SELEÇÃO CACARECO-01

 Pernambuco, do azul e branco para o verde-amarelo

 

Pernambuco representando o Brasil no exterior. Em pé, Gentil Cardoso (técnico), Traçaia, Zé  de Melo, Paulo, Geraldo, Elias e Edmundo (roupeiro); agachados, João de Maria (massagista), Edson, Waldemar, Zequinha PB, Givaldo, Zé Maria e Clóvis


Em   1959,  a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) indicou Pernambuco  para  representar o Brasil num campeonato sul-americano extraordinário de futebol, decisão que causou muita alegria entre os pernambucanos, os quais sentiram-se mais do que lisonjeados.

O Recife era a terceira cidade do Brasil, o que   muito   orgulhava   sua   gente, funcionando como um centro regional nos mais diferentes ramos de atividade. Entre outros destaques tinha o único aeroporto internacional do Nordeste, com   intenso   movimento   de   aviões que   cruzavam   o   Oceano   Atlântico, indo e voltando da Europa. Muitos faziam escala técnica, de reabastecimento, para poder chegar ao seu destino. As três Forças Armadas tinham seu comando regional aqui instalado.

A   situação   privilegiada   desfrutada   pela capital pernambucana pode ser constatada por esta relação das dez capitais estaduais mais populosas, na   época, incluindo   o   Rio   de Janeiro, que era a Capital Federal:

São Paulo – 3,4 milhões de habitantes

Rio – 2,8 milhões

Recife – 785 mil

Salvador – 571 mil

Porto Alegre – 553 mil

Belo Horizonte – 534 mil

Fortaleza – 391 mil

Belém – 328 mil

Niterói – 282 mil

Curitiba – 249 mil.

Era   o   tempo   em   que   a Rádio   Jornal anunciava   seu   prefixo   de   uma   forma imponente: “Pernambuco   falando   para   o mundo. Rádio Jornal do Commercio, a voz mais potente do Brasil!”

A emissora, localizada na Rua Marquês do Recife, inaugurada em 1948, pertencia à Empresa Jornal do Commercio, hoje Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Com suas potentes ondas curtas atingia os cinco continentes. 

Na calçada do Savoy, cerveja e futebol o dia todo (Reprodução Por Aqui)

Ver a seleção do seu Estado escolhida para representar o País na competição mais importante da América do Sul causava uma imensa satisfação ao torcedor da “terra dos altos coqueiros”. O assunto passou a dominar as conversas no movimentado circuito situado no centro do Recife, dominado pelos bares Sertã, Savoy, Brahma Chopp e Leiteria Cristal, locais em que se respirava futebol o dia   todo, com as discussões ou simples bate-papos, às vezes, entrando pela madrugada. Esta podia ser vivida intensamente, sem receio de assalto.

SUL-AMERICANO – COPA AMÉRICA

O Campeonato Sul-Americano foi disputado pela primeira vez em 1916, na Argentina, tendo sido incluído na programação do primeiro centenário da independência do país, proclamada em 9 de julho de 1816. Participaram Uruguai (campeão), Argentina (2º), Brasil (3º) e Chile (4º).

Todos os jogos foram realizados no estádio do Gymnasio y Esgrima, em Buenos Aires, tendo o Brasil obtido dois empates e sofrido uma derrota em três jogos. O torneio apresentou estes resultados:

Uruguai 4 x 0 Chile

Argentina 6 x 1 Chile

Brasil 1 x 1 Chile

Brasil 1 x 1 Argentina

Brasil 1 x 2 Uruguai

Argentina 0 x 0 Uruguai

Foi a primeira competição de futebol, no mundo, reunindo seleções nacionais.

Aproveitando a oportunidade, por sugestão do jornalista e político uruguaio Héctor Rivadavia Gómez foi criada a Confederação Sul-Americana de Futebol – Conmebol. Isso aconteceu 44 anos antes do surgimento da Uefa, a entidade que agrupa o futebol europeu e que só foi fundada em 1960.

A partir de 1975, com a inclusão de países das Américas do Norte e Central, o Sul-Americano passou a ser chamado Copa América. Sua disputa ocorre a cada dois anos.

