A TURMA DO APITO

 Atacante flagrado em excesso de velocidade


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 Essa história foi extraída do livro No País dos Papangus, de Paulo Rocha Wanderley, que relata a vida na cidade de Bezerros, cidade situada à margem da BR 232, que se limita com Gravatá e Caruaru. O autor discorre sobre jogadores saídos dos times bezerrenses – América, Palmeiras, Ypiranga e Urânio –, que brilharam vestindo as camisas do Náutico, Santa Cruz, Sport, Juventus, Corinthians, Botafogo e Guarani. O mais famoso de todos foi Amaury, um meia armador de grande classe, que durante anos foi titular do Santa e da Seleção Pernambucana. Certa vez esteve para ser vendido ao Vasco da Gama, mas provocou o rompimento da transação, somente para não deixar o Santinha.

Não está no livro, mas quando Amaury começou a ficar famoso, surgiu uma polêmica em torno da naturalidade, tanto dele como de seu irmão Toinho, que também brilhou nas Repúblicas Independentes do Arruda. É que o pessoal de Bonito dizia que Amaury nascera lá e apenas crescera em Bezerros, o que os bezerrenses contestavam. Discussão à parte, voltemos ao futebol de Bezerros propriamente dito. Aqui vai um trecho do capítulo do livro em que Paulo Rocha refere-se a um caso envolvendo um personagem de sua vivência:

            “O América enfrentou fortes equipes da Capital e da Região, e dificilmente perdia uma disputa, mesmo no terreno do adversário. Como não há invencibilidade que não acabe, certo dia foi jogar contra a seleção de Vitória de Santo Antão. O juiz escolhido foi o sisudo e bairrista Manoel Pereira e Silva, carinhosamente conhecido por Né Guaru, um comerciante que não se sentia orgulhoso de ser brasileiro porque sua pátria era Bezerros. Somente Bezerros.

            O jogo, equilibrado, caminhava para um empate, pois nenhuma equipe tinha mostrado talento para superar a defesa adversária. Placar em branco. Faltando cerca de 10 minutos para o fim do jogo, o centroavante de Vitória, rápido como um bólido, apara a bola no peito e sai com ela dominada, alcança a entrada da grande área, infiltra-se entre os dois zagueiros e prepara-se para o arremate final. Perigo de gol. Estático, sentindo a derrota do América, o árbitro Né Guaru não hesita e aciona o apito.

            - Priiiiiiiiiiiiiiiiiiu!

            O crioulo para. Coloca as mãos na cintura, quase não acreditando na cena, e pergunta:

            - O que houve, “seu juiz”?

            Né Guaru, quase sem explicação, resolve falar:        

            - Excesso de velocidade!

            Guardou o apito. O jogo foi encerrado e o América não perdeu. Continuou invicto. Por muito tempo. E Né Guaru perdeu a invencibilidade. Apanhou da torcida e entrou na mala de um automóvel para não ser linchado pelos vitorienses”.

 

 

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