ALÔ, ALÔ, SAUDADE – Crônica do jornalista PAULO MORAES

Percorrendo os antigos salões no passo do frevo

 

Clube Português do Recife sob o domínio do frevo (Foto: João Alberto Blog)


 E chegou o Carnaval. Que Carnaval? O de clubes, o dos clubes esportivos, que vivi. Vou recordá-los. Esse meu passeio , representando o Rei Momo , começa por Caruaru, pelo Comércio Futebol Clube. Na bola, o clube do Rosário Novo era bom. Rival do Central e do Vera Cruz. Eles é que não eram rivais no salão. O Comércio reinava sozinho.

   Dos pés à cabeça, o alvirrubro dava as cartas. Grandes manhãs de sol, bailes gigantescos que alegravam a sociedade da terra que nos anos 50, 60 não era ainda a Capital do Forró. Dava gosto botar os pés, não na bola, e sim nos salões da majestosa sede do Comércio do saudoso presidente Valter Lira, que já nos deixou. Um exemplo de administrador. Caruaru, Comércio de belos e incansáveis carnavais.

   Pego o trem, passo pela, na época, perigosa Serra das Russas , vou danado em busca de novas folias nos clubes esportivos. A primeira parada é no Clube Internacional do Recife. Alguém há de perguntar: “Mas o Internacional não era clube social, de grandes festas?” Era. Mas foi de remo e hóquei também. Portanto, faz parte do meu roteiro de grandes bailes carnavalescos. Ao lado se estabelece o glorioso Sport Club do Recife. Este, sim, gigante pela própria natureza nos gramados. Até campeão do Brasil já foi. Gigante também na sua monumental sede da Ilha. Suas manhãs de sol foram um sucesso. Merecem elogios ainda as festas da noite, nos dias de carnaval.
   Saio da Avenida Abdias de Carvalho e vou ao encontro da Rosa e Silva. É lá que me deparo com o Clube Português, o bamba do hóquei. E maior rival do Internacional na parte social. Seus bailes, nota mil. Ando mais um pouco e peço passagem para entrar no Clube Náutico Capibaribe. No campo, juntinho da sede, ainda ecoa o grito de hexa, hexa na bola, hexa nas defesas de Lula Monstrinho, na classe de Gena, na valentia de Clóvis, nas arrancadas de Salomão, nos lançamentos de Ivan , nos dribles de Nado, nos gols de Bita. No salão, não confundir com futebol de salão, o Náutico foi tantas vezes
hexacampeão, que não se sabe o número total dessas conquistas. Eita bailes e manhãs de sol maravilhosos. Vou um pouco adiante e aparece-me o América, o Alviverde da Estrada do Arraial. Foi um craque no gramado, nos anos 20 e 40. De 1944 pra cá, nada mais. Mas abriu sua sede por muito tempo para vitoriosos bailes. O América foi muito simpático, tanto que ostentou por décadas o título de o segundo time dos pernambucanos. E o primeiro? Santa Cruz, Náutico e Sport, não nessa ordem, obrigatoriamente. Era o segundo dos pernambucanos no Carnaval? Não sei.
   Sei que apanho o bonde e vou pedir licença para ultrapassar os portões da sede do meu querido Santa Cruz. Não a sede atual. Mas da antiga casa tricolor, que ficava metros acima , mas do lado esquerdo, esquina com a Rua Bolívar. Eram bailes e manhãs de sol, mais modestos. Mas frequentados por multidões. As mesmas multidões que, unidas, carregaram muitos e muitos troféus no Estádio José do Rego Maciel Mundão do Arruda. Santa, campeão querido no campo e nos salões.
   O carnaval de clubes já não existe. E neste 2022,  na rua também, está ausente. Fiquemos em casa a ouvir às músicas da saudade. E os hinos dos clubes. Feliz folga, amigos e amigas, do frevo, do arrastar dos pés nas amadas ruas do Recife, de Olinda e de todo o nosso Estado. Na próxima edição, aí sim, conto como foi minha odisseia pelos estádios do Sul e Sudeste deste país. Até lá, gente boa! 

 

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