ALÔ, ALÔ SAUDADE – Coluna do jornalista PAULO MORAES

 Uma maratona da Rua da Palma ao Alçapão do Arruda 



Voltei pra rever os amigos e amigas e contar-lhes a nova série da primeira vez que conheci os Estádios. Em 1960 entrei em contato com os Aflitos.  Vim de Caruaru pra ver Náutico e Santa Cruz, no dia 11 de dezembro, um domingo. Era o primeiro jogo da decisão do Campeonato Pernambucano daquele ano. Vi da arquibancada do lado da Rua da Angustura, local do portão principal de acesso ao estádio, os Aflitos, numa tarde de sol. Com um gol do ponta-direita Tião, o Náutico derrotou meu Santa Cruz por um a zero. Agostinho era o goleiro tricolor. Deixou a bola passar, depois que ela ultrapassou uma barreira mal formada. O juiz carioca Alberto da Gama Malcher apitou a partida. O Náutico também venceu na quarta à noite por dois a um e sagrou-se campeão.

Foi naquele domingo que conheci também o ônibus elétrico, meio de transporte coletivo, na época. A saída foi na Avenida Guararapes, acredito que de frente dos Correios. Passamos primeiro pela ponte Duarte Coelho, com os olhos aguçados no imponente e vistoso querido e amado Rio Capibaribe. E, depois, por lindas casas nos bairros do Espinheiro e dos Aflitos – quase não havia edifícios fora do centro da cidade. Estava em companhia do irmão Lenildo.
   Agora, a Ilha do Retiro.19 de janeiro de 1964. É de novo um domingo. O Recife futebolístico deixa de lado a calmaria da cidade e se volta para o primeiro jogo da decisão do Campeonato Pernambucano de 1963. Antigamente era assim. Muitas vezes a competição começava num ano e só acabava no outro. Por quê? Sei lá. Talvez porque os dirigentes eram falhos na elaboração do calendário da bola.
   Estava tranquilo, depois do almoço na casa de número 716, da Rua Visconde de Inhaúma, em Caruaru, onde morava. Era comecinho de tarde, via o tempo passar, à espera do barulho dos locutores esportivos, no inesquecível rádio Telefunken. Foi quando apareceu um tio, de nome João (Moraes), com o convite inesperado. Ir ao Recife assistir Sport e Náutico, no tal primeiro jogo da decisão.
Tio João só passaria pelo Recife, com destino a Fortaleza, onde residia. Ele estava com os filhos pequenos, ainda, vindo de uma visita a nossa terra natal, Santa Cruz do Capibaribe. Não sei quem foi mais imprudente, se ele, meu pai Abner ou eu, no caminho dos meus 18 anos, a fazer essa viagem louca e inesperada. Talvez eu que, apaixonado por futebol, concordei com a aventura.
E embarquei no banco de trás de um jeep Willys 51.
   A viagem foi tranquila. O tio deixou-me na frente da Ilha. Foi a primeira vez que fiquei sozinho na cidade grande, mas na certeza de que me juntaria ao irmão Lenivaldo, depois do jogo. Lenivaldo estava no campo, trabalhando. Eu vi da antiga geral, hoje arquibancada, o Náutico vencer o Sport por três a dois. Os gola da vitória foram de China (2) e Rinaldo. Não lembro como foi, sei que nos encontramos, eu e Lenivaldo, depois do jogo. À noite, estava a olhar, de forma deslumbrante, as vitrines da Rua Nova, costume da época. Na segunda-feira, logo cedinho, estava de volta a Caruaru, num ônibus da Rodoviária Caruaruense, a tempo de cumprir meu expediente de trabalhador nas Casas Pessoa Filho, uma loja de tecidos. Era o fim da aventura. Foi um final feliz, depois de conhecer a Ilha do Retiro.
   O Náutico ganhou o segundo jogo por 4 a 2 e levou a taça. Ninguém imaginaria que seria o primeiro título do tão decantado e inédito hexa alvirrubro.
   No mesmo ano de 1964, já morador do Recife, conheci o Arruda, ainda chamado de Alçapão e que viraria Mundão, anos depois. Foi num treino de um dia de semana, à tarde. Duas lembranças desse histórico dia: fui a pé da Rua da Palma, onde me escondia, ao Arruda; e conheci, embaixo da arquibancada de madeira, o na época torcedor Rodolfo Aguiar, que nos anos 70 se transformaria num dos maiores dirigentes do clube. Eu não era jornalista ainda. Depois, vi no Colosso, glórias e mais glórias do meu tricolor.
   A história foi longa. Mas contei exatamente como aconteceu. Amigos e amigas, na próxima edição, o Pacaembu, o Maracanã e outros. Até lá, então! 

 

Comentários

  1. Nos anos 60, era comum ir a pé aos estádios. Saia de casa no Prado, com um grupo de amigos e íamos andando para os Aflitos, para a Ilha do Retiro, bem pertinho, e pro Arruda. Ainda tinha uma cervejinha no meio do caminho na ida e na volta (pra comemorar ou esquecer, dependendo do resultado).
    Marcio Maia

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