Escalado de surpresa, Geaze abafou, lembrando João Adolfo

 

Geaza, cria de casa, só agora descoberrto pelo povão tricolor (Foto O Gol)


 A situação do goleiro Geaze, no Santa Cruz, faz-me lembrar um caso ocorrido há muito tempo com outro jogador da posição, no futebol pernambucano. Falo de João Adolfo, do Náutico.

Geaze não estava nos planos de Roberto Fernandes para o jogo de sábado, 26 de junho, 0 x 0 com o Volta Redonda, lá na Cidade do Aço, pela Série C do Brasileirão. Gease, o terceiro da posição, foi escalado inesperadamente porque Jordan, o titular, e Marcão, seu reserva, foram impedidos de viajar por terem contraído a Covid-19.  E quem temia pelo destino da Cobra Coral por causa da escalação do quase desconhecido Geaze, cria de casa, que, depois de correr mundo retornou ao ‘lar paterno’ este ano, quebrou o cara. Gease, 26 anos, pegou até pensamento e evitou que os atacantes do Voltaço balançassem a rede do Mais Querido.

 

DURO NA QUEDA

Com João Adolfo, forjado nas equipes básicas do Náutico, aconteceu algo parecido, em 1968, quando o Timbu estreou no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, sucedâneo do antigo Rio São Paulo e protótipo do Campeonato Brasileiro.

O jovem goleiro, irmão do zagueiro e lateral Clóvis (Santa Cruz, Palmeiras, Náutico e Seleção Cacareco), tinha sido campeão baiano no ano anterior pelo Bahia, que levou cinco jogadores alvirrubros por empréstimo. Além dele reforçaram o Esquadrão, Breno (lateral direito), Toinho (lateral esquerdo), Gilson Costa (quarto zagueiro e volante), e China (centroavante). Havia ainda no elenco dirigido por Paulo Amaral, o goleiro Jurandir (ex-Central, ainda no tempo do amadorismo), o volante Ailton, sergipano, ex-América do Recife, e Canhoteiro, ponta esquerda revelado pelo Santa Cruz.

Gilson Costa, Toinho, João Adolfo, China e Breno, alvirrubros campeões pelo Bahia em 1967. Começava a ascensão do goleiro João Adolfo 


De volta ao Náutico, João via o paulista Walter e o cearense Aluísio Linhares revezarem-se na posição. Porém, quando chegou o Robertão, Walter estava ‘baleado’ e fora de cogitações para viajar a São Paulo, onde o Náutico enfrentaria o poderoso Palmeiras, em 28/8/1968, no Parque Antártica, hoje Allianz Parque, debutando na competição nacional.

O técnico Duque consultou o médico do clube, seu amigo e confidente Bráulio Pimentel – os dois também trabalharam juntos no Santa Cruz. O fato me foi contado por dr. Bráulio. Em caso de extrema necessidade, Walter poderia entrar, mas não tinha sentido sacrificá-lo. Duque decidiu escalar João Adolfo, sob este argumento: o Náutico poderia levar uma goleada e para quem estava começando a carreira não queria dizer muito. Já Aluísio, um veterano, ficaria queimado junto à torcida.

Pois bem, João Adolfo foi a sensação do jogo e saiu numa reportagem da então recém-lançada revista Veja, sobre as primeiras revelações do Robertão. O Palmeiras venceu por 1 x 0, gol do argentino Artime em impedimento, conforme mostrou o Jornal da Tarde, da capital paulista, numa foto de meia página. A equipe alvirrubra naquele dia foi esta: João Adolfo; Gena, Ivan Limeira, Newton e Toinho; Jardel (Benedito) e Nilsinho; Ramos, Ladeira, Nino e Lala.

João Adolfo votou para o Recife consagrado, e cadê justificativa para tirá-lo do time? A cada jogo, João mostrava seu valor: Náutico 0x1 Corinthians, Internacional 1x1 Náutico, Grêmio 0x0 Náutico, Náutico 3x1 América-PE (amistoso) e Náutico 1x2 América Mineiro. No encontro seguinte, derrota para o Botafogo por 4 x 2, no Maracanã, já jogou Walter. Mas que João Adolfo foi duro na queda, não se tem a menor dúvida. Passou a ter a confiança da galera, como acontece neste momento com Geaze nas Repúblicas Independentes do Arruda.

 

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