SELEÇÃO CACARECO (04)

 DE GOZAÇÃO A MASCOTE

 

Rubem Moreira apresenta o símbolo da Seleção Cacareco a Traçaia, Waldemar e Zé Maria (Foto: arquivo do Blog)



Por ter dirigido várias equipes cariocas e possuir residência fixa no Rio, durante a permanência da delegação naquela cidade, o técnico Gentil Cardoso era muito procurado para entrevistas sobre a Cacareco, agora tratada como Seleção Brasileira.

O mesmo acontecia com o felicíssimo e vaidoso Rubem Moreira, que não escondia seu contentamento nas idas à Confederação Brasileira de Desportos para cuidar de algum detalhe final a respeito da viagem ou mesmo tratar de outros assuntos relacionados com o futebol nacional. Rubão, como era tratado no Sudeste, privava da amizade do presidente João Havelange, desde quando este ainda era vice-presidente da CBD, na gestão de Sylvio Pacheco, a quem sucedeu.

Se antes as portas da entidade da Rua da Quitanda começavam a se abrir para o cartola pernambucano, agora, com o amigo no comando, o “vice-rei do Nordeste” entrava sem bater.

Num dos bate-papos com a imprensa, diante da pergunta de um repórter sobre como ele respondia “às críticas da crônica esportiva pernambucana, chamando sua equipe de Seleção Cacareco”, Gentil Cardoso mostrou-se leviano ao fazer esta declaração:

– Isso foi coisa de um cronista, despeitado por não ter feito parte da delegação.

Tratava-se de uma referência ao irreverente Aramis Trindade, que criou o apelido, de acordo com seu espírito brincalhão, mas nunca pelo motivo dado pelo técnico.

Aramis Trindade


BODE CHEIROSO E CACARECO

Cacareco era o nome de um rinoceronte que habitava o zoológico do Rio. Foi emprestado para a festa de inauguração, em 1958, do Parque Zoológico de São Paulo. Caiu nas graças da meninada e sua permanência na Pauliceia foi se esticando. Com a aproximação das eleições gerais, marcadas para 01/10/1959, o dócil Cacareco, na realidade uma fêmea, foi lançado por gozação como ‘candidato’ a uma vaga na Câmara de Vereadores da   capital   paulista.

Pouco tempo antes, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, o Bode Cheiroso, um caprino gigantesco, que perambulava pelas ruas do distrito de Cavaleiro, exalando um odor insuportável, havia sido consagrado pelos eleitores, numa época em que o voto era dado através de uma cédula de papel colocado na urna com o nome do candidato escolhido. 

O pernambucano Bode Cheiroso (Foto: reprodução internet)


Cheiroso recebeu mais de 500 votos, quantidade suficiente para elegê-lo. Virou grea nacional e até apareceu em foto na consagrada revista O Cruzeiro. Foi também tema de música. Em 1960, Luiz Wanderley gravou na Chantecler uma parceria de Elias Soares e M. Fernandes, cujo início dizia:

“Olhe, como é que pode

 Me diga, seu doutor

 O diabo do bode ser vereador

Foi na eleição de Jaboatão

Que o Bode Cheiroso se candidatou

Quando foi na hora da apuração

A maior votação o bode levou”.  

Quanto à eleição em São Paulo, embora às caladas da noite, dois dias antes do pleito, o ‘candidato’ preferencial tenha   sido repentinamente levado de volta para o Rio, Cacareco acabou recebendo 100 mil votos, segundo os jornais da época. Tornou-se, assim, o campeão na votação para a Câmara Municipal na Terra da Garoa. Superou os 540 candidatos de verdade.

MASCOTE OFICIAL

Para se contrapor ao deboche criado com a indicação da Seleção Pernambucana para representar o Brasil, a Seleção Cacareco acolheu o simpático animal africano como seu símbolo. Algo parecido com o que aconteceria muitas décadas mais na frente com o Palmeiras, em relação ao Porco, e com o Flamengo, no que se refere ao Urubu. Ambos adotaram o apelido depreciativo saído da boca de torcedores rivais.

Dessa maneira, na   passagem   pelo Rio, um pequeno rinoceronte de pelúcia, foi entregue à delegação por João Havelange. O fato foi assim noticiado por Jorge Costa, do Jornal do Commercio:

“... Outra coisa interessante é que a CBD vem de oficializar e denominar de ‘Cacareco’ um belíssimo troféu mandado fazer com a figura do famoso rinoceronte.”

A foto de João Havelange passando às mãos de Gentil Cardoso o ‘deboche’ que virou o emblema da equipe foi publicada em vários jornais cariocas.  O Globo deu ênfase ao fato, abrindo esta manchete: “Rinoceronte será símbolo da delegação brasileira.”

(Foto: reprodução internet)

No desfile das equipes na abertura do Campeonato Sul-Americano Extra, em Guayaquil, no Equador, o símbolo da Cacareco era conduzido pelo roupeiro Edmundo Lopes.

Enquanto Rubem Moreira esteve em atividade, o   célebre mascote ocupou um lugar de destaque no seu gabinete, na Federação Pernambucana de Futebol, tão forte passou a ser o seu simbolismo.

Mesmo noutras convocações, a Seleção Pernambucana continuou a ser chamada de Cacareco. Até a equipe juvenil não resistiu, tendo sido denominada de Seleção Cacarequinho.  

 

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