Naquele campeonato, depois de eliminar o Ceará, vencendo em Fortaleza e no Recife por 1x0, Pernambuco enfrentou o Rio Grande do Sul, na tentativa de participar do tal quadrangular final, um terreno onde jamais havia pisado.

Daquela vez, os pernambucanos conseguiram furar o bloqueio, formando o quarteto final com paulistas, cariocas e mineiros. Portanto, os gaúchos sobraram.

O consagrador feito de Pernambuco tornava-se, dois anos depois, um poderoso incentivo para a Seleção Cacareco, que certamente regressara a Pernambuco mais experiente, depois de participar de um campeonato internacional.

Equipe que eliminou o Ceará antes de enfrentar o Rio Grande do Sul. Em pé, Zezinhpo, Gringo, Ivson,Rubinho e Zeca; agachados, Zequinha, Mirim, Oswaldo Baliza, Lula, Aldemarbe Nenzinho

Voltando à disputa do Brasileiro de 1956, depois de eliminar o Ceará, que havia despachado o Maranhão e o Rio Grande do Norte, Pernambuco obteve a classificação para enfrentar o Rio Grande do Sul, que vinha de uma grande conquista, também vestindo a camisa da CBD. No início de 1956, a equipe dos Pampas representou o Brasil no Pan-Americano, no México, e   voltou com o bicampeonato, pois já éramos campeões. Portanto, os gaúchos mereciam todo o respeito.

Naninho x Bodinho
O primeiro jogo foi disputado no Recife. Vitória de Pernambuco, na Ilha do Retiro, por 2 x 1. A curiosidade, bastante badalada pela imprensa, foi a presença do goleador gaúcho Naninho, na equipe de Pernambuco, e do pernambucano Bodinho, também artilheiro, na seleção do Rio Grande do Sul.

Bodinho


Na arbitragem, Anver Bilati-RJ. Naninho fez os dois gols de Pernambuco, e Ênio Andrade marcou para o Rio Grande do Sul.

Outro fato a chamar a atenção foi a escalação pelo técnico Palmeira dos cinco jogadores que compunham o ataque do Sport, de acordo com a formação das equipes usada naquele tempo.

Naninho

Pernambuco: Oswaldo; Caiçara e Lula; Zequinha, Mirim e Nenzinho; Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Geo. Técnico: Palmeira.
Rio Grande do Sul: Sérgio Moacir; Airton Pavilhão e Duarte; Oreco, Odorico e Ênio Rodrigues; Chinesinho, Bodinho, Juarez. Ênio Andrade e Hercílio. Técnico: Teté.

Chuva de gols
A Seleção Cacareco saiu de Pernambuco para fazer o segundo encontro no Rio Grande do Sul, achando-se  em condições de, pelo menos, voltar com um empate, resultado que a manteria na disputa. No entanto, foi tudo diferente.

Na noite de 24 de janeiro de 1957, a equipe alviazulina era impiedosamente goleada no Estádio Olímpico por 5 x 1. O atacante Larry, que não havia jogado no Recife, marcou três gols, tendo Bodinho assinalado dois. O gol de honra de Pernambuco foi de Naninho. Arbitragem de Alberto da Gama Malcher, do Rio de Janeiro.

Rio Grande do Sul: Sérgio Moacir; Airton Pavilhão e Paulistinha; Oreco, Odorico e Ênio Rodrigues; Chinesinho, Jari, Larry, Bodinho e Hercílio. Técnico: Teté.
Pernambuco: Oswaldo; Caiçara e Lula; Zequinha, Mirim e Nenzinho; Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Zeca. Técnico: Palmeira.

Extraordinária reação
A goleada teve efeito de uma hecatombe. Os jogadores ficaram muito acabrunhados, não pela derrota em si, mas pelo elástico placar. Porém, pouco a pouco foram deixando a tragédia para trás e passaram a se concentrar no terceiro jogo, que, por força do regulamento, seria realizado em Porto Alegre.

A negra, como era chamado esse tipo de partida, foi novamente disputada no Olímpico, em 26 de janeiro. O torcedor gaúcho lotou o estádio, esperando outra goleada a ser proporcionada pelos comandados de Teté. Num jogo dramático, Pernambuco conseguiu dobrar a fúria dos donos da casa, repetindo o escore do Recife: 2 x 1.

Zequinha aos 5 e Traçaia aos 21 minutos do primeiro tempo marcaram para Pernambuco; Oreco, aos 26 do segundo, fez o gol do dono da casa. O encontro foi tumultuado e passou muito tempo paralisado, ameaçado de suspensão. Em dado momento, o lateral esquerdo Nenzinho chegou a danificar a máquina de um repórter fotográfico gaúcho ao desferir-lhe um pontapé propositalmente.

Sobre os incidentes, o, na época, narrador Luís Cavalcante, disse em entrevista a mim concedida, em 2013 para a Revista dos Esportes, publicada posteriormente pela Clássico.Com:

(...) Fiquei hospedado no Hotel São Luís, na Avenida Farrapos, caminho do aeroporto. Na segunda partida levamos 5 a 1. Foi aquela zona, os caras do hotel gozando. No outro dia após a goleada teve um jornal que botou: “Jogando metade de seu futebol, gaúchos golearam pernambucanos por 5 a 1.” Eu raciocinei “se jogar tudo, vai ser de dez.” Na hora em que saíamos para ir pro estádio (para o terceiro jogo), os caras do hotel diziam que levássemos um saco pra trazer cheio de ‘golos’. Ou seja, perderam o respeito. Ganhamos o jogo, mas foi tumultuado. Caiu uma pilha de caixa de cervejas por trás da arquibancada, houve pânico, e a torcida correu, passando por cima do alambrado, como se fosse de papel. Interrompeu-se o jogo, e nós já estávamos ganhando. Ainda me lembro, gols de Traçaia e Zequinha. Nós, cronistas de Pernambuco, pegamos Rubem Moreira, que era novo ainda na federação, dizendo-lhe que o jogo teria que acabar. Que se evacuasse o campo e se limpasse tudo, mas não se podia deixar para outro dia não, que o negócio ficaria ruim. Dissemos a Rubem que ficaria difícil até pra ele voltar pro Recife. Rubem foi lá e resolveu a parada. O jogo terminou, eles ainda fizeram um gol, mas Pernambuco venceu por 2 a 1.

