BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

O CASTIGO DO FILHINHO DE PAPAI


 


O boa vida Edgar, Dega para os amigos e familiares, sempre foi um gozador. Chegou ao Náutico, vindo do América. Foi para o Periquito por indicação de Alexandre Borges. Este dirigia o time do Colégio Marista nos Jogos Colegiais e contava com o talento de Edgar. O jovem, além do futebol competia em corridas de velocidade.

Nos Aflitos, Edgar caiu em desgraça com Duque. É que sendo filho de um conselheiro do clube e jogando amadoristicamente, pois o pai não permitia que se profissionalizasse, era tido pelo técnico, como um jogador que não tinha muito futuro, justamente por não levar o futebol a sério. Sabendo que não seria multado por não receber salário, o veloz ponta-direita sempre dava seus escorregões. E a vingança de Duque era barrá-lo.

De certa feita, o Náutico estava inflacionado de ponta-direita – Tonho Boiadeiro, vindo do Bangu, o argentino Ortiz e Ladeira. Este, mesmo sendo meia, quebrava o galho na posição. Com tanta gente para vestir a camisa 7, e com a aversão do treinador, não à pessoa, mas ao jogador Edgar, não restava a este outra opção, que não fosse o time da laranja.

Sentindo que nem tão cedo teria uma chance, Edgar relaxou e passou a ser um assíduo frequentador do departamento médico, cujo titular, Bráulio Pimentel, era quem aguentava o tombo, diante de uma incurável faringite de seu cliente-mor. Diga-se de passagem, Edgar não colaborava, nem um pouco, para se curar.  E ia enrolando.

Se o treino era realizado debaixo de chuva, por exemplo, o ponta não saía do vestiário por causa da faringite, o que irritava profundamente o treinador.

– Que jogador eu tenho, que não pode levar chuva e nem pode levar sol – ironizava Duque.

A coisa ficou divertida porque a doença de Edgar costumava se manifestar no dia de ginástica ou treino técnico. Mas, se havia coletivo ou dois-toques, modalidades em uso naquele tempo, o jogador milagrosamente se recuperava e botava pra quebrar. Depois, no momento adequado voltava a ‘adoecer’.

Só que da escola onde Edgar estava aprendendo, Duque havia sido expulso por ser esperto demais. Um dia o técnico resolveu ter seu dia de caça. Programou um coletivo ou, pelo menos, marcou no quadro de avisos. Edgar chegou aos Aflitos, viu os companheiros no maior papo debaixo das antigas arquibancadas, ficou meio desconfiado, mas se dirigiu ao vestiário, onde se demorou bastante. Deu uma olhada para dentro do campo através de um combogó destinado à ventilação e viu o pessoal iniciando um aquecimento para valer.

Edgar embromava e o tal aquecimento para o treino com bola não terminava. Achando que aquilo não iria ter fim mesmo, o ponta malandro improvisou um curativo, colocando algodão e esparadrapo no pescoço. Procurava demonstrar no mais autêntico cinismo que estava com as amigdalas inflamadas. Realmente, era o dia da caça, não do caçador. Duque ao ver a pantomima não perdoou:

– Major, arruma outra desculpa, que essa tá muito fraca. Quem já viu se aplicar medicação nas amigdalas desse jeito?

Edgar não teve mesmo saída, recebendo logo um ‘castigo’, que foi carregar o pesado goleiro Lula Monstrinho nas costas, de uma a outra extremidade do campo, para deleite e sarro da patota, incluindo o treinador.     

 

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