E O SERTÃO VIROU MAR...

A sensacional conquista do título de campeão pernambucano de 2020 pelo Salgueiro Atlético Clube nessa quarta-feira (5), lembra a célebre e utópica previsão “o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” de Antônio Conselheiro, tido como um fanático religioso e defensor da volta da monarquia já em plena época republicana.

Desde 1961, quando o Central de Caruaru entrou no Campeonato Pernambucano, pelo qual havia tido uma rápida passagem em 1936, falava-se na possibilidade de um dia o título de campeão migrar da Capital para o Interior.

No entusiasmo que passou a dominar toda a região que tem Caruaru como eixo, muitos que acompanhavam apaixonadamente os passos de Náutico, Santa Cruz e Sport, embora sem desprezar as antigas cores, cerravam fileiras em torno da equipe patativa, a novidade do futebol pernambucano.

– O Central será para Pernambuco, o que o Santos é para São Paulo. Teremos em Caruaru o Santos do Nordeste – exagerava no auge da vibração, o banqueiro Gercino Tabosa, um dos maiores desportistas surgidos na Capital do Agreste.

O sonho da interiorização do futebol pernambucano começou a se fortalecer gradualmente. Poucos anos depois do Central foi a vez do Centro Limoeirense, o que me levou a criar o epíteto de “clássico cen-cen” nas páginas do Diario de Pernambuco e ao microfone da Rádio Clube, o que foi seguido pela crônica esportiva, de um modo geral.

Outras equipes foram surgindo no certame, que se tornara realmente estadual. Hoje, com a lei de acesso e descenso tornando obrigatória a subida e a descida entre as duas divisões que formam o palanque do do futebol profissional em Pernambuco tornou-se mais fácil a chegada dos times interioranos ao convívio dos grandes. É verdade que muitos nem têm condições e sobem apenas para que a lei nacional seja cumprida. De qualquer modo não deixa de ser interessante, uma vez que alguns, como vem acontecendo com o recém-criado Retrô mostram a que vieram.

Foram passados 59 anos sem que o Central lavasse a alma do torcedor do Interior tal ironizado pelo pessoal do Litoral – “Pega a bola, matuto” – gritava sarcasticamente o narrador Aldir Doudement ao microfone.

Até que a grande pretensão dos “matutos”, como os “pracistas” tratavam os que não eram nascidos no Recife, fosse alcançada.  Foram muitos os clubes de fora que participaram da roda formada pelas equipes recifenses, até que um deles, no caso o Salgueiro, entrasse para a história, na 106ª edição do campeonato entrasse para a história ao quebrar o tabu.

Confira a relação de todos os clubes, sediados fora da cidade do Recife, que participaram do Estadual até hoje:

Afogados – Afogados da Ingazeira

AGA – Garanhuns

Araripina – Araripina

Asas – Jaboatão dos Guararapes

Atlético – Caruaru

Atlético Pernambucano – Carpina

Belo Jardim – Belo Jardim

Cabense – Cabo de Santo Agostinho

Central – Caruaru

Chã Grande – Chã Grande

Comercial – Serra Talhada

Decisão – Bonito

Desportiva Pitu – Vitória de Santo Antão

Estudantes –Timbaúba

Esporte – Caruaru

Ferroviário – Serra Talhada

Flamengo – Arcoverde

Grêmio – Petrolândia

Itacuruba – Itacuruba  

Paulistano – Paulista

Pesqueira – Pesqueira

Petrolina – Petrolina

Portela – Jaboatão dos Guararapes (Foi o único a anteceder o Central)

Porto – Caruaru

1º de Maio – Petrolina

Retro – Camaragibe  

Serrano – Serra Talhada

Serra Talhada – Serra Talhada

Sete de Setembro – Garanhuns

Surubim – Surubim

Unibol – Paulista

Vera Cruz – Vitória de Santo Antão

Vitória – Vitória de Santo Antão

Ypiranga – Santa Cruz do Capibaribe

 


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