“O SANTA CRUZ SEM JOÃO CAIXERO É MANCO”

 Por José Neves Cabral-Jornalista



 Anos 90, como setorista do Santa Cruz para o JC, eu sempre comparecia ao Arruda nas segundas-feiras, dia seguinte aos jogos de domingo, para conferir a reapresentação dos jogadores. Além da presença dos atletas, chamava minha atenção a costumeira presença de João Caixero e do eletricista Lima, circulando pelas arquibancadas e dependências internas do estádio, verificando luzes quebradas, vasos sanitários, torneiras e outros equipamentos.

Após conversar com técnico e jogadores, lá ia eu em busca de João Caixero para fazer o balanço do prejuízo. Das conversas surgiu uma amizade e depois o convite para participar do livro Santa Cruz de Corpo e Alma, ao lado de alguns jornalistas do primeiro time da nossa crônica esportiva, como Lenivaldo Aragão e Claudemir Gomes, além do chargista Humberto Araújo e do diagramador Deudedith. Foram quase 20 anos de pesquisas e entrevistas até a finalização da obra em 2015. Um período muito rico pra mim, pontuado por reuniões e algumas brigas com João Caixero.

Nós queríamos reduzir as entrevistas e criar um padrão para facilitar a diagramação. Ele não aceitava. Mas sempre terminava tudo em paz com um almoço após as longas discussões.

Joca, como era conhecido, chegou ao Arruda muito jovem, saindo da adolescência, pelas mãos de Aristófanes de Andrade. E exerceu quase todas as funções de diretoria no clube. E dedicou-se à Comissão Patrimonial por entender a importância desse órgão na manutenção do Estádio José do Rego Maciel.

Há cerca de dois meses, nos recebeu em sua casa, em Olinda. Estava ao lado de Humberto e Claudemir. Como sempre, expressou sua preocupação com os destinos do clube. A mudança no Estatuto que unificou as presidências Executiva e da Comissão Patrimonial. Ele sempre defendeu a separação desses dois poderes por entender que o caixa da CP era intocável e deveria ser usado exclusivamente para a manutenção do Estádio, que ele tão bem procurou zelar durante mais de meio século, além de ainda ter a iniciativa de construir outros centros de treinamento, como o da Estrada da Mumbeca.

Com a morte de João Caixeiro, o Arruda fica órfão de um protetor, de alguém que cuide com amor para que o estádio permaneça de pé. Certa vez, numa conversa com o ex-presidente Edelson Barbosa, ouvi a seguinte frase: “O Santa Cruz sem João Caixero é manco.”

Nesta sexta-feira, 7 de janeiro, tenho certeza disso.

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