FRUSTRAÇÃO E ALEGRIA

Em 1957, a Argentina sagrou-se campeã do Sul-Americano realizado no Peru e deixou seu público animado para a Copa do Mundo, na Suécia, programada para o ano seguinte. Fracasso total, uma vez que nossos vizinhos não passaram da primeira fase e viram o arquirrival Brasil sagrar-se campeão mundial pela primeira vez.

Campeões do mundo em 1958. Em pé, Vicente Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Beline, Nilton Santos, Orlando e Gylmar; agachados, Garrincha, Didi, Pelé,Vavá e Zagallo (Foto: CBF)


Organizadora do Sul-Americano 1959, após ter sido campeã em 1957, no Peru, a Argentina carregou nos ombros a responsabilidade de dar uma resposta a seus “hinchas”, em função do desastre no Mundial de 1958.

Os campeões sul-americanos de 1957 passaram uma borracha na hecatombe em gramados suecos, e se concentraram no sonho do bicampeonato continental, aproveitando o fato de jogarem em casa.

Objetivo alcançado. Assim, a dona da festa, depois de um empate por 1 x 1 com o Brasil, deu a volta olímpica no Estádio Monumental de Nuñez. Vantagem de um ponto (11 x 10) para o vice-campeão, Brasil. Vejamos a classificação final:

1º) Argentina, 11

2º) Brasil, 10

3º) Paraguai, 6

4º) Peru, 5

5º) Chile, 5

6º) Uruguai, 4

7º) Bolívia, 1

 

Os jogos da seleção campeã:

Argentina 6 x 1 Chile - V

Argentina 2 x 0 Bolívia - V

Argentina 3 x 1 Peru - V

Argentina 3 x 1 Paraguai - V

Argentina 4 x 1 Uruguai - V

Argentina 1 x 1 Brasil - E

 

Jogos do vice-campeão:

Brasil 2 x 2 Peru - E

Brasil 3 x 0 Chile - V

Brasil 4 x 2 Bolívia – V

Brasil 3 x 1 Uruguai - V

Brasil 4 x 1 Paraguai - V

Brasil 1 x 1 Argentina – E

Como se pode observar, Argentina e Brasil não sofreram uma derrota, sequer, na sua trajetória.

O Brasil participou com praticamente a equipe que tinha conquistado a Copa do Mundo no ano anterior. Para se ter ideia, na estreia contra o Peru, empate de 2 x 2, gols de Didi e Pelé (Bra), e Seminário (2) (Per), a equipe canarinha, comandada por Vicente Feola, o técnico campeão mundial, tinha esta escalação:

Castilho/Fluminense) – no decorrer da competição perdeu a posição para Gylmar / Santos

Paulinho de Almeida / Vasco Bellini / Vasco

Orlando / Vasco

Nilton Santos / Botafogo (Coronel / Vasco)

Zito / Santos

Didi / Botafogo

Dorval / Santos – mais tarde entrou Garrincha / Botafogo

Henrique / Flamengo

Pelé / Santos (Almir/Vasco)

Zagallo / Botafogo.

 

POR QUE CAMPEONATO EXTRA?

No mesmo ano em que a Argentina sagrou-se bicampeã ao levantar o XXVI Campeonato Sul-Americano, em 24 de julho de 1959, Guayaquil, o centro   comercial   do   Equador, inaugurou o Estádio   Modelo, hoje chamado de Alberto   Spencer, em homenagem a um dos maiores ídolos do futebol do país, o qual, curiosamente, defendeu as seleções de sua pátria e do Uruguai, onde ainda hoje é lembrado.

Com capacidade para 42 mil pessoas, o novo estádio foi entregue ao público com um quadrangular envolvendo o Emelec (campeão) e o Barcelona, locais, o uruguaio Peñarol e o argentino Huracán.

Todavia, os dirigentes locais acharam que a nova praça de esportes merecia um evento mais significativo. Propuseram à Conmebol a realização de um Campeonato Sul-Americano em caráter extraordinário, tendo sido atendidos. Foi aí que Pernambuco entrou.

JOÃO HAVELANGE, O ASTRO REI

Carioca, filho do belga Faustin Havelange. Nome de batismo: Jean-Marie Faustin Godefroid de Havelange (8/5/1916-16/8/2016). Prenome facilmente abrasileirado para João.

Estou falando de João Havelange, o cartola, que, depois de dominar o futebol nacional, exerceu um verdadeiro poderio mundial.

