Pernambuco, do azul e branco para o verde-amarelo
Em 1959, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) indicou Pernambuco para representar o Brasil num campeonato sul-americano extraordinário de futebol, decisão que causou muita alegria entre os pernambucanos, os quais sentiram-se mais do que lisonjeados.
O Recife era a terceira cidade do
Brasil, o que muito orgulhava
sua gente, funcionando como um
centro regional nos mais diferentes ramos de atividade. Entre outros destaques
tinha o único aeroporto internacional do Nordeste, com intenso
movimento de aviões que
cruzavam o Oceano
Atlântico, indo e voltando da Europa. Muitos faziam escala técnica, de
reabastecimento, para poder chegar ao seu destino. As três Forças Armadas tinham
seu comando regional aqui instalado.
A
situação privilegiada desfrutada
pela capital pernambucana pode ser constatada por esta relação das dez
capitais estaduais mais populosas, na
época, incluindo o Rio
de Janeiro, que era a Capital Federal:
São Paulo – 3,4 milhões de habitantes
Rio – 2,8 milhões
Recife – 785 mil
Salvador – 571 mil
Porto Alegre – 553 mil
Belo Horizonte – 534 mil
Fortaleza – 391 mil
Belém – 328 mil
Niterói – 282 mil
Curitiba – 249 mil.
Era o
tempo em que
a Rádio Jornal anunciava seu
prefixo de uma
forma imponente: “Pernambuco
falando para o mundo. Rádio Jornal do Commercio, a voz
mais potente do Brasil!”
A emissora, localizada na Rua Marquês
do Recife, inaugurada em 1948, pertencia à Empresa Jornal do Commercio, hoje
Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Com suas potentes ondas curtas
atingia os cinco continentes.
Na calçada do Savoy, cerveja e futebol o dia todo (Reprodução Por Aqui) |
Ver a seleção do seu Estado escolhida
para representar o País na competição mais importante da América do Sul causava
uma imensa satisfação ao torcedor da “terra dos altos coqueiros”. O assunto
passou a dominar as conversas no movimentado circuito situado no centro do
Recife, dominado pelos bares Sertã, Savoy, Brahma Chopp e Leiteria Cristal,
locais em que se respirava futebol o dia
todo, com as discussões ou simples bate-papos, às vezes, entrando pela
madrugada. Esta podia ser vivida intensamente, sem receio de assalto.
SUL-AMERICANO – COPA AMÉRICA
O Campeonato Sul-Americano foi
disputado pela primeira vez em 1916, na Argentina, tendo sido incluído na
programação do primeiro centenário da independência do país, proclamada em 9 de
julho de 1816. Participaram Uruguai (campeão), Argentina (2º), Brasil (3º) e
Chile (4º).
Todos os jogos foram realizados no
estádio do Gymnasio y Esgrima, em Buenos Aires, tendo o Brasil obtido dois
empates e sofrido uma derrota em três jogos. O torneio apresentou estes
resultados:
Uruguai 4 x 0 Chile
Argentina 6 x 1 Chile
Brasil 1 x 1 Chile
Brasil 1 x 1 Argentina
Brasil 1 x 2 Uruguai
Argentina 0 x 0 Uruguai
Foi a primeira competição de futebol,
no mundo, reunindo seleções nacionais.
Aproveitando a oportunidade, por
sugestão do jornalista e político uruguaio Héctor Rivadavia Gómez foi criada a
Confederação Sul-Americana de Futebol – Conmebol. Isso aconteceu 44 anos antes
do surgimento da Uefa, a entidade que agrupa o futebol europeu e que só foi
fundada em 1960.
A partir de 1975, com a inclusão de países
das Américas do Norte e Central, o Sul-Americano passou a ser chamado Copa
América. Sua disputa ocorre a cada dois anos.
FRUSTRAÇÃO E ALEGRIA
Em 1957, a Argentina sagrou-se campeã
do Sul-Americano realizado no Peru e deixou seu público animado para a Copa do
Mundo, na Suécia, programada para o ano seguinte. Fracasso total, uma vez que
nossos vizinhos não passaram da primeira fase e viram o arquirrival Brasil
sagrar-se campeão mundial pela primeira vez.
