NÁUTICO

De Joaquim Loureiro a Roberto Fernandes, os técnicos campeões


Duas vezes campeão pelo Náutico, Roberto Fernandes quer mais (Reprodução Folha PE)

No seu primeiro dos 24 títulos de campeão pernambucano, conquistado em 1935, mas equivalente a 1934, o Náutico tinha como técnico o paulista Joaquim Loureiro. O profissionalismo ainda estava sendo implantado por estas bandas, embora muitos jogadores já ganhassem por fora.

O primeiro treinador contratado pelo Alvirrubro tinha sido, em anos anteriores, Umberto Cabelli, um ex-jogador da Seleção Uruguaia. Pelo seu trabalho, principalmente em relação aos atletas jovens, o uruguaio passou a ser idolatrado por dirigentes e torcedores. Foi embora sem dar ao Alvirrubro o almejado título, que vinha sendo perseguido desde 1916. Mais tarde, na volta aos Aflitos, seria ele o responsável pela segunda conquista, em 1939.

DUQUE RECORDISTA

Mais de uma vez o Náutico teve à frente de seu elenco, definitiva ou provisoriamente, um ex-jogador. Foi o caso de Eládio de Barros Carvalho, eterno patrono do clube, Ivanildo, o célebre Espingardinha, Gilberto Carvalho, Schiller Diniz e Alexandre Borges. Numa ou noutra jornada, o Timbu foi dirigido por um preparador físico, promovido em momento inesperado ao posto de treinador, com a saída do titular. Pelo menos uma vez, em 1989, a medida deu o resultado esperado, com o competente e aplicado Charles Muniz. O mesmo Charles, em 1993, também seria campeão pelo Santa Cruz, numa virada “impossível” sobre o próprio Náutico.

Duque, o que mis títulos conquistou (Rerodução)


O recordista em número de conquistas foi o mineiro Davi Ferreira, com quatro títulos na época do hexacampeonato, uma isolada e três seguidas.

Abaixo de Duque, situa-se o pernambucano José Mariano Carneiro Pessoa, o lendário Palmeira, que esteve à frente do Timbu no primeiro tricampeonato, nos anos 50. Poderia ter ido mais longe, se um incidente bizarro não tivesse causado sua saída em plena marcha para o quarto título (Veja a história no fim desta matéria).

O primeiro negro a dirigir e ser campeão pelo time dos Aflitos, quebrando o preconceito que existia no clube. foi o pernambucano criado no Rio de Janeiro Gentil Cardoso, o que aconteceu em 1960.  Na época, o Timbu era presidido por Eládio de Barros Carvalho e tinha um departamento de futebol autônomo, formado  pelo Bloco dos Josés: José Porfírio de Andrade Morais, José Vieira de Morais, José Carlos Dourado, José Lessa e José Cordeiro de Castro

O atual campeão, Roberto Fernandes foi chamado num momento em que o clube não podia esperar. Chegou, viu e venceu. Pela quinta vez assumiu o comando da equipe alvirrubra e conquistou um título que para muitos parecia perdido. Laureado duas vezes no Campeonato Pernambucano, espera chegar à terceira conquista. Pelo Timbu, é claro!

A LISTA DOS CAMPEÕES

1934-Joaquim Loureiro / paulista

1939-Umberto Cabelli / uruguaio

1945-Aurelio Munt / paraguaio

1950-Palmeira-José Mariano Carneiro Pessoa / pernambucano

1951-Palmeira

1952-Palmeira

1954-Sílvio Pirilo / gaúcho

1960-Gentil Cardoso / pernambucano

1963-Alfredo Gonzalez / argentino

1964-Duque (Davi Ferreira) / mineiro

1965-Antoninho / carioca

1966-Duque

1967-Duque

1968-Duque

1974-Orlando Fantoni / mineiro

1984-Ênio Andrade / gaúcho

1985-Mário Juliato / paulista

1989-Charles Muniz / pernambucano

2001-Muricy Ramalho / paulista

2002-Muricy Ramalho

2004-Zé Teodoro / goiano

2018-Roberto Fernandes / pernambucano

2021-Hélio dos Anjos / mineiro

2022-Roberto Fernandes.

