Caixero, figura lendária do Santa, tira o time de campo

 


 

O dirigente no Ninho das Cobras, novo CT do Santa, sua grande paixão (Globo Esporte)

 

Da sua varanda na Prudente de Morais, João Caixero de Vasconcelos Neto não pôde, desta vez, encher a casa de gente, como acontece todos os anos, para ver ao vivo e a cores, o ruge-ruge do carnaval de Olinda. Os clarins de Momo a pandemia calou.

Por outro lado, o camarote número 6, no primeiro andar do Estádio José do Rego Maciel, quando o futebol voltar a ser liberado para o público, passará a receber novos ocupantes. Já não pertence àquele senhor alegre, receptivo e de cabelos grisalhos, 87 anos, que desde os 17 vive intensamente o Clube das Multidões. Lá, ele recebia a cada jogo do Santinha, parentes, amigos ou velhos conhecidos. Em qualquer partida da Cobra Coral aquele reduto tricolor estava sempre cheio. E animado.

– Só vou lá se tiver uma cervejinha – disse o ídolo Henágio, pouco tempo antes de morrer, ao ser convidado para lá comparecer.

Homenagem ao ex-presidente José Neves


A loura suada nunca faltava, embora o então proprietário seja abstêmio. Refrigerantes e lanches havia à vontade.  

O camarote foi vendido, e as duas cadeiras cativas que João Caixero havia comprado há muitos anos, foram doadas ao clube. As constantes idas ao Mundão já não fazem parte da sua rotina.

– Quando chego no clube, de manhãzinha, já encontro Caixero em atividade. Ele sabe onde cada parafuso, no estádio ou na sede, está frouxo e precisa ser apertado.

A frase de Edson Nogueira, Edinho, pronunciada no tempo de sua gestão (2007/2008), como presidente do Tricolor, pode conter um pouco de exagero, mas tem um certo fundo de verdade, como diz um antigo samba.

HORA DE PARAR

Aquela figura facilmente identificável não mais será vista pelos frequentadores do Tricolor do Arruda, onde ele colaborou intensamente, integrando os mais diferentes setores, notadamente na parte patrimonial.

– Completei setenta anos de serviços prestados ao Santa Cruz e achei que estava na hora de parar – explica o veterano dirigente.

Benemérito e Grande Benemérito, por força estatutária teria que ter seu nome incluído na formação  

de todas as chapas, da situação e da oposição, para a composição do novo Conselho Deliberativo, nas eleições que credenciaram o oposicionista Joaquim Bezerra, à cadeira ocupada até a próxima quinta-feira (18) por Constantino Júnior, Tininho.

– Em outubro enviei uma carta ao clube, devolvendo as benemerências, e assim cessou a obrigação da inclusão de meu nome nas chapas – esclarece.

 FIM DE UM CICLO

Caixero diz ter se cansado de ser chamado ironicamente de “dono do Santa Cruz” e achou ter chegado a hora de dar sua missão como terminada.

Todavia, fez questão de manter o título de sócio patrimonial, adquirido há bastante tempo.

Começando a atuar no Arruda, no chamado esporte amador, a partir do voleibol, passando por muitas outras áreas, Joca, como os mais íntimos o tratam, viveu plenamente a vida do Santinha durante sete décadas. Exerceu a presidência em 1974 e tomou parte de todos os momentos importantes, principalmente na Comissão Patrimonial, que já presidiu.

Caixero com Antônio Luiz Neto e Rodolfo Aguiar,nos 100 anos do Santa (Fernando Machado)


É justamente este setor que ainda o liga ao Santa Cruz.  É vice-presidente da Associação dos Torcedores  e Amigos do Santa Cruz – ATASC, que tem na presidência Carlos Emanuel Simeão da Silva, conhecido como Carlinhos da Vaca.

O órgão foi criado especificamente para tocar as obras do Centro de Treinamento Presidente Rodolfo Aguiar, Ninho das Cobras, um sonho antigo de dirigentes e torcedores.

Um dos últimos notáveis serviços prestados por Joca ao Santa Cruz foi a publicação do “Santa Cruz de Corpo e Alma”, uma obra dividida em três volumes, contando a trajetória do clube, do surgimento até os dias atuais. O livro, que teve seu conteúdo produzido por uma equipe de jornalistas, sob a coordenação de Caixero, foi lançado em 2016, tendo sido o produto de sua venda destinado à construção do CT.

– Do total de 600 livros lançados ao preço de mil reais, cada, com o que apuramos na venda dos 300 primeiros, pudemos iniciar as obras – conta Joca.



As picaretas, machados, tratores etc, serviram de chamamento para que outros tricolores de boa vontade se sentissem motivados a ajudar. No momento, as atenções estão voltadas para o terceiro campo, com o que Caixero considerará fechada sua longeva passagem pelo clibe das três cores.

Quanto à trilogia “Santa Cruz de Corpo e Alma” ainda há 250 exemplares à venda, na sede do Santa, na Av.Beberibe, e no próprio CT, situado na Estrada da Mumbeca, 6501, bairro da Guabiraba, Recife

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