Campeões do mundo em 1958. Em pé, Vicente Feola (técnico), Djalma Santos, Zito, Beline, Nilton Santos, Orlando e Gylmar; agachados, Garrincha, Didi, Pelé,Vavá e Zagallo (Foto: CBF) |
Organizadora do Sul-Americano 1959,
após ter sido campeã em 1957, no Peru, a Argentina carregou nos ombros a
responsabilidade de dar uma resposta a seus “hinchas”, em função do desastre no
Mundial de 1958.
Os campeões sul-americanos de 1957
passaram uma borracha na hecatombe em gramados suecos, e se concentraram no sonho
do bicampeonato continental, aproveitando o fato de jogarem em casa.
Objetivo alcançado. Assim, a dona da
festa, depois de um empate por 1 x 1 com o Brasil, deu a volta olímpica no
Estádio Monumental de Nuñez. Vantagem de um ponto (11 x 10) para o
vice-campeão, Brasil. Vejamos a classificação final:
1º) Argentina, 11
2º) Brasil, 10
3º) Paraguai, 6
4º) Peru, 5
5º) Chile, 5
6º) Uruguai, 4
7º) Bolívia, 1
Os jogos da seleção campeã:
Argentina 6 x 1 Chile - V
Argentina 2 x 0 Bolívia - V
Argentina 3 x 1 Peru - V
Argentina 3 x 1 Paraguai - V
Argentina 4 x 1 Uruguai - V
Argentina 1 x 1 Brasil - E
Jogos do vice-campeão:
Brasil 2 x 2 Peru - E
Brasil 3 x 0 Chile - V
Brasil 4 x 2 Bolívia – V
Brasil 3 x 1 Uruguai - V
Brasil 4 x 1 Paraguai - V
Brasil 1 x 1 Argentina – E
Como se pode observar, Argentina e
Brasil não sofreram uma derrota, sequer, na sua trajetória.
O Brasil participou com praticamente a
equipe que tinha conquistado a Copa do Mundo no ano anterior. Para se ter
ideia, na estreia contra o Peru, empate de 2 x 2, gols de Didi e Pelé (Bra), e
Seminário (2) (Per), a equipe canarinha, comandada por Vicente Feola, o técnico
campeão mundial, tinha esta escalação:
Castilho/Fluminense) – no decorrer da competição perdeu a posição para Gylmar / Santos
Paulinho de Almeida / Vasco Bellini
/ Vasco
Orlando / Vasco
Nilton Santos / Botafogo (Coronel / Vasco)
Zito / Santos
Didi / Botafogo
Dorval / Santos – mais tarde entrou Garrincha
/ Botafogo
Henrique / Flamengo
Pelé / Santos (Almir/Vasco)
Zagallo / Botafogo.
POR QUE CAMPEONATO EXTRA?
No mesmo ano em que a Argentina
sagrou-se bicampeã ao levantar o XXVI Campeonato Sul-Americano, em 24 de julho
de 1959, Guayaquil, o centro
comercial do Equador, inaugurou o Estádio Modelo, hoje chamado de Alberto Spencer, em homenagem a um dos maiores
ídolos do futebol do país, o qual, curiosamente, defendeu as seleções de sua pátria
e do Uruguai, onde ainda hoje é lembrado.
Com capacidade para 42 mil pessoas, o
novo estádio foi entregue ao público com um quadrangular envolvendo o Emelec
(campeão) e o Barcelona, locais, o uruguaio Peñarol e o argentino Huracán.
Todavia, os dirigentes locais acharam
que a nova praça de esportes merecia um evento mais significativo. Propuseram à
Conmebol a realização de um Campeonato Sul-Americano em caráter extraordinário,
tendo sido atendidos. Foi aí que Pernambuco entrou.
JOÃO HAVELANGE, O ASTRO REI
Carioca, filho do belga Faustin
Havelange. Nome de batismo: Jean-Marie Faustin Godefroid de Havelange
(8/5/1916-16/8/2016). Prenome facilmente abrasileirado para João.
Estou falando de João Havelange, o
cartola, que, depois de dominar o futebol nacional, exerceu um verdadeiro
poderio mundial.
Infelizmente, teve seu brilho, como
dirigente, ofuscado no fim da trajetória, acusado de envolvimento em negócios
escusos dentro do futebol.
Todavia, seu nome está
definitivamente marcado como um dos maiores benfeitores do futebol em todo o
mundo.
