BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

             AS APLICAÇÕES DE JACOZINHO NO OVERLAPPING

 



Lembram-se de quando Jacozinho defendeu o Santa Cruz, no fim dos anos 80? Falo daquele ponta-esquerda sergipano, revelado nacionalmente pelo CSA, de jeito muito engraçado. O criativo repórter Márcio Canuto, que até pouco tempo militou na Rede Globo, ficava forçando, em tom de gozação, sua entrada na Seleção Brasileira. Com isso, Jacozinho ficou conhecido no Brasil, de ponta a ponta. Isso surgiu num jogo da Seleção Brasileira em Maceió.  Márcio soltou na edição nacional do Globo Esporte, uma entrevista em que o folclórico ponta dizia que por uma questão de justiça a camisa 11 da Canarinha deveria ser sua. Logicamente, ninguém levou a sério.  Nem mesmo o próprio Jacozinho.


Jacozinho e a meninada tricolor (Foto: Arquivo Coral)


Sua maior tirada, arquitetada por Márcio, é claro, foi ter entrado, na marra, sem ser convidado, no jogo dos amigos de Zico. A torcida queria vê-lo, já que estava entre os reservas. Apareceu na cara de pau e pronto. Pois não é que o enxerido do Jacó terminou roubando a cena? Isso mesmo. Poucos minutos depois de pisar o gramado do Maracanã, o baixinho recebeu um passe de Maradona e fez um belo gol. O estádio todo aplaudiu. Foi a consagração. Zico, que não gostou nem um pouco da presença daquele bicão na sua festa, teve que engoli-lo. Todos se divertiram e até mesmo os jogadores estrangeiros que participavam do evento bateram palmas para ele. Durante dias foi só no que se falou.

No Maracanã, com Maradona, após o jogo em que marcou um golaço (Reprodução internet)


Quando defendia o Santa, Jacozinho, que também vestiu em Pernambuco a camisa do Ypiranga de Santa Cruz do Capibaribe, andava num Fusca afolozado e destrambelhado, devagar, quase parando.

– Esse coitado é a minha cara – definia Jacozinho, sempre chegado a uma brincadeira.

E o carro de Jacozinho tinha nome. Chamava-se Maestro.

– É um conserto em cada esquina – dizia o jogador, fazendo trocadilho com a palavra concerto, que significa uma peça musical.       Depois de divertir a torcida do Santa Cruz, Jacozinho foi emprestado ao Nacional de Manaus. Terminado o empréstimo, apresentou-se no Arruda. Na volta, todos queriam saber como tinha sido sua passagem pelo Amazonas. Disse que tinha dado para juntar um dinheirinho, despertando o interesse do capitão do time coral, o volante Zé do Carmo, também chegado a uma brincadeira.

– Mas não jogou dinheiro fora, não foi? – perguntou o capitão da equipe tricolor.

– Não, capita, eu empreguei no overllapping. Jacozinho referia-se ao mercado de capitais, mais especificamente às aplicações no overnight, um verdadeiro chamariz para quem pegava uma grana extra.

Porém, o folclórico ponta esquerda usou um termo adotado na Seleção pelo treinador Cláudio Coutinho para definir a jogada em que o lateral passava em velocidade pelo ponta, para, lá na frente, receber a bola lançada pelo colega. Zé do Carmo, um gozador nato, não perdeu a chance de mexer com o recém-chegado:  

– Mas Jacó, esse negócio de dinheiro no overlapping não dá porque é você soltando o dinheiro aqui e a moçada pegando lá na frente!!!

Em pleno vestiário do Arruda, os jogadores caíram numa sonora gargalhada diante da mistura feita pelo ingênuo Jacozinho, confundindo overlapping com overnight.

Jacó, na capa da revista Placar (Foto: Arquivo Coral)


 

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