A esperteza de Pitota, o craque proibido
Alcindo Wanderley começou a aparecer
para o futebol em 1910, em Olinda. No ano seguinte teve um braço quebrado e foi
proibido de jogar. Seu pai, um advogado de conceito, queria vê-lo longe da
bola. Assim, o candidato a craque passou uma época afastado dos campos. Mas não
resistiu. Logo, às escondidas, estava defendendo uma equipe chamada Tamoio.
Certa
vez foi assistir a um jogo entre o Olinda e o Pernambuco, filiados à Liga
Pernambucana, entidade que teve vida efêmera. Faltou um jogador no Olinda e aquele
adolescente, muito conhecido por seus dotes com a bola nos pés, foi chamado para
completar o time. Não se fez de rogado. Como sempre, deu um show de bola.
Passou a integrar o segundo quadro do Olinda. Tudo isso sem o pai saber.
A família transferiu-se de Olinda
para o Recife. Alcindo matriculou-se no Colégio Americano Batista e foi
aproveitado pelo 15 de Novembro, time formado por alunos do educandário, onde
estudava boa parte dos adolescentes que haviam fundado o Santa
Cruz, em 3 de fevereiro de 1914. Juntou-se a eles.
Em
25 de junho, o jovem Alcindo entrava no Santa, como sócio atleta. Além do Tricolor,
mais de uma vez formou no selecionado estadual. Com a camisa de Pernambuco
enfrentou uma equipe inglesa e o América do Rio, na primeira temporada de um
time de outro Estado no Recife. Participou da excursão do Santa Cruz a Natal,
na primeira exibição de uma equipe de fora na capital do Rio Grande do Norte.
No
Santa foi também diretor, tendo representado seu clube na reunião de fundação
da Liga Sportiva Pernambucana, mais tarde Federação Pernambucana de Desportos e
hoje Federação Pernambucana de Futebol.
Já foi dito que o pai do
craque não queria vê-lo jogando bola. Pois é, muitas vezes aquele compenetrado
cavalheiro estava chegando em casa, em Olinda, depois de um dia de serviço, e obrigatoriamente
passava ao lado do campo em que a pelada corria solta. E o filho no meio. Logo,
formava-se uma roda de jogadores em torno dele. Era uma espécie de muro
protetor. Assim, o impetuoso atacante escapava de ser repreendido pelo pai e
obrigado a deixar o jogo, o que seria um enorme castigo. Por ser de pequena
estatura foi apelidado de Pitota. E por medida de segurança só era tratado pelo
apelido, jamais pelo nome.
O pai ouvia e lia muitos comentários
em torno de um tal de Pitota, que andava engolindo a bola nos campos olindenses.
Só não sabia de quem se tratava. Somente depois de um bom tempo é que o famoso
advogado veio a saber que o Pitota tão falado era simplesmente seu filho
Alcindo, aquele que um dia fora proibido de jogar futebol. Achou curiosa e engraçada
a farsa. Chegou à conclusão de que não tinha mais como fazer valer sua austeridade
perante o filho em relação ao jogo da bola. Entregou os pontos e deixou pra lá.
E o futebol foi quem lucrou.
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