O RECORDISTA E TEMPERAMENTAL PALMEIRA

Uma das figuras que mais se destacaram no futebol pernambucano através dos tempos foi José Mariano Carneiro Pessoa, o conhecido Palmeira. Comprido e magro, ganhou o apelido quando defendia, como zagueiro, o Encruzilhada, um time do Campeonato Suburbano com rápida participação na Primeira Divisão. Foi juvenil no Sport e no Santa Cruz, mas logo desistiu de ser jogador, dedicando-se à arbitragem. Depois virou técnico, fazendo também o papel hoje desempenhado pelo supervisor, gerente, chefe de delegação, empresário e preparador físico. Os tempos eram outros, é claro. Aqui abordaremos o Palmeira treinador.

Ele foi recordista de permanência em clubes de Pernambuco. Na primeira vez em que esteve no Santa Cruz reinou três anos e sete meses, ininterruptamente. No Náutico foram quatro anos e 10 meses, e no Sport quatro anos e alguns dias. Seus títulos de campeão pernambucano: Santa Cruz, 1946/47; Náutico, 1950/51/52 (invicto) e participação em 1954, juntamente com Ivanildo Souto da Cunha e Sílvio Pirilo; Sport, 1961/62. Foi ainda campeão baiano, dirigindo o Vitória, tendo comandado também o América-RJ, o América-PE e a Seleção Pernambucana no Campeonato Brasileiro de Seleções.

O grandalhão Palmeira com o Náutico rumo a Paramaribo em 1951. Ao seu lado, em pé, Fausto, Jaminho, Ivanildo, Azulão, Schiller, Genaro, Lula, Dico, Bororó e Djalma; agachados, jornalista Hélio Pinto, o massagista e Alcidésio, Gilberto, Vicente, Fernandinho, Zeca e Sidinho   

“Protegido” pelo conhecido pai de santo recifense Zé da Bola, do Barro, Palmeira não permitia que alguém sentasse ao seu lado quando o jogo começava para não quebrar a corrente. Extremamente desconfiado, em determinadas derrotas levantava logo a suspeita de que algum jogador estava no mondé. Mais de uma vez discutiu com um atleta, em pleno vestiário, mas a turma amenizava a situação.

Tricampeão pelo Náutico em 1950/51/52, em 1954 estava para concretizar a quarta conquista, porém, por causa de uma briga tola na concentração foi dispensado, em cima de um jogo contra o Sport, tendo o capitão do time, Ivanildo, assumido o comando provisoriamente. Mais tarde seria substituído por Sílvio Pirilo, vindo do Rio de Janeiro apenas para confirmar mais um título para o clube da Avenida Conselheiro Rosa e Silva.

Notícia publicada em 3 de novembro de 1954 pelo Diario de Pernambuco sob o título “Técnico se atraca com jogador e é demitido pelo Náutico” dá uma ideia de como agia desregradamente aquele lendário personagem do futebol pernambucano. Dizia a matéria:

“Na manhã de domingo, poucas horas antes do encontro com o Santa Cruz (na realidade, Sport) estavam os alvirrubros, técnico e jogadores, em sua concentração, em Beberibe. Em dado momento, o técnico Palmeira divisou os jogadores Manuelzinho, Djalma e Wilton, que vinham do lado do pomar onde está localizada a concentração. Vinham alegres, e Djalma trazia alguns cajus nas mãos. Ao vê-los, Palmeira se dirigiu aos jogadores, dizendo-lhes que eles bem sabiam que aqueles cajus eram dele, Palmeira, e não podiam ser tirados, pois eram para vender.

Djalma respondeu às palavras do técnico com uma brincadeira, o que irritou mais ainda Palmeira, que, a essa altura avançou para Djalma. O jogador revidou a agressão, travando-se um corpo a corpo, que foi logo encerrado pelos outros jogadores presentes.

Poucos instantes depois, chegava um dos diretores do Náutico, por sinal, o diretor de futebol, a tempo de ainda observar qualquer anormalidade. Procurou inteirar-se do ocorrido e, uma vez a par dos acontecimentos, comunicou-se imediatamente com o presidente Eládio de Barros Carvalho. Como não poderia deixar de ser, o presidente do alvirrubro determinou logo o afastamento de Palmeira e Djalma da concentração e afetou o caso à diretoria do clube, que hoje à noite vai apreciar os acontecimentos”.

O treinador, como já se esperava, recebeu o bilhete azul.

 

 

 

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