Infelizmente, teve seu brilho, como dirigente, ofuscado no fim da trajetória, acusado de envolvimento em negócios escusos dentro do futebol.

Todavia, seu nome está definitivamente marcado como um dos maiores benfeitores do futebol em todo o mundo.

Seu pai era proprietário de terras em plena área urbana da cidade do Rio de Janeiro, a Capital Federal, condição que em 21/4/1960 perdeu para Brasília. O forte do belga Faustin era negociar com armas, atividade da qual o filho só queria distância.

João Havelange recebido pelo presidente Juscelino após o regresso da Suécia


Ligado a diversos tipos de esporte, em 14 de janeiro de 1958, João Havelange, advogado que nunca exerceu a profissão – foi empresário nas áreas de transportes de passageiros e siderurgia –, tomava posse na presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), na qual se abrigavam 24 modalidades esportivas, além do futebol. Não chegou lá por acaso.

ECLETISMO

Tipo atlético, 1,83 metro de altura, louro, olhos azuis, pessoa de fino trato, João Havelange, dotado de primorosa memória, desde a infância participava do elitista Fluminense Futebol Clube. Lá foi escoteiro e atleta infantil, juvenil e adulto. Praticou vários esportes, inclusive futebol, tendo se sagrado campeão carioca juvenil, em 1931, defendendo o clube do bairro das Laranjeiras.

Em 1936, na primeira olimpíada promovida pela Alemanha, integrou a equipe brasileira de natação, tendo participado das provas de 400m e 1.500m livre.

Em 1951 foi realizada a primeira edição dos Jogos Pan Americanos, em Buenos Aires, e Havelange defendeu as cores verde e amarela no polo aquático.  Na mesma modalidade participou, em 1952, da Olimpíada da Finlândia.

Quatro anos depois, em 1956, presidiu a delegação brasileira na Olimpíada de Melbourne, na Austrália.

Portanto, tratava-se de alguém já tarimbado e conhecedor dos bastidores esportivos.

RUBÃO E SUA GENTE

Para sua chegada à cadeira presidencial da CBD, cuja sede, bastante modesta, era localizada na Rua da Quitanda, em pleno centro do Rio, Havelange usou seu prestígio pessoal, é claro, porém, contou com um reforço valioso.

Foi a votação maciça das federações do Norte e do Nordeste, não apenas de futebol, mas de outras categorias, graças ao trabalho de um envolvente ‘cabo eleitoral’, o pernambucano Rubem Rodrigues Moreira, que no Sudeste era conhecido por Rubão.

Alguns dirigentes de federações de futebol nordestinas da época João Havelange eram Aldenor Maia / Ceará, João Machado / Rio Grande do Norte, Genival Menezes / Paraíba, Sebastião Bastos / Alagoas, Robério Garcia / Sergipe.

UMA MÃO LAVA A OUTRA Sempre contando com o apoio de Rubem, o novo todo poderoso do desporto nacional eternizou-se no poder. Logicamente, tinha seus méritos para ser beneficiado com sucessivas reeleições. 

A gratidão demonstrada pela cartolagem nacional era recompensada com viagens acompanhando ou mesmo chefiando a delegação da Seleção Brasileira em suas excursões, ajuda a clubes, federações etc. 

Só em janeiro de 1975, JH deixou o comando da CBD, que já funcionava em prédio próprio, na Rua da Alfândega, também na área central da Cidade Maravilhosa. Foi quando passou a dirigir a Fifa, onde atuou até 1998, tempo suficiente para estar à frente de seis Copas do Mundo.

BOLA EM TODAS AS DIREÇÕES Sob o comando de Havelange, a Fifa fez o futebol crescer nas mais diferentes regiões, principalmente pela Ásia e pela África. Durante seu reinado, o cartola brasileiro visitou mais de 200 países.

Ao sair da presidência da Fifa, em 1998, substituído que foi pelo economista suíço Joseph Sepp Blatter, deixou a Casa organizada esportiva e financeiramente.

Presidente honorário da Fifa, Havelange, que também era membro do COI – Comitê Olímpico Internacional –, teve que tirar o time de campo para não ser processado.

TRÊS CONQUISTAS MUNDIAIS Por sorte ou competência, três meses após assumir o comando do futebol brasileiro, João Havelange saboreou o gosto da conquista, na Suécia, da primeira das cinco Copas do Mundo levantadas pelo Brasil até agora.