Seu pai era proprietário de terras em
plena área urbana da cidade do Rio de Janeiro, a Capital Federal, condição que
em 21/4/1960 perdeu para Brasília. O forte do belga Faustin era negociar com armas,
atividade da qual o filho só queria distância.
João Havelange recebido pelo presidente Juscelino após o regresso da Suécia |
Ligado a diversos tipos de esporte, em
14 de janeiro de 1958, João Havelange, advogado que nunca exerceu a profissão –
foi empresário nas áreas de transportes de passageiros e siderurgia –, tomava
posse na presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), na qual se
abrigavam 24 modalidades esportivas, além do futebol. Não chegou lá por acaso.
ECLETISMO
Tipo atlético, 1,83 metro de altura,
louro, olhos azuis, pessoa de fino trato, João Havelange, dotado de primorosa
memória, desde a infância participava do elitista Fluminense Futebol Clube. Lá
foi escoteiro e atleta infantil, juvenil e adulto. Praticou vários esportes,
inclusive futebol, tendo se sagrado campeão carioca juvenil, em 1931, defendendo o
clube do bairro das Laranjeiras.
Em 1936, na primeira olimpíada promovida
pela Alemanha, integrou a equipe brasileira de natação, tendo participado das
provas de 400m e 1.500m livre.
Em 1951 foi realizada a primeira edição
dos Jogos Pan Americanos, em Buenos Aires, e Havelange defendeu as cores verde
e amarela no polo aquático. Na mesma
modalidade participou, em 1952, da Olimpíada da Finlândia.
Quatro anos depois, em 1956, presidiu a
delegação brasileira na Olimpíada de Melbourne, na Austrália.
Portanto, tratava-se de alguém já
tarimbado e conhecedor dos bastidores esportivos.
RUBÃO E SUA GENTE
Para sua chegada à cadeira presidencial
da CBD, cuja sede, bastante modesta, era localizada na Rua da Quitanda, em
pleno centro do Rio, Havelange usou seu prestígio pessoal, é claro, porém,
contou com um reforço valioso.
Foi a votação maciça das federações do
Norte e do Nordeste, não apenas de futebol, mas de outras categorias, graças ao
trabalho de um envolvente ‘cabo eleitoral’, o pernambucano Rubem Rodrigues
Moreira, que no Sudeste era conhecido por Rubão.
Alguns dirigentes de federações de
futebol nordestinas da época João Havelange eram Aldenor Maia / Ceará, João
Machado / Rio Grande do Norte, Genival
Menezes / Paraíba, Sebastião Bastos
/ Alagoas, Robério Garcia / Sergipe.
UMA MÃO LAVA A OUTRA Sempre contando com o apoio de Rubem, o novo todo
poderoso do desporto nacional eternizou-se no poder. Logicamente, tinha seus
méritos para ser beneficiado com sucessivas reeleições.
A gratidão demonstrada pela cartolagem
nacional era recompensada com viagens acompanhando ou mesmo chefiando a
delegação da Seleção Brasileira em suas excursões, ajuda a clubes, federações
etc.
Só em janeiro de 1975, JH deixou o
comando da CBD, que já funcionava em prédio próprio, na Rua da Alfândega,
também na área central da Cidade Maravilhosa. Foi quando passou a dirigir a
Fifa, onde atuou até 1998, tempo suficiente para estar à frente de seis Copas
do Mundo.
BOLA EM TODAS AS DIREÇÕES Sob o comando de Havelange, a Fifa fez
o futebol crescer nas mais diferentes regiões, principalmente pela Ásia e pela
África. Durante seu reinado, o cartola brasileiro visitou mais de 200 países.
Ao sair da presidência da Fifa, em
1998, substituído que foi pelo economista suíço Joseph
Sepp Blatter, deixou a Casa organizada esportiva e financeiramente.
Presidente honorário da Fifa,
Havelange, que também era membro do COI – Comitê Olímpico Internacional –, teve
que tirar o time de campo para não ser processado.
TRÊS CONQUISTAS MUNDIAIS Por sorte ou competência, três meses
após assumir o comando do futebol brasileiro, João Havelange saboreou o gosto
da conquista, na Suécia, da primeira das cinco Copas do Mundo levantadas pelo
Brasil até agora.
