O bilhete de mentira fez milagre nos Aflitos
Náutico, campeão de 1989 comandado por Charles. Em pé, Romildo, Lúcio Surubim, Levi, Mauri, Júnior e Muller; agachados, Newton, Erasmo, Bizu, Aroldo e Nivaldo (Arquivo Náutico) |
Estádio dos
Aflitos, domingo à tarde. Precisando da vitória, que significava sua
permanência no Campeonato Brasileiro, o Náutico ia enfrentar o Cruzeiro.
Era o ano de
1991, época em que Falcão dirigia a Seleção. O futebol pernambucano ainda era
conceituado nacionalmente. Falcão havia programado uma visita ao Recife para
ver o Náutico ou o Sport jogar, pois pretendia observar alguns jogadores sobre
os quais havia recebido boas informações. Naquele dia, não só os atletas, mas
os torcedores do Náutico e os jornalistas estavam assanhados diante da
possibilidade de o técnico da Canarinha a qualquer momento aportar no estádio
alvirrubro.
Por causa de
algum imprevisto, o treinador não apareceu, mas a expectativa de sua presença
nos Aflitos ficou no ar e foi bem aproveitada pelo técnico Charles Muniz. O
então treinador do Náutico preparou um plano com o supervisor João Evangelista,
o popular Joca, para incentivar sua rapaziada. Os dois combinaram fazer os
atletas sentirem, na preleção do intervalo, que Falcão estava mesmo vendo o
jogo.
Depois de um
fraco primeiro tempo diante da equipe estrelada de Minas Gerais, os
pernambucanos estavam mais do que nunca ameaçados de desclassificação. Foi
quando plano elaborado por Charles foi
posto em prática. Quando o treinador estava conversando com o elenco, dando as
instruções para o segundo tempo, Joca chegou apressadamente ao vestiário, pediu
licença e entregou ao comandante um papel amassado, com uma informação
fabricada.
O matreiro
Charles, em voz alta, fez que lia a tal mensagem, mas não se esqueceu de dar um
carão – de araque – em Joca, por ter o supervisor atrapalhado sua preleção.
Depois comentou, simulando alguma contrariedade:
– Era melhor Falcão não ter vindo. Logo hoje,
que esse time tá ruinzinho...
Em questão de
segundos, Charles passou a ver os jogadores bem mais animados, se aquecendo com
muito empenho para voltar a campo. Os caras comeram a grama na segunda fase
para mostrar serviço ao treinador da Canarinha, e o Náutico terminou ganhando a
partida por 1 x 0, com um golaço de Augusto, que driblou toda a defesa mineira,
depois de partir com a bola dominada, do meio do campo. O bilhete de mentira
foi a fórmula mágica para o Náutico vencer. Isso é o que se chama doping
psicológico.
Infelizmente, o descompromisso e a falta de cumprimento das táticas e jogadas elaboradas dos atletas brasileiros são coisas bastante antigas. Por conta disso, a motivação durante as preleções é fundamental para o desempenho das equipes em campo. Nosso amigo Charles é um craque nesse aspecto.
ResponderExcluirMárcio Maia.