HISTÓRIAS DO MUNDO DA BOLA-Lenivaldo Aragão

 Deu bode nos Aflitos



 Hexacampeão pernambucano (1963-68), o Náutico, em 1969, tentava o heptacampeonato. Não chegaria a tanto. Terminaria sendo desbancado pelo Santa Cruz, este iniciando a trajetória que o levaria à conquista do pentacampeonato (1969-73).

A tabela programava um Clássico dos Clássicos, nos Aflitos. Um trio de dirigentes do Sport, que fazia tudo para infernizar a vida do pessoal o Náutico, procurou o repórter Amaury Veloso, do Diário de Pernambuco, mais tarde assessor de imprensa do Leão. Os três queriam que o jornalista os levasse à presença do pai-de-santo Edu, morto em maio de 2011. Edu vangloriava-se de ter dado o Hexa ao Timbu, com seus banhos de sal grosso, de galhos arruda, coisa e tal.

Certo dia, lá se foi Amaury, na época, setorista do DP junto ao Leão, ao Palácio de Iemanjá, em Olinda, com José da Silveira Barros, conhecido por Coca, João Brito e Fernando Samico, todos figuras de proa no departamento de futebol do clube da Ilha do Retiro. Formavam o trio CBF – Coca, Brito e Fernando.

A missão do Sport naquele jogo era espinhosa porque o Náutico fazia cinco anos e três meses que não perdia em seu campo. A última derrota tinha sido em 9 de dezembro de 1963 para o Santa Cruz. Então, era necessário apelar para os poderes sobrenaturais a fim de derrubá-lo naquele domingo, 30 de março de 1969. Foi passado o bizu por Edu, mas o pessoal queria se garantir mais e resolveu, por sugestão de Samico, aprovada pelo pai-de-santo, botar um bode em cena. Da fazenda de Coca foi enviado um caprino para o Recife, o qual ficou sob cuidados de Gaguinho, o zeloso gerente da concentração rubro-negra.

Debaixo de sete capas, eles levaram o quadrúpede para os Aflitos. Pouco antes de as equipes entrarem em campo, Ilo, um ex-centroavante do Sport, jogou o bicho, envolto num pano com as cores alvirrubras, por cima do alambrado para dentro do gramado.

Gritaria de um canto a outro do Estádio Eládio de Barros Carvalho. O animal ficou espantado e começou a correr sem um rumo certo. Alguns  achavam que se tratava de mais uma jogada do técnico Duque, acostumado a apelar para os poderes da macumba, via Pai Edu. Outros, que conheciam de perto o trio CBF, pensavam que tinha partido dos três a tal presepada. Ou seria mesmo um “serviço” do outro lado para anular algum “trabalho” feito por Edu?

A verdade é que o bode se mostrava cada vez mais atarantado. Em vão tentaram pegá-lo. Os fotógrafos perseguiam-no. Até que ele, em toda velocidade, entrou na barra que fica no lado da Rua da Angustura e ficou embaralhado na rede. Mais risos dos torcedores. Deu trabalho, mas conseguiram tirá-lo dali.

 O epílogo dessa história é que a invencibilidade do Náutico em seu campo foi quebrada com um gol contra – o jogo terminou em 1 x 0 - marcado naquela mesma barra por Newton dos Santos, um quarto-zagueiro que tinha sido do Sport e estava estreando pelo Timbu.

Só podia ter sido coisa feita, imaginavam alvirrubros e rubro-negros.

 

Comentários