O técnico Palmeira

Rio Grande do Sul: Sérgio Moacir; Airton Pavilhão e Paulistinha; Oreco, Odorico e Ênio Rodrigues; Chinesinho, Jari, Larry, Bodinho e Hercílio. Técnico, Teté.
Pernambuco: Aníbal; Caiçara e Lula; Zequinha, Aldemar e Mirim; Traçaia, Naninho, Gringo, Rubinho e Geo. Técnico: Palmeira.

Pernambuco no Quadrangular

03/02/1957 PERNAMBUCO 0x0 RIO DE JANEIRO
Local: Ilha do Retiro, Recife
Árbitro: Gualter Gama de Castro-RJ
Pernambuco: Aníbal; Caiçara e Lula; Zequinha, Aldemar e Mirim; Traçaia, Naninho, Gringo, Rubinho e Geo. Técnico: Palmeira.
Rio de Janeiro: Castilho; Paulinho e Edson; Rubens, Zózimo e Altair; Leo, Índio, Vavá, Dequinha e Pinga. Técnico: Sylvio Pirillo.

06/02/1957 PERNAMBUCO 0x2 SÃO PAULO
Local: Ilha do Retiro, Recife
Árbitro: João Baptista Laurito-PE
Gols: Dino e Tite
Pernambuco: Aníbal; Caiçara e Lula; Zequinha, Aldemar e Mirim; Traçaia, Naninho, Gringo, Rubinho e Geo. Técnico: Palmeira.
São Paulo: Gylmar; Mauro e Olavo; Djalma Santos, Ramiro e Zito; Maurinho, Mazzola, Pagão, Dino e Tite. Técnico: Aymoré Moreira.

10/02/1957 PERNAMBUCO 1x0 MINAS GERAIS
Local: Ilha do Retiro, Recife
Árbitro: José Peixoto Nova-BA
Gol: Ivson, 7 minutos do 2º tempo
Pernambuco: Aníbal; Caiçara e Lula; Zequinha, Aldemar e Nenzinho; Traçaia, Gringo, Ivson, Soca e Geo. Técnico: Palmeira.
Minas Gerais: Edgard; Joãozinho e Afonso; Múcio, Rui e Haroldo; Miguel, Tomazinho, Gunga, Geraldo e Dodô. Técnico: Ricardo Díez.

13/02/1957 RIO DE JANEIRO 4x0 PERNAMBUCO
Local: Maracanã, Rio de Janeiro
Árbitro: Horts Harden-PE
Gols: Waldo (2), Joel e Índio
Rio de Janeiro: Pompeia; Paulinho e Edgar; Benedito, ZózimoExpulso e Altair; Joel, Índio, Waldo, Dequinha e Pinga. Técnico: Sylvio Pirillo.
Pernambuco: Aníbal; Caiçara e Lula; Mirim, Aldemar e Nenzinho; Traçaia, Gringo, Ivson, Soca e Geo. Técnico: Palmeira.

17/02/1957 SÃO PAULO 3x1 PERNAMBUCO
Local: Parque Antártica, São Paulo
Árbitro: Fortunato Francisco Tonelli-SP
Gols: Cláudio (SP), 9 e Del Vecchio (SP) 16 do 1º; Traçaia (PE), 2, e Dino (SP), 41 do 2º.
São Paulo: Gilmar; Mauro e Olavo; Djalma Santos, Ramiro e Zito; Cláudio, Dino, Paulo, Del Vecchio e Tite. Técnico: Aymoré Moreira
Pernambuco: Aníbal; Palito e Lula; Zequinha, Aldemar e Nenzinho; Traçaia, Dimas, Gringo, Rubinho e Geo. Técnico: Palmeira.

20/02/1957 MINAS GERAIS 4x2 PERNAMBUCO
Local: Estádio Independência, Belo Horizonte
Árbitro: Willer Costa-BA
Gols: Miguel (2), Gunga e Geraldo (MG); Gringo e Naninho (PE).
Minas Gerais: Edgard; Múcio e Afonso; Wilson Santos, Rui e Haroldo; Miguel, Nelsinho, Gunga, Geraldo e Dodô. Técnico: Ricardo Díez.
Pernambuco: Oswaldo; Caiçara e Lula; Zequinha, Mirim e Nenzinho; Traçaia, Naninho, Gringo, Soca e Geo. Técnico: Palmeira.

Demais resultados
São Paulo 2x1 Minas Gerais
Minas Gerais 2x2 Rio de Janeiro
Rio de Janeiro 4x0 São Paulo
Minas Gerais 1x3 São Paulo
Rio de Janeiro 2x2 Minas Gerais
São Paulo 2x0 Rio de Janeiro

Classificação final
1º) São Paulo
2º) Rio de Janeiro
3º) Minas Gerais
4º) Pernambuco







Comentários

  1. Muito vivo, Palmeira usou uma estratégia comum naquela época. Juntou a defesa do Náutico, a linha média do Santa e o ataque do Sport. Aproveitando o entrosamento.

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