ALÔ, ALÔ, SAUDADE-Crônica de PAULO MORAES

 Os pontas


Nado começou como meia, mas estourou como ponta-direita

       Acordo, é fim de madrugada, o sono foi embora, coisa de quem já está com mais de 70 anos. O sono diz que volta mais tarde e manda-me um recado: fale do 7 que pintava o 7 no João, o 6. Vamos nessa , então. Quase às 6 da manhã...

    "Vem cá, João. Vem cá pra ajudar-me no meu show". João, assim era chamado qualquer marcador de Garrincha, o mais famoso camisa 7 do futebol mundial de todos tempos. Essa invenção não foi sua, disse certa vez ele. E quem foi o criador dessa figura emblemática? Não se sabe. Mas se ela existiu é porque havia um 7 endiabrado por aí. Na minha saudade, vou historiar três deles que vi por aqui  em terras, ou melhor, em gramados recifenses. Nomes deles: Nado, Elói e Cuíca.
   Começo a dinastia da camisa 7  por Nado. Não é por nada, é porque foi o primeiro a surgir no palco da bola, entre o trio, para deslumbrar no seu show nas tardes de domingo e noites de quarta. Eles eram de pequenas estaturas e de nomes com poucas letras.
   Na pia batismal, Rinaldo. No campo, só Nado. Pois bem, esse olindense, que deu seus primeiros passos  no futebol, na meia, quando foi ser juvenil do Náutico, virou ponta-direita, com o sete nas costas . Sua missão: driblar, driblar e deixar maluco o lateral esquerdo, seu marcador. E depois, cruzar, cruzar para o goleador se consagrar. Quis o destino  que o goleador fosse mais que amigo e companheiro de ataque, fosse seu irmão Bita, um atirador tão certeiro contra as metas adversárias, que um dia o jornalista, hoje já morador na redação do céu, Aramis Trindade,  o chamou de "O homem do Rifle". Mas, nada de Bita. E sim, de Nado. Era veloz, hábil driblador,  nas corridas. E em seguida, exímio cruzador para quem viesse de trás emendar para o gol, de preferência o 8 Bita. Eita ponta danado, aquele Nado de 1,65 de altura e de futebol nota 7, embora merecesse mesmo um 10, com a aprovação dos seus professores da arquibancada. E quem eram os joãos de Nado? Todos que resolveram ser o 6 no encalço daquele 7. "Desce pela direita, Nado dribla, dribla, dribla. E cruza. Gooooooooool... De quem? Nem sei, sei que quem cruzou foi Nado." Voz de um dos muitos narradores do País afora daquela época do futebol romântico dos anos 60. Nada mais a dizer. Espera aí: salve Nado, um 7 que valeu 1000000 vezes 1000000.
   Agora Elói e Cuíca. Numa frase, o resumo de como foram eles. Foram geniais, honraram a camisa 7, com dribles desconcertantes e cruzamentos geniais. Lá pelos anos 60 e 70. Elói, hoje um corredor contumaz, você foi genial. Cuíca, que no cartório é João, foste genial. Notas para os dois. A mesma concedida ao precursor Nado. Foram iguais na beirada do campo. Qual o titular da 7? Escolha um, é só dar-lhe um 7.

O baixinho Elói com Bita, irmão de Nado

   Amigos e amigas. Vocês são leitores geniais. Bom dia, boa tarde, boa noite. Como diria padre Arlindo, a qualquer hora, lá na majestosa praia de Tamandaré. Até a próxima, oxe, oxe, oxente... Inté! 

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Comentários

  1. Depois de décadas, os treinadores decidiram retornar com os pontas, que sempre foram fundamentais para o sucesso do futebol brasileiro. Para não darem o braço a torcer, confessando que estavam errados, inventaram um tal de "atacante de beirada".
    É pra lascar o juízo do torcedor.

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