SELEÇÃO CACARECO (07)

O BRASIL NÃO RESISTIU À CELESTE



Depois de derrotar o Paraguai, na estreia, o Brasil começou a se preparar para enfrentar o Uruguai. Evidentemente, o triunfo sobre os paraguaios criou um clima não de extrema confiança, mas de esperança quanto aos compromissos futuros, não obstante o respeito que os integrantes da Seleção Cacareco demonstravam ter pela Argentina e pelo Uruguai, com os quais o Brasil disputa a liderança do futebol sul-americano.

Os jornais de Guayaquil passaram a dar uma cobertura mais   intensa   à   nossa   equipe. As entrevistas na televisão, que já existia por lá, e em Pernambuco ainda estava para chegar, eram uma novidade para nossos atletas, menos para os que já tinham atuado no Rio e em São Paulo.

Uma das formações da Seleção Cacareco, que representou o Brasil no Equador. Em pé, Gentil Cardoso (técnico), Edson, Geroldo, Waldemar, Zé Maria, Servílio e Givaldo; agachados, Traçaia, Zé de Melo, Paulo, Geraldo e Elias (Foto: Arquivo do Blog)


O pacato e animado ambiente da Cacareco tinha ficado agitado, como se viu, quando o técnico Gentil Cardoso, achando que o bicho de dez dólares pela vitória sobre os paraguaios era irrisório e instigou seus comandados a recusarem o prêmio. Mas a habilidade e a dureza com que Rubem Moreira agiu no episódio fizeram com que a situação fosse contornada.

LEMBRANDO O MARACANAÇO

Passada a tempestade, veio o jogo contra o Uruguai, em 12 de dezembro. Embora já fizesse quase uma década do fracasso brasileiro diante da Celeste Olímpica, na final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã, o maracanaço era lembrado, como ainda acontece nos tempos atuais. Mas havia alguma confiança, posto que o retrospecto pós-1950 favorecia o Brasil. Depois do trágico 16 de julho de 1950, os dois países haviam se enfrentado seis vezes, com quatro vitórias brasileiras, uma uruguaia e um empate. Vejamos:

BRASIL 4 x 2 URUGUAI, Santiago/Chile, Campeonato Pan-Americano, 16/08/1952

BRASIL 1 x 0 URUGUAI Lima/Peru, Campeonato Sul-Americano, 15/03/1953

BRASIL 0 x 0 URUGUAI, Montevidéu/Uruguai, Campeonato Sul-Americano, 10/02/1956

BRASIL 2 x 0 URUGUAI, Rio de Janeiro/Brasil, Copa do Atlântico, 24/06/1956

BRASIL 2 x 3 URUGUAI, Lima/Peru, Campeonato Sul-Americano, 28/03/1957

BRASIL 3 x 1 UURUGUAI, Buenos Aires/Argentina, Campeonato Sul-Americano, 23/03/1959.

FORÇA TOTAL

Agora, para o Sul-Americano Extra, os uruguaios haviam chegado ao Equador com sua força máxima. A eles pouco interessava que os novos campeões do mundo, vencedores da Copa de 1958, na Suécia, não estivessem sendo representados por seu time principal. Fosse o que fosse, não deixava de ser o Brasil.

Depois da Copa do Mundo de 1950 até então tinha havido quatro edições do Sul-Americano, hoje chamado de Copa América.

Em 1953, em Lima, o Paraguai levantou a taça, tendo o Brasil ficado com o vice-campeonato. O Uruguai foi o terceiro colocado.

Três anos depois, em 1956, o Uruguai bancou a festa, e soube se aproveitar do fato de estar em casa. Deu a volta olímpica, seguido do Chile. Argentinos e brasileiros tiveram que se contentar com o terceiro e o quarto lugar, respectivamente.

Em 1957, a competição foi novamente disputada em Lima. Deu Argentina no alto do pódio, com o Brasil na segunda posição e o Paraguai em terceiro lugar,

A Argentina bisou o feito de Lima ao tornar-se bicampeã em março de 1959 diante de sua torcida, tendo o Brasil como vice e o Paraguai na terceira colocação.

Agora no Equador, a Celeste tinha o propósito de repetir o feito de três anos atrás, no campeonato que havia realizado. Aos companheiros de Sacia, a estrela uruguaia daquele momento, não importava que o campeonato promovido pelo Equador tivesse o caráter amistoso. Eles haviam sido muito criticados porque em gramados argentinos, no primeiro semestre do mesmo ano, 1959, tinham terminado o certame na penúltima colocação, acima apenas da fraca Bolívia e precisavam dar uma resposta à mídia e à sua “hinchada”.

RESISTÊNCIA QUEBRADA

O Brasil resistiu no primeiro tempo à volúpia uruguaia, tendo ido para o vestiário no término do primeiro tempo, com o placar do Estádio Modelo, mostrando um 0 x 0 que refletia o que os times haviam apresentado nos primeiros 45 minutos.

Na volta, a verdade é que a Seleção Cacareco não estava preparada psicologicamente para levar um gol, de saída. Isso aconteceu logo aos 4 minutos, através do ponta-esquerda Escalada.

A equipe brasileira ficou desnorteada. Ao longo da partida, o técnico Gentil Cardoso procurou remediar a situação, colocando sangue novo em campo. O ponta-esquerda Elcy substituiu Geraldo no meio-campo, e Tião entrou em lugar de Traçaia. Mas Sacia acabou com a reação que o Brasil parecia ensaiar, balançando a rede de Waldemar aos 22 e 30 minutos. Resultado final, Brasil 0 x 3 Uruguai, com arbitragem do argentino José Luiz Trataldi.

Brasil: Waldemar; Zequinha, Edson, Clóvis e Givaldo; Biu   e   Geraldo (Elcy); Traçaia (Tião), Zé de   Melo, Paulo e Elias.

Uruguai: Sosa; Mendez e Messias; Grouche, Silveira e Gonzalez; Perez, Vergara, Douksas, Sacia e Escalada.

O mesmo Uruguai, dias depois goleou a Argentina, a então campeã sul-americana, por 5x0, aumentando o favoritismo que lhe era atribuído pelos jornalistas.  Favoritismo, aliás, que se confirmaria, uma vez que   a Celeste Olímpica levaria para Montevidéu a taça em disputa no Equador.

 

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