PELÉ, O GÁS E O MAR DE TRINIDAD

 

(Foto, reprodução internet)


Era para ser apenas uma viagem rapidinha ao Caribe. O destino, a paradisíaca Trinidad e Tobago, o mar verde de ondas calmas e coqueirais de coquinhos amarelos. Uma pausa à rotina de jogos do Campeonato Brasileiro, apesar do bate e volta no meio da semana. De novo a delegação do Santos perdeu o encanto ao deixar o aeroporto. O exército estava nas ruas em combate numa guerra civil que só então souberam já havia derrubado centenas de pessoas.

– Não acredito que nos trouxeram para um lugar desses – exclamou o zagueiro Vicente.

A tensão diante de tantos milicianos armados perdurou até a hora do jogo. Enquanto o time se ‘fardava’, alguém jogou uma bomba de gás lacrimogêneo no vestiário. Bateu o pavor e alguns militares cercaram a delegação para protegê-los de novos atentados. Pelé, Vicente, Pepe, Edu, Oberdan foram a campo com uma toalha molhada ao rosto.

Pelé marcou o único gol da vitória sobre a seleção do país – o que reforça a tese de Oberdan sobre o interesse dele em liquidar o jogo e voltar a salvo para casa o mais rápido possível. Mas desta vez não foi tão fácil. Feito o gol aos 43 minutos do primeiro tempo, a torcida invadiu o gramado. Colocaram Pelé sobre os ombros, e o jogo se encerrou. Bastava-lhes ver um gol de Pelé. O resto seria festa. E o sequestraram para fora do estádio em um cortejo alegre em direção ao centro da cidade comemorando a glória de presenciar um gol do brasileiro mágico – tudo acompanhado de perto pelo exército.

Carregado sem ação nos ombros da horda, Pelé gesticulava e agradecia, mas seu rosto era de puro medo. Só foi resgatado minutos depois. A delegação antecipou o voo de volta. Aquele dia de folga no mar do Caribe ficou para uma outra excursão

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