TURMA DO APITO

            Esperou sentado


Muita gente defendeu o Vovozinhas, menos Walter Bezerra (Foto: reprodução Globo Esporte)

 Anos 60, bairro de Santo Amaro, no Recife, de onde saíram figuras expressivas no futebol pernambucano. Só para citar alguns: Gena, Lala, Dodó, Vavá, bicampeão do mundo (1958 / 62), Fraga, Rildo, Clóvis, Minuca, Zequinha, o ex-tricolor que integrou a célebre academia palmeirense, reserva do santista Zito na seleção bicampeã mundial em 62, Rogério e muitos outros.

Tempos do Vovozinhas, mais tarde Associação Atlética de Santo Amaro, time do deputado-radialista Alcides Teixeira, um carioca, aqui chegado, procedente de Maceió, a bela capital de Alagoas. Alcides era uma figura carismática que, na política, fazia o gênero populista. Apresentava diariamente um programa de rádio de grande audiência, dedicado às avós – era o Programa das Vovozinhas. Daí surgiu a Associação Atlética das Vovozinhas. O dono do time era titular absoluto na ponta esquerda.

Walter Bezerra, que serviu à Polícia Militar de Pernambuco e compôs durante muito tempo o quadro de juízes da FPF, vestia a camisa de goleiro no Vovozinhas. Só fazia mesmo vestir, pois ficava na reserva o tempo todo, sempre esperando uma chance que nunca vinha. Toda semana, o time do deputado realizava um amistoso no campo da TSAP, a Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco, onde nasceu o Íbis. A cada jogo, Walter estava firme no banco, como um reserva obediente. Mas nada de jogar. Extremamente disciplinado, não reclamava o iceberg em que fora metido. E tome gelo!

            Eis que em certa ocasião surgiu a tão ansiada oportunidade. Às vésperas de um amistoso, os outros goleiros se machucaram. Enfim, aproximava-se o seu dia de glória. Todavia, para a decepção do eterno reserva, na última hora um dos ‘enfermos’, mesmo capengando, disse que estava apto. Walter se chateou. Porém, resignado, decidiu continuar no banco, pois havia a promessa de entrar no decorrer da partida.

Bola correndo, o goleiro que entrara, mesmo não recuperado de todo, ia levando o barco. Veio o segundo tempo e nada de Walter ser acionado. Até que em dado momento, o goleiro que estava em ação não aguentou mais. Walter se animou e começou a se preparar para entrar, mas o técnico fez o inacreditável, improvisando um lateral no gol. Walter, perplexo e cabisbaixo, resmungou:

– Não é possível, nem assim eu jogo...

Não esperou que o jogo terminasse. Trocou de roupa, indignado, e se mandou. Sua rápida carreira como jogador terminara ali.

 

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