Ótimo início e uma expectativa melhor
ainda para os anos que estavam por vir no que seria sua longa gestão à frente
da CBD – a partir de 24 de setembro de 1979, CBF, Confederação Brasileira de
Futebol, desvinculada dos demais esportes.
Sob sua tutela, o Brasil tornou-se
bicampeão mundial no Chile, em 1962, e campeão pela terceira vez, em 1970, no
México.
O VICE-REI DO NORDESTE
No Recife, em 1955, três anos antes de
João Havelange chegar à presidência da CBD, uma figura começara a dar os
primeiros passos na caminhada que o levaria a ocupar um lugar no seleto espaço
reservado à alta cartolagem nacional. Elegia-se presidente da Federação
Pernambucana de Futebol (FPF), o comerciante Rubem Rodrigues Moreira.
Havelange e Rubem Moreira, de óculos, numa solenidade |
Embora sua candidatura tenha sido
lançada pelo Íbis Sport Club, do qual era o representante na Federação, Rubem
militava no América Futebol Clube desde a adolescência. Passou um tempo
afastado do Alviverde por causa de desavenças administrativas. Disso se
aproveitou o presidente e fundador do Íbis, Onildo Ramos (pai de Ozir Ramos,
ex-presidente, e avô de Júnior, o atual comandante do Pássaro Preto) para
torná-lo o representante do rubro-negro do bairro de Santo Amaro na FPF. Com
seu poder de argumentação e convencimento, RM
logo passou a ser figura relevante e envolvente nas reuniões dos dirigentes dos
clubes e da própria federação.
ENTRE AMERICANOS
Dos embates em que tomava parte surgiu
a pretensão de Rubem presidir a “casa do futebol”. O Íbis lhe deu a necessária guarida. Logo
veio o apoio de outros paredros, seu
termo preferido ao se referir aos dirigentes. Disputou o cargo com o então presidente
Evyo de Abreu e Lima, que pleiteava a reeleição. Curiosamente, Évyo, como Rubem, era egresso do
América, de onde havia saído seu antecessor, Sigismundo Cabral de Melo – Siza, advogado,
ex-jogador alviverde, primo do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto, que
chegou também a vestir a camisa do Periquito, como juvenil. Ou seja, o comando
do futebol pernambucano girava em torno de três americanos, situação que demonstra
o prestígio do América até um pouco depois da primeira metade do século XX.
Rubem Moreira, o novo presidente da
Federação Pernambucana de Futebol – antes, Liga Sportiva Pernambucana, Liga
Pernambucana de Desportos Terrestres e Federação Pernambucana de Desportos –,
era recifense da Torre.
Nasceu em 6 de março de 1909, filho do
casal João Antônio Beltrão Moreira / Maria Amélia Rodrigues, e era irmão de
Romildo, José, João, Conceição, Noêmia e Carminha. Em dado momento, a família
mudou-se para Olinda, onde nasceram vários descendentes dos Moreira.
TUDO PELO TÍTULO
Desde jovem, Rubem Moreira fazia parte
do América, tendo jogado pelo juvenil do Campeão do Centenário em 1928.
Ao contrário dos irmãos João e José, este
conhecido popularmente como Zezé, que presidiram o clube, Rubem sempre atuou
como diretor. Era ele que comandava o
departamento de futebol em 1944, quando o Alviverde sagrou-se campeão
pernambucano pela sexta e última vez.
Para encerrar um jejum iniciado após o
título obtido em 1927, o dirigente, segundo depoimento da viúva dona Branca ao
jornalista Givanildo Alves para o livro "85 Anos de Bola Rolando",
gastou até uma reserva financeira mantida para a aquisição de uma casa.
CANTOR DAS MULTIDÕES
Impetuoso, autoritário e dominador,
muitas vezes chamado de ditador por dirigentes e jornalistas, o novo comandante
do futebol pernambucano tinha se destacado no clube da Estrada do Arraial formando
com João e Zezé, o trio cognominado de Os Irmãos Moreira.
Fora do futebol, os Moreira formavam um
quarteto acrescido de Romildo. Este, torcedor e mais tarde conselheiro do
Sport, ajudava, porém sem figurar na diretoria. Com os irmãos, Rubem fundou a firma
Moreira Irmãos, revendedora de peças de automóveis da marca Chevrolet. A
inauguração, na Rua da Concórdia, em janeiro de 1945, de acordo com a mania de
grandeza, que era uma marca registrada em Rubem, foi abrilhantada com a
presença do célebre Orlando Silva, um dos maiores astros da música nacional em
todos os tempos, chamado de “O Cantor das Multidões”. Seria como se Roberto
Carlos, em pleno apogeu, fosse a atração do evento. Posteriormente surgiram
outros negócios, como a fabricação do refrigerante da marca Mirinda.
