BOLA, TRAVO & CANELA / Lenivaldo Aragão

EM PERNAMBUCO, VAR À MODA ANTIGA


(Foto: reprodução Bella Mais-Correio do Povo) 

 


Está no livro Futebol em Pernambuco, de Givanildo Alves, esta história bastante curiosa, que enriquece o vasto folclore existente em torno do futebol pernambucano, notadamente do Clássico das Multidões:

            “No Campeonato de 1930, um fato dos mais pitorescos e que revela a imaturidade em que vivia ainda nosso futebol, aconteceu na partida entre Santa Cruz e Sport, no dia 13 de julho, no campo da Avenida Malaquias.

            O Tricolor perdia de 1a0, quando faltavam pouco menos de cinco minutos para terminar o encontro. Desesperado, todo o time vai ao ataque em busca do gol. Júlio Fernandes estira um passe a Lauro, que entra na área do Sport e passa a bola a Carlos. O atacante desfere um chute violentíssimo, que o goleiro Sílvio, do Sport, não pôde deter. A bola entrou no ângulo, tocando no varão de ferro, que estava fora do lugar, saindo por um rasgão da rede, no lado direito. Estabeleceu-se a confusão.

            “Foi gol!”

            “Não foi” – responderam os jogadores do Sport.

            “Foi gol, sim,” – gritam os tricolores.

            O juiz, indeciso, vacila. Os jogadores o cercam.

“Sinceramente, não vi se foi gol” – responde Antonio Gaeta.

Os capitães pedem uma providência, uma decisão. Gaeta põe a bola debaixo do braço e se dirige a um garoto que estava sentado atrás do gol. Aos jogadores, disse:

            “Vou invocar o testemunho de uma criança, um inocente, que não tem necessidade de mentir.”

            “A bola não entrou, seu juiz, eu vi, juro...”

            Os tricolores não se conformaram, mas os rubro-negros exultam, achando que o garoto tinha razão. Nas gerais, as opiniões também se dividem. A torcida do Santa Cruz diz que foi gol, e a do Sport protesta.

            Nervoso, e já agora xingado pelos jogadores, Gaeta pega a bola, todo mundo atrás dele, e se dirige a passos firmes a um guarda-civil.

            “Bem, aqui está um policial, um homem da lei. Ele vai decidir.”

            “A bola entrou” – disse o sisudo policial, que não perdia um jogo do Santa Cruz.

            Os jogadores do Sport não concordam e começam a pressionar Gaeta. Não tendo mais para quem apelar, o confuso árbitro chama os jogadores para o centro do campo.

            “Bem, vou tomar a última decisão. Vou fazer um sorteio, Num pedaço de papel, boto: foi gol; noutro, não foi.”

            Nem os jogadores do Sport nem os do Santa Cruz concordaram com aquela esdrúxula e esquisita solução. Os diretores dos dois clubes entraram em campo e determinaram a retirada dos seus times.

            Dois dias depois, o Conselho Técnico resolve anular a partida, marcando outra para a semana seguinte. O Santa Cruz ganhou de 3x2”.

 

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