Ótimo início e uma expectativa melhor ainda para os anos que estavam por vir no que seria sua longa gestão à frente da CBD – a partir de 24 de setembro de 1979, CBF, Confederação Brasileira de Futebol, desvinculada dos demais esportes.

Sob sua tutela, o Brasil tornou-se bicampeão mundial no Chile, em 1962, e campeão pela terceira vez, em 1970, no México.

O VICE-REI DO NORDESTE

No Recife, em 1955, três anos antes de João Havelange chegar à presidência da CBD, uma figura começara a dar os primeiros passos na caminhada que o levaria a ocupar um lugar no seleto espaço reservado à alta cartolagem nacional. Elegia-se presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), o comerciante Rubem Rodrigues Moreira.

Havelange e Rubem Moreira, de óculos, numa solenidade 


Embora sua candidatura tenha sido lançada pelo Íbis Sport Club, do qual era o representante na Federação, Rubem militava no América Futebol Clube desde a adolescência. Passou um tempo afastado do Alviverde por causa de desavenças administrativas. Disso se aproveitou o presidente e fundador do Íbis, Onildo Ramos (pai de Ozir Ramos, ex-presidente, e avô de Júnior, o atual comandante do Pássaro Preto) para torná-lo o representante do rubro-negro do bairro de Santo Amaro na FPF. Com seu poder de argumentação e convencimento, RM logo passou a ser figura relevante e envolvente nas reuniões dos dirigentes dos clubes e da própria federação.

ENTRE AMERICANOS

Dos embates em que tomava parte surgiu a pretensão de Rubem presidir a “casa do futebol”.  O Íbis lhe deu a necessária guarida. Logo veio o apoio de outros paredros, seu termo preferido ao se referir aos dirigentes. Disputou o cargo com o então presidente Evyo de Abreu e Lima, que pleiteava a reeleição.  Curiosamente, Évyo, como Rubem, era egresso do América, de onde havia saído seu antecessor, Sigismundo Cabral de Melo – Siza, advogado, ex-jogador alviverde, primo do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto, que chegou também a vestir a camisa do Periquito, como juvenil. Ou seja, o comando do futebol pernambucano girava em torno de três americanos, situação que demonstra o prestígio do América até um pouco depois da primeira metade do século XX.

Rubem Moreira, o novo presidente da Federação Pernambucana de Futebol – antes, Liga Sportiva Pernambucana, Liga Pernambucana de Desportos Terrestres e Federação Pernambucana de Desportos –, era recifense da Torre.

Nasceu em 6 de março de 1909, filho do casal João Antônio Beltrão Moreira / Maria Amélia Rodrigues, e era irmão de Romildo, José, João, Conceição, Noêmia e Carminha. Em dado momento, a família mudou-se para Olinda, onde nasceram vários descendentes dos Moreira.

TUDO PELO TÍTULO

Desde jovem, Rubem Moreira fazia parte do América, tendo jogado pelo juvenil do Campeão do Centenário em 1928.

Ao contrário dos irmãos João e José, este conhecido popularmente como Zezé, que presidiram o clube, Rubem sempre atuou como   diretor. Era ele que comandava o departamento de futebol em 1944, quando o Alviverde sagrou-se campeão pernambucano pela sexta e última vez.

Para encerrar um jejum iniciado após o título obtido em 1927, o dirigente, segundo depoimento da viúva dona Branca ao jornalista Givanildo Alves para o livro "85 Anos de Bola Rolando", gastou até uma reserva financeira mantida para a aquisição de uma casa.

CANTOR DAS MULTIDÕES

Impetuoso, autoritário e dominador, muitas vezes chamado de ditador por dirigentes e jornalistas, o novo comandante do futebol pernambucano tinha se destacado no clube da Estrada do Arraial formando com João e Zezé, o trio cognominado de Os Irmãos Moreira.