Orlando Silva, o Cantor das Multidões, na festa dos Irmãos Moreira, um luxo! |
(O engenheiro e empresário do ramo de construção José Alexandre MIRINDA Moreira, sobrinho de Rubem e filho de Zezé (José Augusto Moreira), foi apelidado na escola com o nome do refrigerante fabricado pela família. Levou o apelido para as quadras de futsal, onde brilhou, defendendo o Náutico e o Santa Cruz, e para a presidência do Tricolor (biênio 1993/94). Hoje, o Mirinda está por ele oficializado como sobrenome.)
QUASE TRÊS DÉCADAS
Rubem foi o mais longevo de todos os
presidentes da FPF, que comandou durante 27 anos, ininterruptamente, de 1955 a
1982. Substituído pelo dentista Dilson Cavalcanti, por força de uma lei federal
que passou a proibir mais de uma reeleição aos presidentes de federações,
projetava voltar em 1984. Porém, a morte em 2/4/1984, causada por um câncer,
frustrou seus planos, aos 75 anos de idade.
Rubão, como era conhecido entre os
cartolas e jornalistas do Sudeste por causa dos rompantes e do jeito mandão,
que o levavam a ser comparado a um típico ‘coronel’ da zona rural nordestina,
tornou-se o maior cabo eleitoral de Havelange, graças à sua penetração nas
regiões Norte e Nordeste.
Em Pernambuco também era chamado de
Comodoro por ter sido o primeiro a exercer a comodoria do Cabanga Iate Clube,
tendo sido ao mesmo tempo o responsável pela construção da sede, localizada à
margem da Bacia do Pina, no bairro da Cabanga.
DRAGÃO NEGRO
Ao contrário do que muitos
desinformados imaginavam no Sudeste, Rubem, embora tivesse estudado apenas até
o segundo ano ginasial era cobra criada. Não era aquele matutão que demonstrava
ser, falando alto, dando esporro e soltando palavrão a três por quatro. Havia
morado dez anos no Rio, a partir de 1932.
Na então capital do País negociava com
antiguidades, período em que fez muitas
amizades no Flamengo, clube pelo qual torcia. Chegou a ser conselheiro flamenguista
e integrou a poderosa ala Dragões Negros, de muita influência no Conselho Deliberativo
do clube mais popular do Brasil.
Com o tempo passou a ser uma figura
nacional no mundo esportivo. Disso foi testemunha o conceituado radialista
Geraldo Freire, que contou, em 2019, no seu também longevo programa “Super
Manhã”, na Rádio Jornal:
– Certa vez eu estava no Rio para fazer
uma cobertura na CBF. Rubem Moreira, também estava lá. Estávamos no Centro e
saímos para a CBF. Estranhei que em vez de pegar um táxi, ele preferiu ir a pé.
Queria me mostrar como era conhecido e admirado. Você não imagina, como ele era
parado na rua por pessoas que queriam cumprimentá-lo. E naquela época, a
televisão não vivia mostrando a cara dos dirigentes, com tanta frequência, como
agora.
VICE-REI
Com a candidatura de João Havelange,
então vice-presidente da antiga CBD, para substituir, em 1958, o presidente
Sylvio Pacheco, que o apoiava, Rubem se tornou uma das figuras mais ligadas ao
futuro cartola-mor. A influência junto aos seus pares da Região levou-o a ser
chamado pela mídia do Centro-Sul de o “vice-rei do Nordeste”. Terminou Havelange criando o cargo de
vice-presidente da CBF para Assuntos do Nordeste, especialmente para ele.
A cada
eleição, Rubem batalhava acirradamente, viajando aos Estados ou
realizando reuniões no Recife, visando à continuidade no poder do grupo no qual
estava inserido. Aqui, acolá, um cartola nordestino era convidado a acompanhar
JH em viagens ao exterior, integrando a delegação da Seleção Brasileira.
A recompensa veio com a indicação de
Pernambuco para representar o Brasil no Equador.
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