Rubem Salim reage a esporro em dois idiomas
Futebol Clube do Porto em 1970. Em pé, Rui, Rolando, Valdemar, Sucena, Nunes e Gualter; agachados, Pavão, Rubem Salim, Seninho, Custódio Pinto e Nóbrega (Foto: reprodução internet) |
O
paulista Rubem Salim, na verdade Rubem dos Santos, que fincou raízes em Pernambuco, defendeu cinco
equipes pernambucanas: Santa Cruz, Náutico, Sport, América e Santo Amaro. (Jogou
ainda pelo Noroeste e São Bento-SP; Fortaleza e Maguary-CE, Campinense-PB e CRB-AL
e Porto-POR). Ficou mesmo identificado com a torcida do Tricolor do Arruda,
clube ao qual permanece ligado, atuando como treinador nas divisões de base.
Quando
jogava pelo Santa Cruz apaixonou-se por Betinha, hoje odontóloga. Na época,
Betinha integrava a equipe de basquete do Santinha. Casaram-se e até hoje vivem
uma maravilhosa união, morando perto da Cobra Coral. Antes de se tornar
profissional no futebol, Salim, nascido em São José do Rio Preto-SP, fazia
parte de um conjunto musical. Mas terminou sendo seduzido pela bola. Como
aconteceu com muitos jogadores do futebol pernambucano de seu tempo, passou
pelo futebol português. Vestiu a camisa do Porto, um dos três grandes de
Portugal.
Sem
falar patavina de português, o novo técnico do Porto tratou de se garantir,
levando um intérprete a tiracolo. Tratava-se de um irlandês, como ele, mas que
dominava a língua de Camões. Os dois se entendiam, e muito bem. As
instruções eram dadas, portanto, em dois tempos. O técnico conversava com seu
auxiliar, mostrando-lhe como determinado jogador deveria proceder, e o ajudante
dava o recado ao destinatário.
Depois de um jogo em que Rubem Salim não teve
uma boa atuação, o treinador aguardou a primeira oportunidade para procurar
corrigi-lo, a fim de que na partida seguinte os erros não fossem repetidos. Transmitiu
a advertência ao tradutor e este tratou de passar o bizu para Salim.
Tomi sempre instruía seu auxiliar aos gritos.
Era a maneira não muito cortês de mandar sua mensagem, que chegava aos ouvidos
dos jogadores, através do intérprete, como vimos. Naquele dia, o técnico
precisava dizer alguma coisa a Salim. Falava com uma certa agitação, na voz e
nos gestos. O tradutor escutava e dirigia-se ao jogador, em português bem claro,
fazendo chegar aos seus ouvidos o que acabava de escutar. Cumpria sua missão ao
pé da letra, na base do berro e da gesticulação, pois era assim que Tomi Docki
a ele se dirigia, chamando a atenção até de quem estava longe. Salim não
gostou:
–
Vamos devagar, amigo. Não precisa esse carnaval todo, venha com mais calma. É
só explicar calmamente o que o homem está dizendo, que eu entendo. Já levei um
esporro em inglês sem entender nada e você agora me dá outro em português? Que
o técnico grite, tudo bem, mas de você eu não aceito grito não.
. O intérprete tomou um
susto, talvez por não esperar tamanha ousadia, mas abrandou o tom da voz e
passou a falar baixinho. Como Salim queria.
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