Fora do futebol, os Moreira formavam um quarteto acrescido de Romildo. Este, torcedor e mais tarde conselheiro do Sport, ajudava, porém sem figurar na diretoria. Com os irmãos, Rubem fundou a firma Moreira Irmãos, revendedora de peças de automóveis da marca Chevrolet. A inauguração, na Rua da Concórdia, em janeiro de 1945, de acordo com a mania de grandeza, que era uma marca registrada em Rubem, foi abrilhantada com a presença do célebre Orlando Silva, um dos maiores astros da música nacional em todos os tempos, chamado de “O Cantor das Multidões”. Seria como se Roberto Carlos, em pleno apogeu, fosse a atração do evento. Posteriormente surgiram outros negócios, como a fabricação do refrigerante da marca Mirinda.

Orlando Silva, o Cantor das Multidões, na festa dos Irmãos Moreira, um luxo!


(O engenheiro e empresário do ramo de construção José Alexandre MIRINDA Moreira, sobrinho de Rubem e filho de Zezé (José Augusto Moreira), foi apelidado na escola com o nome do refrigerante fabricado pela família. Levou o apelido para as quadras de futsal, onde brilhou, defendendo o Náutico e o Santa Cruz, e para a presidência   do Tricolor (biênio 1993/94). Hoje, o Mirinda está por ele oficializado como sobrenome.)

QUASE TRÊS DÉCADAS

Rubem foi o mais longevo de todos os presidentes da FPF, que comandou durante 27 anos, ininterruptamente, de 1955 a 1982. Substituído pelo dentista Dilson Cavalcanti, por força de uma lei federal que passou a proibir mais de uma reeleição aos presidentes de federações, projetava voltar em 1984. Porém, a morte em 2/4/1984, causada por um câncer, frustrou seus planos, aos 75 anos de idade.

Rubão, como era conhecido entre os cartolas e jornalistas do Sudeste por causa dos rompantes e do jeito mandão, que o levavam a ser comparado a um típico ‘coronel’ da zona rural nordestina, tornou-se o maior cabo eleitoral de Havelange, graças à sua penetração nas regiões Norte e Nordeste.

Em Pernambuco também era chamado de Comodoro por ter sido o primeiro a exercer a comodoria do Cabanga Iate Clube, tendo sido ao mesmo tempo o responsável pela construção da sede, localizada à margem da Bacia do Pina, no bairro da Cabanga.

DRAGÃO NEGRO

Ao contrário do que muitos desinformados imaginavam no Sudeste, Rubem, embora tivesse estudado apenas até o segundo ano ginasial era cobra criada. Não era aquele matutão que demonstrava ser, falando alto, dando esporro e soltando palavrão a três por quatro. Havia morado dez anos no Rio, a partir de 1932.

Na então capital do País negociava com antiguidades, período em   que fez muitas amizades no Flamengo, clube pelo qual torcia. Chegou a ser conselheiro flamenguista e integrou a poderosa ala Dragões Negros, de muita influência no Conselho Deliberativo do clube mais popular do Brasil.

Com o tempo passou a ser uma figura nacional no mundo esportivo. Disso foi testemunha o conceituado radialista Geraldo Freire, que contou, em 2019, no seu também longevo programa “Super Manhã”, na Rádio Jornal:

– Certa vez eu estava no Rio para fazer uma cobertura na CBF. Rubem Moreira, também estava lá. Estávamos no Centro e saímos para a CBF. Estranhei que em vez de pegar um táxi, ele preferiu ir a pé. Queria me mostrar como era conhecido e admirado. Você não imagina, como ele era parado na rua por pessoas que queriam cumprimentá-lo. E naquela época, a televisão não vivia mostrando a cara dos dirigentes, com tanta frequência, como agora.

VICE-REI

Com a candidatura de João Havelange, então vice-presidente da antiga CBD, para substituir, em 1958, o presidente Sylvio Pacheco, que o apoiava, Rubem se tornou uma das figuras mais ligadas ao futuro cartola-mor. A influência junto aos seus pares da Região levou-o a ser chamado pela mídia do Centro-Sul de o “vice-rei do Nordeste”.  Terminou Havelange criando o cargo de vice-presidente da CBF para Assuntos do Nordeste, especialmente para ele.

A cada   eleição, Rubem batalhava acirradamente, viajando aos Estados ou realizando reuniões no Recife, visando à continuidade no poder do grupo no qual estava inserido. Aqui, acolá, um cartola nordestino era convidado a acompanhar JH em viagens ao exterior, integrando a delegação da Seleção Brasileira.

A recompensa veio com a indicação de Pernambuco para representar o Brasil no Equador.

 

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